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Duplo atropelamento de uma mulher na China provoca debate sobre a falta de valores

Vítima, que não foi ajudada nem pelos motoristas nem por pedestres, morreu pelas feridas e gerou uma onda de críticas contra o Governo chinês pela “frieza da sociedade”

Uma mulher morre depois de sofrer um duplo atropelamento nas ruas de Zhumadian (China).Vídeo: EL PAIS VIDEO

Um vídeo divulgado na Internet na quarta-feira mostrando o duplo atropelamento de uma mulher nas ruas de Zhumadian, na província chinesa de Henan, provocou uma onda de indignação em uma parte da sociedade do país asiático, segundo publicou o The New York Times.

Durante o incidente, que ocorreu em 21 de abril, é possível observar uma pedestre vestida de branco cruzando uma faixa de pedestre. Pouco depois a mulher para e é atingida por um táxi vermelho que a arrasta vários metros até que cai no chão enquanto várias pessoas observam a cena sem fazer nenhum gesto para parar o tráfego. As imagens mostram como a mulher permanece imóvel até que consegue levantar a cabeça alguns segundos mas, logo em seguida, volta a ficar parada no asfalto. Alguns pedestres a observam, vários atravessam para o outro lado e nenhum motorista parece perceber o atropelamento. Durante alguns segundos, ninguém faz nenhum esforço para socorrê-la até que um SUV cinza passa por cima e arrasta o corpo. A mulher morreu mais tarde como resultado dos ferimentos múltiplos.

O vídeo foi visto mais de 30 milhões de vezes. Na rede social Weibo, equivalente ao Twitter no mundo oriental, foi compartilhado 70.000 vezes e gerou 80.000 comentários. “O problema não é que ocorreu um atropelamento, a discussão é porque as pessoas que foram testemunhas não fizeram nada para ajudar a vítima”, explica ao jornal norte-americano Zhang Xuebing, advogado e ex-professor na Universidade de Direito e Ciências Políticas de Xangai.

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Na China, muitas pessoas têm receio de ajudar outros porque temem que seja um golpe e terminem forçados a pagar uma indenização por lesões que não causaram, como aconteceu com um cidadão de Nanjing que transportou uma mulher ferida ao hospital e acabou tendo que pagar os custos do tratamento. O motivo? Aparentemente, se ele se ocupou de ajudá-la era porque devia ser o responsável pelos danos causados à vítima.

O debate após a morte da mulher duplamente atropelada continua latente, embora a polícia tenha anunciado, depois de uma semana de críticas da opinião pública, que havia identificado os dois motoristas e os familiares da vítima tinham recebido uma indenização, sem deixar claro quem fez o pagamento. Apesar das tentativas do presidente Xi Jinping – desde que chegou ao poder em 2012 – em transformar a moral em uma prioridade na sociedade chinesa através de campanhas políticas, muitos cidadãos acreditam que os esforços são insuficientes. Os comentários sobre este último evento respaldam essa sensação, sublinhando “a frieza da sociedade” e “a falta de empatia com os outros”.

Não é a primeira vez que testemunhas oculares de um evento no país asiático decidem ficar à margem. No ano passado, uma mulher foi sequestrada e enfiada no porta-malas de um carro, enquanto as pessoas que estavam ao redor não fizeram nada para impedir, e outra pessoa acabou esfaqueada em um beco sem que ninguém prestasse assistência.

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