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Estados Unidos e Rússia batem de frente no Conselho de Segurança da ONU

Embaixadora norte-americana na ONU adverte que o país está "preparado para fazer mais coisas" na Síria, para evitar novos ataques com armas químicas

Antonio Gutérres, secretário geral da ONUZENES
Antonio Gutérres, secretário geral da ONUZENESJASON SZENES (EFE)
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Os Estados Unidos voltaram a desafiar a Rússia. A embaixadora norte-americana na ONU, Nikki Haley, advertiu diante do Conselho de Segurança que seu país não permitirá mais mortes por ataques com armas químicas na Síria. Assim, os EUA estão "preparados para fazer mais coisas" para evitá-los. "Esperamos que não seja necessário", acrescentou. As duas potências com poder de veto bateram de frente, passando por cima do pedido de contenção feito horas antes pelo secretário-geral António Guterres.

O responsável máximo pela ONU expressou na sexta-feira, antes da reunião do Conselho de Segurança, sua preocupação com o "risco de uma escalada" no conflito na Síria depois da intervenção militar unilateral dos Estados Unidos. "Faço um apelo a que se contenham, para evitar qualquer ato que possa agravar o sofrimento da população", disse, ao mesmo tempo em que reiterou que os responsáveis pelo ataque químico em Khan Sheikhun devem pagar por seus crimes.

Guterres afirma que a situação na Síria causa uma grande preocupação. O ex-primeiro-ministro português já classificou os ataques com armas químicas na Síria como "crime de guerra" e pediu uma investigação que elimine qualquer dúvida sobre sua autoria. Na sexta-feira, ele pediu ao Conselho de Segurança que exerça sua responsabilidade diante desta crise, e que o faça de uma forma unida.

"A legislação internacional foi ignorada durante muito tempo no conflito sírio", denuncia, recordando aos membros do Conselho de Segurança que eles têm a responsabilidade primordial de servir à paz e à segurança. A solução da crise na Síria, acrescenta, deve passar pelo respeito a todos os padrões internacionais de direitos humanos.

Guterres assinala, também, que os eventos dos últimos dias realçam a necessidade de que o conflito seja resolvido por meio de uma solução política e, por isso, ele pede que as partes envolvidas renovem de forma urgente seu compromisso para continuar as conversas em Genebra. "A solução política também é essencial para progredirmos na luta contra o terrorismo", afirma, em uma mensagem dirigida aos EUA e à Rússia.

A intervenção unilateral dos EUA provocou a fúria da Rússia, que solicitou uma reunião extraordinária do Conselho de Segurança para abordar a questão. Moscou considera que o bombardeio é uma violação "flagrante" do direito internacional e uma "agressão" a um membro da ONU. Os diplomatas russos, por isso, classificam a conduta como desrespeitosa, irresponsável e inaceitável.

Apoios aos EUA

Os aliados de Washington, no entanto, têm se unido, apesar de um ataque significar uma escalada maior da tensão entre as potências ocidentais e Moscou. França e Reino Unido foram especialmente agressivas nesta semana durante os debates. Ambos classificaram o ataque com armas químicas como "um ato desprezível", que trazia à lembrança as imagens da matança de 2013.

O debate no Conselho de Segurança voltou a colocar em evidência a divisão de seus membros ao afrontarem um conflito que já dura sete anos. O órgão que zela pela paz e a segurança já fracassou na quarta e na quinta-feira, quando não chegou a um consenso sobre uma resolução condenando o ataque com armas químicas e sobre os termos de uma investigação que sirva para buscar os responsáveis.

O embaixador britânico, Matthew Rycroft, opina que, no momento atual, não tem sentido continuar negociando uma resolução, e considera que "chegou o momento de enfocar-se no processo político para chegar a uma paz duradoura na Síria". O francês François Delattre foi na mesma linha, dizendo que espera que a ação estadunidense provoque uma mudança que impulsione o processo político.

Hipocrisia

O representante da Rússia, Vladimir Safronkov, classificou como "hipócrita" que agora se fale de potenciar o diálogo político. O diplomata acusou a Washington, Paris e Londres de terem optado "por uma via diferente da cooperação". "Eles têm medo de uma investigação verdadeira e independente do incidente, porque isso os colocaria em questão", concluiu.

Os Estados Unidos presidem as reuniões do Conselho de Segurança neste mês de abril. A embaixadora Nikki Haley já antecipou na quarta-feira que seu país estava disposto a atuar de forma solitária. "A intervenção está plenamente justificada", assegurou na sexta-feira, explicando que até agora a Síria ultrapassava os limites porque a Rússia fazia vista grossa. "Isso não voltará a acontecer. Os dias de usar armas químicas de forma inconsequente chegaram ao fim", concluiu.

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