_
_
_
_
_

Time de meninas vence campeonato masculino na Espanha

AEM de Lleida é campeão da Segunda Divisão com quatro rodadas de antecedência e com números espetaculares

Nadia Tronchoni
O time infantil do AEM de Lleida, formado por meninas, celebra o título da Liga.
O time infantil do AEM de Lleida, formado por meninas, celebra o título da Liga.AEM
Mais informações
Contratos com clubes impedem atletas espanholas de engravidarem
Vicky Losada: “Aos 16 anos me sentia um bicho esquisito”
Maike Weber, a sem-terra goleira da seleção brasileira

Segundo Dani Rodrigo, o treinador do infantil do AEM de Lleida, a única equipe da Catalunha formada integralmente por meninas, quando o clube decidiu criar um time para que as jogadoras pudessem continuar competindo, mesmo que fosse contra meninos, muitos olharam com desconfiança. “Diziam que estávamos loucos. E os pais se queixavam porque sempre perdiam”, conta. Isso foi há três anos. Na temporada seguinte terminaram em terceiro lugar. No último sábado, esse time, cujas jogadoras têm entre 12 e 14 anos, fez história ao vencer a Liga de Segunda masculina depois de ganhar do Pardinyes B por 2 a 1.

O AEM de Lleida conseguiu fazer isso em grande estilo. Foram declaradas campeãs quatro rodadas antes do fim do campeonato. E seus números são espetaculares. Em toda a competição perderam só uma partida das 22 que jogaram; e empataram duas. São o time que marcou mais gols, 93, e o que menos sofreu: 25.

Elas jogam futebol, gostam, e ainda por cima ganham. Mas não sabem que estão quebrando muitos tabus Dani Rodrigo, treinador do AEM Lleida

Em suas fileiras está a maior goleadora da Liga, Andrea Gómez, que marcou 37 gols nas 21 partidas que jogou. E também a goleira menos goleada: Laura Martí, uma menina que chegou ao clube vinda de Girona, sinal de que o AEM aposta no futebol feminino. Sem preconceitos, nem temores. “Até o Sub-12, meninos e meninas podem jogar juntos, mas depois que passam para a categoria infantil (Sub-14), não podem mais competir, por isso optamos por criar o time de meninas. Sabíamos que jogar contra meninos as tornaria mais competitivas. A coincidência foi, também, que veio uma geração muito boa”, explica Rodrigo.

Mas o clube catalão não parou por aí. “No Sub-10 já temos um time novo só de meninas; e também no Sub-12 e no infantil, que competem contra meninas. Faz tempo que trabalhamos com times femininos. Temos 110 meninas conosco. Hoje, toda menina que quer começar a jogar a futebol procura o AEM”, diz, orgulhoso, o treinador.

As jogadoras, no entanto, não têm consciência da magnitude de sua proeza. “Elas jogam futebol, gostam, e ganham. Mas não sabem que estão quebrando muitos tabus. Agora já sabemos que um time de meninas pode ganhar de um time de meninos, ainda mais do jeito que fizeram”. Foi o que disse Rodrigo no vestiário, quando comemoravam a vitória: “Vocês fizeram uma coisa muito grande, mais do que imaginam. As novas gerações de meninas que vierem se espelharão em vocês”.

Ciente de que o físico pode jogar contra seu time por uma questão natural (como se nota na metade do grupo que acabou de entrar na categoria infantil e está fisicamente menos desenvolvida), o preparador explica que o AEM está muito bem trabalhado do ponto de vista técnico e tático. “Isso faz que possamos decidir muitas partidas mais difíceis com bola parada, como ocorreu no sábado, por exemplo”.

Ganharam a Liga graças a uma cobrança de falta no último minuto do jogo. O gol foi marcado por Alvorada Caño, que cumpriu as orientações do técnico – “Estava muito nervosa, não sabia se ia conseguir ou não, mas Dani me falou para chutar alto e eu sempre faço o que ele diz”, contava à TV3 – e deixou todos boquiabertos. “Fez muito melhor do que eu havia dito”, admite o treinador.

Suas jogadoras, provavelmente sem saber, jogam contra estereótipos de todo tipo. Em todos esses anos “geraram muita surpresa ao chegar a campos onde os rivais não sabiam que iam jogar contra um time de meninas. Até os árbitros se surpreendem e pensam ‘esse pessoal se equivocou’, mas isso acontece cada vez menos”. E acrescenta: “Também nos deparamos com falta de educação em muitos lugares. E não são só os pais que levantam a voz, as mães também. Acontece pouco, mas ainda acontece, infelizmente”. Talvez seu sucesso ajude a mudar as coisas.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_