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O triunfo de CONFIRMADO: Clinton deu as armas químicas a Assad’ e outras notícias falsas

Publicações de 'fake news' nos EUA conseguem milhões de seguidores e rentabilidade econômica

Seguidores de Trump num comício na Pensilvânia para comemorar os 100 dias da sua presidência.
Seguidores de Trump num comício na Pensilvânia para comemorar os 100 dias da sua presidência.CARLO ALLEGRI (REUTERS)

O presidente Donald Trump perguntava no sábado a seus seguidores na Pensilvânia onde tinham ouvido falar pela primeira vez das “notícias falsas”. Em seguida, apontou para si mesmo. Como candidato, Trump utilizou essa expressão para atacar os meios de comunicação que, segundo ele, publicavam informações para prejudicá-lo. Entretanto, o presidente americano também estava apontando um fenômeno real que não ocorre precisamente na redação do jornal The New York Times nem da TV CNN, seus inimigos preferidos. A explosão de páginas da Internet que difundem teorias conspiratórias e conteúdo claramente falso se consolidou nas últimas eleições dos EUA e conseguiu espaço graças a sua rentabilidade econômica.

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A divulgação de notícias falsas se estendeu até tal ponto que a Universidade de Harvard criou um manual para detectá-las. O guia recomenda comprovar a existência do nome do suposto meio de comunicação e considerar como um fator suspeito o uso de maiúsculas nos títulos. Depois do ataque químico cometido há algumas semanas pelo regime sírio contra a população civil, os americanos puderam ler uma dessas notícias falsas: “ALERTA: Agora Sabemos Onde a Síria Obteve o Gás Sarin, CONFIRMADO o envolvimento de Hillary”.

 O site que publicou isso, DonaldTrumpNews.co, é apenas um exemplo. Seus concorrentes são WorldPoliticus.com −onde se pode ler como a ex-conselheira de Segurança Nacional Susan Rice supostamente consultou documentos de inteligência sobre a campanha de Trump − e Whitehouse.news. Este último publicou que o escândalo sobre a possível colaboração entre Trump e o Kremlin, que está sendo investigada pelo FBI, “é uma operação política de Obama”.

 Grandes empresas da internet, como Google e Facebook, uniram-se aos esforços para verificar o conteúdo dessas páginas e denunciar falsidades nas redes sociais. No entanto, um estudo realizado pela Universidade de Stanford a respeito das fake news alerta para um desafio ainda maior: “Quem é o árbitro da verdade?”. A facilidade para difundir informação falsa, amplificada pelo efeito das redes sociais, soma-se à credibilidade que muitos usuários dão a essas notícias, criando uma receita de consequências imprevisíveis.

O desafio que elas representam se agravou ainda mais quando se soube que os ataques cibernéticos russos durante a campanha eleitoral dos EUA se aproveitaram da existência desses sites para difundir informações falsas sobre Hillary Clinton. Um dos veículos que mais conspirações publicaram sobre a democrata foi o Russia Today, cujos executivos foram identificados pelo Escritório do Diretor Nacional de Inteligência dos EUA como sendo muito próximos do aparato de política externa do Kremlin.

 Os EUA já deixaram para trás as especulações sobre a influência dessas notícias na vitória eleitoral de Trump, mas os especialistas alertam que os mesmos sites que se beneficiaram economicamente ao publicar informações falsas sobre a rival dele continuam fazendo isso agora, porque Trump se tornou um aliado na difusão dessas fake news.

Passadas as eleições, as páginas de notícias falsas agora se dedicam à atualidade. O USANewsPost.us publicou que a Geórgia se tornara “o primeiro Estado dos EUA a proibir a cultura muçulmana, num movimento histórico para restaurar os valores ocidentais”. Este é o tipo de título que revela a dificuldade de rastrear notícias que combinam verdade e mentira. Um legislador da Geórgia realmente apresentou um projeto de lei discriminatório que proibiria véus e burkas, mas ele nunca foi aprovado. O mesmo site afirma que Chelsea Clinton está na prisão e que o (inexistente) assassino do juiz Antonin Scalia, morto há mais de um ano por causas naturais, foi detido na fronteira com o México.

 elQuase 40% do conteúdo publicado durante as eleições no Facebook por três sites associados à ultradireita norte-americana era falso, como as duas notícias citadas acima, segundo uma investigação do Buzzfeed. Os sites têm, além disso, um número de seguidores nas redes equiparável ao dos grandes veículos: frente ao 1,6 milhão de seguidores do Politico e os 2,5 milhões da CNN Politics, as páginas Right Wing News e Freedom Daily têm 3,1 milhões e 1,9 milhão de seguidores no Facebook, respectivamente. Ambas estão entre os veículos que mais conteúdo falso publicaram antes das eleições.

 Para responder a elas, os veículos tradicionais, empresas, usuários e instituições como a Universidade Harvard terão que olhar além das suas fronteiras, já que a maior parte das notícias falsas nem sequer é inventada nos EUA. A investigação do Buzzfeed revelou que mais de 140 sites favoráveis ao republicano foram criados antes das eleições numa mesma cidade da Macedônia, a quase 10.000 quilômetros de Washington.

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