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Governo Temer retalia ‘senador traidor’ e estuda ultimato ao PSDB

Chefes da ABIN e do Gabinete de Segurança foram convocados a depor no Senado

Temer e Putin em Moscou.
Temer e Putin em Moscou.Mikhail Svetlov (Getty Images)

Diante de uma derrota, uma retaliação. Temendo um novo revés, um ultimato. É assim que o Governo Michel Temer (PMDB) reagiu à votação da reforma trabalhista na Comissão de Assuntos Sociais do Senado (CAS) do Senado. Dois aliados do senador Hélio José (PMDB-DF) foram demitidos dos cargos para os quais foram indicados no Executivo nesta quarta-feira porque ele votou contra o Governo neste colegiado. Ao mesmo tempo, ministros de Temer e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), tem sinalizado que o PSDB deveria entregar os cargos que possuem na gestão e liberar o espaço para novos aliados. Assim, seria possível tentar compor uma nova base congressual.

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As demissões dos apadrinhados de Hélio José – o diretor de Planejamento da Superintendência do Desenvolvimento do Centro Oeste, Vicente Ferreira, e o superintendente do Patrimônio da União no Distrito Federal, Francisco Nilo – foram assinadas pelo ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha. Foi contra ele que o senador disparou suas principais críticas. Disse que o ministro estava o perseguindo e afirmou que o Governo virou um balcão de negócios. “Esse Governo está podre. Esse Governo corrupto deveria ter vergonha na cara e renunciar”, afirmou o peemedebista. No ano passado, o parlamentar dissera que, se quisesse, poderia indicar até uma “melancia” para a administração federal.

Nesse primeiro momento, apenas Hélio José foi retaliado pela gestão federal. Outros dois senadores que são de partidos aliados de Temer e votaram contra a reforma, Otto Alencar (PSD-BA) e Eduardo Amorim (PSDB-SE), nada sofreram. Alencar diz que não tem cargos no Governo e que, apesar de seu partido ser governista, costuma votar contra as propostas de Temer. Já Amorim, afirma que segue sua agenda regular e que não perdeu nenhum cargo.

Embate com tucanos

Ainda na terça-feira, quando a derrota na CAS ficou configurada, o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Moreira Franco, reclamou que o revés foi originado pelo PSDB, que não entregou os votos que prometeu. É ele quem puxa a fila dos ministros que quer dar um ultimato aos tucanos. “O PSDB diz que tem dúvidas em relação ao governo, mas que está absolutamente compromissado com as reformas. Não foi esse o comportamento político que vimos”, afirmou o ministro.

Na última semana, o diretório nacional do partido decidiu permanecer no Governo e apoiar as reformas. Mas no Congresso Nacional, boa parte de seus filiados tem agido de maneira distinta e já promete barrar a reforma da Previdência na Câmara ou votar a favor de uma acusação contra o presidente, caso seja apresentada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot.

O presidente interino do PSDB, o senador cearense Tasso Jereissati, rebateu as queixas de Franco. Disse que o responsável pela derrota era o próprio Governo porque colocou em sua comitiva de viagem à Rússia dois dos principais articuladores do partido: o ministro da Secretaria de Governo, Antonio Imbassahy (PSDB-BA), e o líder da legenda no Senado, Paulo Bauer (PSDB-SC). “O Governo levou todo mundo para Moscou e esqueceu da votação”, afirmou Jereissati ao jornal Folha de S. Paulo.

Nesta quarta-feira, a Comissão de Constituição e Justiça do Senado fez a leitura do relatório do projeto de reforma trabalhista e chegou a um acordo para que a votação dele ocorra na próxima semana no colegiado e no plenário da Casa. A oposição vai tentar protelar essa votação para agosto, após o recesso parlamentar. A reunião foi marcada por provocações de todos os lados. Os opositores diziam que o Governo estava sem força e pediam que fosse dado espaço para a leitura de relatórios paralelos na próxima semana, enquanto os governistas diziam que teriam a aprovação fácil da matéria. “Se vocês [opositores] acham que podem ganhar na discussão, vamos botar para votar”, disparou o líder do Governo, Romero Jucá (PMDB-RR). O consenso só foi alcançado depois de mais de duas horas de embates.

Derrota em outra comissão

Enquanto os senadores da CCJ debatiam a reforma trabalhista, Temer sofria uma nova derrota em outra comissão, na de Direitos Humanos. Em votação simbólica, os senadores aprovaram dois requerimentos de Randolfe Rodrigues (REDE-AP), um dos líderes da oposição, para convocar o ministro do Gabinete de Segurança Institucional, o general Sérgio Etchegoyen, e o diretor da Agência Brasileira de Inteligência (ABIN), Janér Tesch Hosken Alvarenga. O parlamentar quer indagar os dois sobre a denúncia feita pela revista Veja de que arapongas do Governo estariam investigando o relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal, o ministro Edson Fachin. Os depoimentos do general Etchegoyen e de Alvarenga deverão ocorrer na próxima semana.

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