_
_
_
_
_

Escócia ensaia novo referendo separatista, mas Londres diz: “não é o momento”

Prestes a iniciar negociações do Brexit, Reino Unido tem que lidar com plano de escoceses de ficar na UE

Pablo Guimón

Um último encontro antes de tudo começar. Theresa May e Nicola Sturgeon se reuniram na segunda-feira para tentar aproximar posições. A ministra-chefe escocesa receberá na terça-feira, salvo surpresa, a autorização para pedir a Londres a realização de um novo referendo sobre a independência. A primeira-ministra anunciará na quarta-feira o início das negociações para a saída da UE. May insistiu que “agora não é o momento” para uma segunda consulta. Mas Sturgeon disse que se May quer que o acordo de saída esteja pronto no outono de 2018, não poderá se opor aos seus planos para realizá-la.

A ministra principal da Escócia, Nicola Sturgeon, e a primeira-ministra britânica, Theresa May, nesta segunda-feira em Glasgow.
A ministra principal da Escócia, Nicola Sturgeon, e a primeira-ministra britânica, Theresa May, nesta segunda-feira em Glasgow.WPA Pool (Getty Images)

Na reunião, que durou mais de uma hora em Glasgow, Theresa May disse a Nicola Sturgeon que o Governo britânico espera ter definidos os termos da saída da UE, assim como as bases de sua nova relação com o grupo, dentro de 18 meses. Isso daria tempo para que o acordo seja ratificado no Reino Unido e na Europa durante o período de dois anos previsto pelo artigo 50 do Tratado de Lisboa, que a primeira-ministra se prepara para ativar na quarta-feira.

Tendo em vista essa convicção, disse Sturgeon na saída da reunião, não deve haver nenhum inconveniente para que os escoceses decidam seu futuro nos prazos que a própria ministra-chefe projetou: entre o outono de 2018 e a primavera de 2019, quando estiver consumada a ruptura do Reino Unido com a UE. “Acho que isso torna muito difícil à primeira-ministra manter uma oposição racional a um referendo nos prazos que mencionei”, disse a líder nacionalista.

Mais informações
A resistência ao ‘Brexit’ já não se cala mais
Bruxelas faz uma dura autocrítica e apresenta os planos da UE ‘pós Brexit’
Escócia vê independência como caminho para continuar na União Europeia
“O referendo abriu os olhos da juventude escocesa”

Mas May insiste que “agora não é o momento” para um novo referendo. Em Downing Street foi lembrado que o que estará pronto no outono de 2018 será um simples quadro com as bases da futura relação do Reino Unido com o bloco, mas que algumas questões ainda deverão ser resolvidas. O Governo de Londres espera que, como parecem sugerir as pesquisas de opinião, os escoceses avaliem que é muito cedo para realizar uma nova consulta.

Os escoceses votaram em setembro de 2014 em continuar no Reino Unido, por 55,3% a 44,7%. Mas o programa eleitoral com o qual os nacionalistas do SNP ganharam as eleições escocesas de 2016 estabelecia que “uma mudança relevante” nas circunstâncias ocasionaria o pedido de uma segunda consulta. É difícil negar que o Brexit, ao qual 62% os escoceses se opuseram no referendo de junho, é uma mudança relevante. Por isso, e devido à suposta recusa de May a considerar um tratamento especial para a Escócia na saída da UE, Sturgeon decidiu iniciar um segundo desafio independentista, paralelamente às negociações de ruptura com a UE.

As seis exigências da oposição

A oposição trabalhista anunciou na segunda-feira seis pontos que deverão ser respeitados nas negociações do Brexit para que o partido dê seu apoio ao acordo que for alcançado no fim do processo de negociação. São eles: um sistema de imigração justo para empresas e comunidades; uma relação forte com a UE; proteção da segurança nacional e repressão aos crimes interfronteiriços; compromissos para todas as nações e regiões do país; proteção dos direitos dos trabalhadores e garantia dos mesmos benefícios que o país tem no mercado comum.

May sabe que, politicamente, não pode recusar a realização de uma nova consulta. Mas não faz parte de seus planos simplesmente copiar o Acordo de Edimburgo, o pacto entre David Cameron e Alex Salmond, em 2012, que deu base jurídica para a realização do primeiro referendo, dois anos depois. Desta vez, May não quer entregar toda a iniciativa ao Governo escocês, como fez seu antecessor, e pretende dificultar as coisas, especialmente no que diz respeito à data. Sturgeon alertou-a contra qualquer manobra “antidemocrática” e insistiu que “só os escoceses decidirão o futuro da Escócia”.

Mas May quis dramatizar o quanto é importante para ela a integridade territorial do país, programando essa viagem exatamente às portas do início das negociações do Brexit. Antes da reunião com Sturgeon, em um discurso, ela descreveu a união de Inglaterra, Escócia, Irlanda do Norte e País de Gales como “uma força que não pode ser detida”.

Sturgeon lembrou a May que no fim de semana terá um pedido formal do Parlamento escocês para a cessão de competências que lhe permita realizar a consulta. Na quarta-feira pedirá a autorização do Parlamento de Edimburgo para fazê-lo e, embora o SNP não tenha maioria absoluta na câmara, ela provavelmente o conseguirá com o apoio dos deputados verdes. Isso acontecerá um dia antes de May, como anunciou, ativar na quarta-feira o artigo 50 do Tratado de Lisboa, que abre o prazo de dois anos para negociar a saída da UE. O processo transcorrerá, portanto, paralelamente à nova batalha constitucional entre os dois Governos.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_