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A morte ronda Caracas

Estudante de 22 anos foi morto após ser baleado pela polícia em ato de apoio à procuradora-geral

Paramédicos transportam um manifestante opositor ferido.
Paramédicos transportam um manifestante opositor ferido.REUTERS

O assassinato de David José Vallenilla Luis, estudante de enfermagem de 22 anos, foi transmitido ao vivo nesta quinta-feira, dia 22, na Venezuela. Em um vídeo do VivoPlay, um veículo digital independente, são mostrados militares disparando suas armas contra manifestantes de oposição na rodovia Francisco Fajardo, a principal via que liga o oeste com o leste de Caracas. Vallenilla — com rosto parcialmente coberto por um tecido escuro e usando roupas azuis — cai no asfalto depois de ser ferido com vários disparos de balas de borracha no peito.

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O crime ocorreu depois de uma marcha convocada pela coalizão opositora Unidad Democrática para respaldar a procuradora-geral Luisa Ortega Díaz, desertora do regime de Nicolás Maduro. São 75 pessoas mortas e mais de 3.278 prisões arbitrárias no país sul-americano durante 82 dias de protestos contra o Governo.

Antes do assassinato de Vallenilla, também foi morto Fabián Urbina, estudante de publicidade de 17 anos, que, na segunda-feira passada, levou um tiro quando protestava em Caracas. As duas mortes são atribuídas a agentes da Força Armada Nacional Bolivariana (FANB). O general Néstor Revero, ministro do Interior e da Justiça, se eximiu dos crimes ao individualizar as culpas. “O Governo Bolivariano ratifica o compromisso com os Direitos Humanos e com a individualização de responsabilidades diante da lei. A conspiração da direita violenta contra a Venezuela se nutre de sangue desnecessariamente derramado por venezuelanos... As forças que forem responsáveis por crimes serão apresentadas diante da lei”, escreveu Reverol em sua conta do Twitter.

Por esta morte, foi preso Arli Cleiwi Meñendez Terán, sargento da Polícia Aérea venezuelana. Segundo Reverol, dois militares ficaram feridos durante o confronto ocorrido nas proximidades da Base Aérea Francisco de Miranda, conhecida como La Carlota.

Horas antes do assassinato, Maduro tinha exaltado o trabalho dos corpos de segurança do Estado e esclarecido que não são usadas armas de fogo ou balas de borracha contra manifestantes. “A Guarda Nacional e a Polícia Nacional Bolivariana fizeram um esforço heroico e devem continuar fazendo. Sem armas de fogo, sem espingardas de balas de borracha. É proibido. Com água e gás lacrimogênio sim, é permitido. Se houver um único caso, como o que houve, no momento que se detectar será preso e entregue às autoridades, e ordenei uma investigação para ver se por trás não há uma conspiração”, disse em uma coletiva de imprensa exclusiva para a mídia internacional.

O governante, além disso, qualificou a procuradora geral da Venezuela de uma “traidora” que, supostamente, deseja ser candidata política caso haja eleições. “Vejo como uma vulgaridade o extremismo no qual caiu o Ministério Público, trair a mim e a (Hugo) Chávez. É muito triste que no fim do caminho, depois de tanta luta, a pessoa acabe a serviço dos carrascos de nosso povo”, respondeu a um jornalista.

Não é a primeira intimidação contra Ortega Díaz. O regime fez um ataque contra a procuradora depois que ela rejeitou uma sentença do Tribunal Supremo de Justiça (em 30 de março), um tentáculo até agora do Governo de Maduro, que tinha despojado de atribuições a maioria opositora da Assembleia Nacional.

Esta é uma investida que recrudesceu na terça-feira, dia 20 de junho, quando o Supremo aceitou em tempo recorde um julgamento prévio de mérito contra Ortega Díaz apresentado pelo parlamentar chavista Pedro Carreño para destituí-la do cargo.

Entretanto, a Procuradoria continuou denunciando os abusos cometidos durante essa onda de protestos no país. Para investigar a morte de Vallenilla destacou o procurador de número 126 da Região Metropolitana de Caracas. No entanto, soube-se que os especialistas do Ministério Público não puderam entrar na quinta-feira no instituto médico legal de Bello Monte (região leste da capital), onde se examinava o corpo do jovem assassinado, porque supostamente o caso tinha sido assumido pela Procuradoria Militar.

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