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Escândalo adia plano da JBS de captar dinheiro em Wall Street

Carne Fraca e as delações atrasaram o plano para que o negócio fosse concluído até junho Sozinho, acordo de leniência recorde anunciado nesta quarta-feira não deve trazer avanços

Instalações da JBS em Paraná
Instalações da JBS em ParanáEFE

A JBS, maior processadora de carne do mundo, está encurralada há dois meses em uma complicada espiral que a obrigou a suspender seus planos de abrir o capital de sua divisão internacional em Wall Street. Com a operação, a empresa esperava levantar 1,5 bilhão de dólares (4,9 bilhões de reais) para financiar sua expansão fora do Brasil. A nova gestão deve decidir o momento de retomar o processo. Os bancos que coordenam a oferta não comentam se houve uma debandada dos investidores devido à série de escândalos, embora gestores de fundos digam que precisam de mais clareza antes de decidir se querem participar da operação. Isso lhes permitirá determinar o valor real dos ativos. Um atraso, acrescentam, representará um novo revés aos esforços da JBS para se tornar uma processadora global.

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Nem mesmo o acerto do pagamento da multa do acordo de leniência nesta quarta — serão 10,3 bilhões de reais com pagamento em 25 anos — deve ser de ajuda imediata. Analistas de investimento ouvidos sob a condição de anonimato dizem que situação segue bastante frágil. "Mesmo que o pagamento da multa seja em 25 anos, é um valor que assusta e a empresa ainda está sendo investigada pela CVM (Comissão de Valores Imobiliários). Lá não tem benevolência, não teria demanda para um IPO (abertura de capital). Ele corre um grande risco de não ser bem sucedido. Esses planos devem ser mesmo adiados", diz um deles.

A subsidiária internacional da JBS está sediada na Holanda. Engloba todos os ativos no exterior, além da unidade de processamento no Brasil. O processo começou em dezembro, com o pedido de registro à agência reguladora do mercado de valores mobiliários dos Estados Unidos. A intenção era que a oferta pública fosse concluída até o final de junho e, assim, ter acesso à liquidez para acelerar sua expansão.

O grupo vende produtos de origem animal com as marcas Swift, Friboi, Seara, Pilgrim’s Pride, Gold Kist Farms, Pierce, 1855, Primo e Beehive. O conglomerado brasileiro tem presença muito forte nos EUA, com uma dezena de centros de produção. A JBS USA é a segunda maior processadora, com vendas anuais de 14 bilhões de dólares (45,4 bilhões de reais) em 2016.

Tudo ia bem até março deste ano, quando estourou o escândalo da carne contaminada. Uma operação da Polícia Federal acusou quase duas dezenas de frigoríficos de várias empresas de várias fraudes, entre elas a de adicionar produtos químicos à carne vencida para melhorar o sabor, cheiro e cor. O assunto correu a imprensa local e no exterior. Uma unidade da JBS especificamente foi acusada de tentar mudar data de validade de embalagens e de ter esquema de corrupção entre frigoríficos e fiscais para acelerar a liberação de produtos.

A investigação não só bloqueou temporariamente parte das suas exportações, mas também chamou a atenção de investidores internacionais. No Brasil, a empresa já era alvo de outras investigações e, temendo ser presos como outros magnatas afetados pela Operação Lava Jato, os irmão Joesley e Wesley Batista decidiram delatar tudo que sabiam e acusar mais de 1.800 políticos de receber propina. Na esteira do escândalo, Joesley Batista teve de renunciar à presidência da J&F Investimentos, a holding familiar que controla a JBS. À diferença da Odebrecht, também implicada nos EUA,  A JBS USA não está envolvida no esquema de corrupção revelado no Brasil.

A BRF, concorrente da JBS e líder mundial na exportação de aves, enfrenta situação semelhante. Também tinha planos de fazer uma oferta inicial de ações na Bolsa de Valores de Londres de sua subsidiária One Foods Holdings, guarda-chuva para todas suas operações internacionais. Agora, a prioridade é recuperar a confiança dos investidores porque sua reputação foi seriamente prejudicada, apesar de negar qualquer irregularidade.

Dois terços das receitas da JBS são gerados com as operações fora do Brasil. O faturamento global da gigante de carnes subiu 12% na comparação anual para 57 bilhões de dólares (184,8 bilhões de reais). Embora o consumidor médio nos EUA não conheça o nome da empresa brasileira, um quarto da carne bovina no país é fornecida pela JBS.

O ritmo de crescimento da empresa antes do escândalo era muito forte, ao ponto de ser quatro vezes maior que o de sua rival Tyson Foods, considerando a média dos últimos três exercícios. A indústria de produtos agrícolas como um todo sofreu retração de cerca de 6%. Com esse desempenho, a JBS estava em uma posição muito favorável. Os recursos da oferta de ações ajudariam a empresa a aliviar o custo da dívida.

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