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Robin Wright: “‘House of Cards’ me ensinou a correr em direção contrária à política”

Netflix estreia a quinta temporada completa da ficção política

Robin Wright e Kevin Spacey na 5° temporada de ‘House of Cards’.
Robin Wright e Kevin Spacey na 5° temporada de ‘House of Cards’.

É um lugar-comum dizer que a arte imita a realidade, mas no caso de House of Cards aconteceu o contrário – outro lugar-comum – e, para o bem e para o mal, a realidade política dos EUA, com a chegada de Donald Trump à Casa Branca, parece ter imitado a televisão. “Filmamos há um ano e, entretanto, mostramos o que está acontecendo”, diz espantada a atriz Robin Wright sobre a série política que protagoniza, cuja quinta temporada estreia agora (na Netflix a partir de terça-feira, 30 de maio).

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A atriz, de 51 anos, não esconde seus temores como intérprete e como norte-americana. Wright interpreta Claire Underwood, esposa do presidente Frank Underwood (Kevin Spacey). Os dois controlam uma Casa Branca corrupta em que seus anseios de poder e sua capacidade de manipulação os transformaram em reis. “Não posso nem imaginar o quão corruptos eles podem vir a ser”, descreve a atriz ao EL PAÍS, sem especificar se fala da série ou da realidade política.

Também produtora executiva da série, Wright viu como seu personagem ganhou importância com o passar das temporadas. “Ela aprendeu com o melhor, com as táticas de seu marido, e agora veremos como, utilizando o mesmo plano, traça o seu caminho para deixar de ser uma observadora estoica”. A nova temporada é a primeira sem seu criador, Beau Willimon, no comando.

Wright aprendeu muito com a fama que House of Cards lhe deu. Quatro vezes indicada por seu papel tanto ao Emmy como ao Globo de Ouro, que ganhou em 2014, soube levar essa relevância pública a questões alheias a sua carreira, como a defesa da mulher e da igualdade de trabalho entre os sexos. “Mesmo trabalho significa mesmo salário”, resume sobre a batalha pública que travou quando descobriu que seu salário era menor do que o de Spacey.

“O bom da fama é para o que você a usa. Cria uma conversa, uma via de comunicação que te permite falar do que é importante. Eu acredito em uma série de ONGs. Trabalho com mulheres no Congo. Acredito que o feminismo não é a exclusão de outros gêneros, mas a inclusão de todos de maneira igualitária. É o que digo: o mesmo trabalho, o mesmo salário. Simples assim. E uma vez que a fama me permite estar aí, é bom deixar a mensagem alta e clara”, explica.

Não existe tensão com Spacey. Muito pelo contrário, nota-se que fala sem problemas de seu colega de elenco. A familiaridade é tal que algumas vezes, após uma tomada, não se dá conta que está diante das câmeras. “Deus abençoe essa amizade”, diz aos risos.

Mas o final da série se aproxima. A julgar por seu discurso, é certo que haverá pelo menos uma sexta temporada de House of Cards. A partir daí, Wright não se pronuncia. “É o problema com as séries que passam do primeiro ano, você tem medo de se reciclar, de regurgitar as mesmas ideias”.

Ela sentirá falta de Claire Underwood, mas seus planos imediatos são outros. No cinema está por estrear Mulher Maravilha e Blade Runner 2049. A televisão serve como campo de treinamento para o que realmente quer fazer: a direção. “Dirigi três ou quatros episódios, já nem me lembro”, diz, após agradecer à equipe da série por sua paciência. Também gostaria de ter mais tempo para viajar sem esperar o descanso entre as temporadas. O que ela tem bem claro é seu desinteresse absoluto pela política. “Não entendo de política e não me interessa. A série me ensinou muito, mas para correr na direção contrária, rumo à Groenlândia se for preciso”, afirma.

O espírito de uma amazona

Jornada dupla. É o que Robin Wright faz atualmente com sua carreira. Enquanto na televisão é Claire Underwood, interpreta no cinema a General Antiope, tia da Mulher Maravilha. "Se for preciso escolher, fico com a amazona", diz bem-humorada, sem esconder sua preferência pelas garotas guerreiras. Como lembra, já teve sua época de "mulheres feridas, esposas machucadas" no começo de sua carreira de modo que está adorando essa mudança. O ruim é a mudança do corpo. Primeiro foi a musculatura que precisou esculpir em suas carnes para estar à altura dos demais em Mulher Maravilha. "E depois perdê-la, caso contrário pareceria uma fisiculturista dentro das roupas justas de Claire", descreve bem-humorada. A questão da forma física chegou a se tornar tão complicada que Robin sugeriu a colocação de mangas em alguns modelos da primeira-dama para esconder os músculos.

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