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Navratilova: “Margaret Court é homofóbica e racista”

Atleta responde à tenista mais premiada da história, que nos últimos dias atacou duramente o movimento gay e as crianças transgênero

Alejandro Ciriza
Court posa ante uma placa conmemorativa em Melbourne.
Court posa ante uma placa conmemorativa em Melbourne.FIONA HAMILTON (AFP)

A tenista mais premiada da história (24 títulos individuais do Grand Slam), a australiana Margaret Court, deu início a uma polêmica há alguns dias quando fez um apelo pelo boicote da companhia aérea Qantas porque seu diretor sempre foi um forte defensor do casamento homossexual e porque acredita que existe um lobby gay tentando manipular a mente das crianças. Court também é pastora cristã na cidade australiana de Perth. Imediatamente, em Roland Garros, houve respostas de vários tenistas, principalmente de seus compatriotas, que a cada aparição são indagados sobre o assunto pelos jornalistas: Casey Dellacqua, Nick Kyrgios, Ashleigh Barty, Samantha Stosur, o escocês Andy Murray…

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E também, à distância, outra heroína das raquetes: Martina Navratilova, 18 títulos do Grand Slam, rompida com Court desde os anos noventa quando a pastora de 74 anos criticou abertamente a orientação sexual da norte-americana e disse que ela era um mau exemplo. “Quem sabe esteja na hora de mudar o nome da Margaret Court Arena...”, afirmou Navratilova, a quem se uniu Stosur, ganhadora do Aberto dos EUA de 2011: “No ano que vem talvez seja necessário ver quem quer jogar nessa quadra [inaugurada em 1988 e rebatizada em 2003 em homenagem à lenda] e quem não quer...”.

Court, que já não frequenta o circuito do tênis, à exceção de algumas aparições esporádicas em Melbourne, reagiu com um discurso reacionário em uma rádio cristã (Christian Vision). “O tênis está cheio de lésbicas. Quando eu jogava já havia algumas, mas algumas que mandavam e que levavam as mais jovens a festas e essas coisas...”, disse Court, que não tem nada contra os gays, mas apenas quer “ajudá-los”.

Nesse pronunciamento radiofônico, ela também disparou contra as crianças transgênero –“são obra do diabo”—e atacou o movimento LGBT, que, segundo ela, cria confusão na juventude. “Foi o que Hitler e o comunismo fizeram: eles entram na cabeça das crianças. Há uma conspiração no nosso país e nos países do mundo todo para se enfiar na cabeça das crianças”, disse a ex-tenista, que marcou época na década de sessenta e cujo recorde ainda não foi batido por ninguém. Com 23 títulos de Grand Slam, a norte-americana Serena Williams é a única a poder quebrá-lo.

A australiana, de 74 anos, é pastora cristã e já criticou a norte-americana nos anos 90 por causa de sua orientação sexual

Nesta quinta-feira, Navratilova escreveu uma carta aberta divulgada por meio do Fairfax Media. “Fica claro quem ela é: uma tenista fantástica, mas também uma pessoa racista e homofóbica”. “Sua virulência é que faz com que as pessoas LGBT não tenham igualdade de direitos. Ela procura demonizar as crianças transexuais e os adultos transexuais do mundo inteiro (...) Agora, faz uma ligação entre os LGBT e os nazistas, os comunistas, o diabo. Não está certo. É perigoso. As crianças irão sofrer mais ataques ainda por causa da permanente estigmatização da comunidade LGBT. Muitos cometerão suicídio por causa dessa intolerância e intimidação. Não está certo”, acrescenta Navratilova, 60 anos, que defende mais uma vez uma mudança do nome da quadra de Melbourne Park que homenageia Court e que é a segunda mais importante dali.

O caso ganhou força nos últimos dias. Em Roland Garros, tem crescido o repúdio a Court, que vai ficando cada vez mais isolada. “Suas palavras podem gerar muitos problemas”, observou o número um do mundo, Andy Murray. “Não entendo qual é o problema de duas pessoas que se gostam poderem se casar, sejam homens ou mulheres. Ninguém tem nada a ver com isso. Na minha opinião, todo mundo deveria ter os mesmos direitos”.

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