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Uma geladeira, a origem do incêndio da torre Grenfell de Londres

Até o momento, a tragédia deixou 79 pessoas mortas e desaparecidas. O revestimento externo do edifício não passou pelos testes de segurança

A torre Grenfell Tower em Kensington após o incêndio (Londres).
A torre Grenfell Tower em Kensington após o incêndio (Londres).AFP

A polícia britânica confirmou na sexta-feira, 23 de junho, que o incêndio devastador que arrasou a torre Grenfell de Londres e que deixou 79 mortos e desaparecidos foi acidental: começou em uma geladeira com defeito, como apontava a principal hipótese, e que o revestimento externo do edifício e o isolamento, como também se temia, não cumpriam as normas de segurança, segundo informam a agência Reuters e a BBC. A polícia não descarta apresentar denúncia de homicídio culposo contra as empresas que construíram e reformaram a torre.

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Foi a superintendente Fiona McCormack, da Polícia Metropolitana de Londres (MET, em sua sigla em inglês), que informou as principais conclusões da investigação até o momento, da qual participam 250 especialistas. Em uma declaração à imprensa, informou que o incêndio foi causado pela “explosão de uma geladeira”, que pegou fogo acidentalmente em um dos apartamentos da parte inferior do bloco.

Segundo a reconstrução dos fatos feita recentemente pela mídia britânica, o fogo teve origem no apartamento de Behailu Kebede, no quarto andar (de um total de 24). Na madrugada de quarta-feira, dia 14 de junho, o taxista etíope de 44 anos, que morava há cerca de 15 anos no Reino Unido, bateu na porta de seu vizinho Abdul. “Disse que tínhamos que sair porque havia fogo em seu apartamento. Seu amigo acrescentou que a geladeira tinha explodido, mas os dois pareciam tranquilos”, conta Abdul. Maryann Adam, outra moradora, conseguiu ver um fogo “pequeno” no andar de Kebede. A responsável policial informou hoje que a geladeira era uma Hotpoint FF175BP e que não é um produto que já tenha sido retirado do mercado por algum alerta de segurança. Os fabricantes já foram informados, assim como o Departamento de Política Industrial.

McCormack também declarou que os materiais de isolamento e os painéis de alumínio que o recobriam “não passaram pelos testes de segurança” aos quais foram submetidos. O material isolante, cujo nome não foi especificado, “inflama em poucos minutos”, segundo McCormack, que acrescentou que as investigações continuam agora para analisar como os painéis tinham sido fixados.

A BBC já havia apontado o material instalado há dois anos em uma reforma na fachada como uma das possíveis causas da rápida expansão do fogo. A tese defendida pela emissora de rádio e TV pública é que as folhas de alumínio que revestiam o imóvel após a reforma continham polietileno, facilmente incendiável, em vez do material mineral utilizado em outras remodelações de edifícios por ser menos inflamável.

O interior de um dos apartamentos reduzido a cinzas.

Como parte da investigação, McCormack disse que a Polícia estuda apresentar queixa de homicídio e que foram confiscados documentos e materiais de várias empresas. “Estamos pensando em denúncias criminais, incluindo homicídio, e de segurança e saúde, e estamos analisando neste momento todas as empresas envolvidas na construção e remodelação da torre”, disse a superintendente.

A prioridade continua sendo, no entanto, identificar os mortos. “Não quero que haja vítimas desconhecidas da tragédia”, afirmou a superintendente, que acrescentou: “A realidade é terrível e pode ser que não encontremos ou não consigamos identificar todos os mortos devido ao calor intenso”. Segundo seus cálculos, a perícia forense “talvez não esteja concluída até o fim do ano”.

No prédio, de 120 apartamentos, localizado no bairro de North Kensington, a oeste da capital, moravam cerca de 600 pessoas. O último balanço de vítimas é do dia 19 passado, quando o comandante da política Stuart Cundy admitiu: “Sinto ter de dizer esta manhã que há 79 pessoas que acreditamos que estejam mortas ou desaparecidas e que, lamentavelmente, temos de supor que estão mortas”.

A primeira ministra britânica, Theresa May, informou ontem que o Governo está dando 500 libras (pouco mais de 2.000 reais) em dinheiro a cada um dos adultos que moravam no prédio, valor que não terão de devolver. Os afetados poderão, além disso, morar em apartamentos semelhantes na mesma região, mas nenhum será obrigado a ir a um lugar que não queira. O Governo informou que cerca de 100 edifícios diariamente estão sendo inspecionados no Reino Unido para evitar que tragédias semelhantes se repitam.

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