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Netflix não é organização de caridade

Cancelamento das séries ‘Sense8’ e ‘The Get Down’ confirma o que já deveríamos saber

Eneko Ruiz Jiménez
Trailer da segunda temporada de 'Sense 8'.
Trailer da segunda temporada de 'Sense 8'.

Chega de utopias seriéfilas. As pessoas por trás da Netflix não são irmãs de caridade. A plataforma não é nem mesmo um desses canais cujo sucesso se mede em prestígio e boa fé. A Netflix está aqui para lucrar. Sua nova filosofia de cancelamentos simplesmente confirma isso.

Apesar de isso parecer óbvio, para muitos tuiteiros a bolha estourou na semana passada. Primeiro, se depararam com o lógico final de The Get Down. Dias depois veio o inesperado cancelamento de Sense8, que nos deixou em pleno coito interrompido. A Netflix não é mais um amigo. Os lamentos e bufadas não demoraram: sim, trata-se de mais uma emissora sem sentimentos. Malditos!

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É duro que nos deixem no meio do caminho. Todos nós ficamos irritados porque cancelam nossa série favorita. Sense8 era uma porta para a diversidade sexual e cultural, um espaço que dava carta branca à criatividade das irmãs Wachowski, criadoras de Matrix. Por isso é normal que essa falta de respeito provoque dor. Mas tudo isso é um negócio e a Netflix, uma janela não tão diferente das demais. Há alguns dias, seu CEO, Reed Hastings, cobria tudo com doces palavras: “Temos que cancelar para assumir mais riscos”. Mas o resultado é o de sempre.

Ainda que não convença seus seguidores, a decisão tem uma base empresarial lógica: o custo de produção estava muito acima dos lucros, e a série, rodada em 13 países, não tinha o impacto midiático de Stranger Things nem os prêmios de The Crown. Sejamos realistas: seguramente talvez nem fosse assistida por muita gente. Aliás, talvez coubesse perguntarmos àqueles que reclamaram se realmente pagam para usar a plataforma. E a Netflix, mesmo que nunca mostre seus números, aspira chegar mais além da audiência do Twitter. Como demonstrou, por exemplo, ao confirmar duas temporadas de Las Chicas del Cable.

A história ideal nós já conhecíamos. A Netflix concede liberdade e se atreve com histórias que ninguém compra. Isso merece aplausos. Mas não nos enganemos: a empresa norte-americana está aqui para faturar, para dominar tudo. Nunca escondeu que antes de criar a próxima The Wire prefere rodar dezenas de filmes de Adam Sandler, lançar séries de qualidade duvidosa como The Ranch e Fuller House, ou renovar outras como 13 Reasons Why com o simples objetivo de encher os cofres. Não é nada pessoal. Como diz uma expressão banal: isso é o capitalismo.

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