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Marcelo Odebrecht confirma financiamento à campanha de ex-presidente do Peru

Empresário entregou três milhões de dólares, em 2011, para apoiar Ollanta Humala

Marcelo Odebrecht testemunha no caso ‘Lava Jato’.
Marcelo Odebrecht testemunha no caso ‘Lava Jato’.MICHELLE O'CONNELL (AFP)
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O empresário brasileiro Marcelo Odebrecht confirmou ter entregue três milhões de dólares ao ex-presidente peruano Ollanta Humala. O dinheiro serviu para financiar sua campanha eleitoral de 2011, na qual foi eleito pelo Partido Nacionalista.

O ex-presidente negou que tivesse recebido financiamento da construtora e assegurou que não entende a motivação do empresário para fazer estas declarações que “não são verdadeiras”. “Se tivesse existido, teríamos declarado”, afirmou para um grupo de jornalistas.

A suposta doação para a campanha de Humala pela construtora está incluída em um texto do Supremo Tribunal Federal do Brasil, no qual o magistrado Edson Fachin transcreve declarações prestadas por Odebrecht. No documento se lê: “Segundo o Ministério Público, afirma o colaborador que o Grupo Odebrecht, a pedido de Antonio Palocci Filho, teria enviado, por meio do Departamento de Operações Estruturadas [a área da Odebrecht encarregada de administrar os subornos], três milhões de dólares ao candidato à Presidência do Peru, Ollanta Humala”.

O documento foi divulgado pelo ex-procurador anticorrupção Ronald Gamarra em sua conta do Twitter. Pouco depois, Gamarra declarou que a revelação “complicaria a situação de Ollanta Humala que, de uma maneira ou de outra, negou a entrega desse dinheiro”.

Cabe relembrar que o fato ficou conhecido originalmente graças a Jorge Barata, ex-representante da Odebrecht no Peru, que declarou isso a um grupo de procuradores que viajaram ao Brasil para interrogá-lo. Segundo afirmou, em meados de 2010 recebeu um telefonema no qual Marcelo Odebrecht lhe mandou fazer uma doação para a campanha de Humala, a pedido do Partido dos Trabalhadores, cujo caixa dois com o gigante brasileiro da construção estava a cargo de Antonio Palocci — conhecido como El italiano — na época ministro da Fazenda. Com as eleições presidenciais em curso, o candidato do Partido Nacionalista precisava de todos os recursos disponíveis para enfrentar figuras como Keiko Fujimori, o agora presidente Pedro Pablo Kuczynski e o ex-presidente Alejandro Toledo.

Pouco depois, sempre de acordo com seu depoimento, Barata recebeu um telefonema de Valdemir Garreta, publicitário brasileiro e sócio de Luis Favre, especialista em comunicação política, que na época assessorava Humala. Ambos se encontraram no hotel Meliá Jardim Europa de São Paulo, onde concordaram que Garreta se encarregaria de receber o dinheiro no Brasil para fazer os pagamentos da campanha em dinheiro. De volta para o Peru, Barata se reuniu com Ollanta Humala e sua esposa Nadine Heredia, em um apartamento no bairro limenho de Miraflores que o candidato presidencial adquiriu quando era solteiro e usado como escritório, para analisar os últimos detalhes da operação.

Depois de um tempo, Barata voltou a receber uma ligação. Era de Nadine Heredia, convocando-o para o escritório de Miraflores. Até então tinha recebido um milhão de dólares, que não eram suficientes para fazer frente aos gastos da eleição. A seu pedido, o executivo se comunicou com o Departamento de Operações Estruturadas e pediu mais dinheiro.

A partir daí, Barata recebeu várias remessas de 300.000 dólares, que se encarregou de entregar pessoalmente a Heredia. Enquanto isso ocorria, Garreta e Favre recebiam quantias semelhantes no Brasil, levadas pontualmente ao Peru. Segundo o ex-representante da construtora, no total em dinheiro somaram-se três milhões de dólares. O fluxo terminou em 5 de junho de 2011, dia em que Humala venceu Keiko Fujimori no segundo turno.

Ao tomar conhecimento das declarações de Marcelo Odebrecht, que ratificam as versões de Jorge Barata, Nadine Heredia se pronunciou. Afirmou que ambas eram falsas e que sua coincidência correspondia a uma estratégia. “Continuamos afirmando que essa entrega de dinheiro não ocorreu”, afirmou, para depois acrescentar: “Tudo que se diz precisa ser provado”.

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