Uma acusação fundamentada
Se Trump obstruiu o trabalho da justiça há base para sua destituição
A declaração feita esta semana pelo ex-diretor do FBI, James Comey, ao Comitê de Inteligência do Senado, significa uma acusação fundamentada contra Donald Trump e sua tentativa de influenciar a investigação que a agência realizava sobre o tenente-general Michael Flynn – por supostas ligações com a Rússia –, nomeado pelo presidente como conselheiro de Segurança Nacional.
O tom calmo de Comey, incluindo sua recusa a qualificar a atitude de Trump como uma tentativa de obstruir a justiça para que seja o próprio Comitê que avalie se isso realmente aconteceu, contrasta com a resposta furiosa do presidente – através de Twitter, claro – acusando Comey de mentiroso e delator.
Como já acontece desde que chegou à Casa Branca, Trump volta a errar tanto no que deve ser o comportamento de um presidente como em julgar as pessoas apenas em termos de sua lealdade a ele, pouco importando o respeito pela lei. Comey ocupou cargos de responsabilidade nos Governos de dois presidentes; um republicano, George W. Bush, e outro democrata, Barack Obama, ganhando reputação profissional com ambos. Para os senadores, confirmou em seu depoimento que Trump sugeriu que abandonasse a investigação sobre Flynn, algo claramente ilegal. Sua recusa lhe custou o cargo e a acusação presidencial de deslealdade.
Se o Comitê de Inteligência do Senado determinar que Trump obstruiu o trabalho da justiça, estão lançadas as bases legais para a destituição de Trump, que continua empenhado em ocultar o máximo possível e usando todos os meios a verdadeira natureza de suas relações com a Rússia de Vladimir Putin. Como bem disse a ele Comey na última conversa entre os dois, acima da lealdade está a honestidade.