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O herdeiro de Iniesta se equipara ao mestre

Thiago, que tomou as rédeas do Bayern, jogou contra Israel sua partida mais completa pela Espanha As estatísticas do meia superam as do ídolo ‘culé’

Diego Torres
Thiago Alcântara, durante jogo contra Israel.
Thiago Alcântara, durante jogo contra Israel.Juan Manuel Serrano Arce (Getty Images)

A partida tinha começado fazia alguns minutos, as pessoas ainda se acomodavam nos assentos do El Molinón e as equipes ainda se sondavam em campo quando Thiago lançou uma bola na entrada da área. Poucas vezes um toque tão sedoso disparou uma bala de canhão tão pesada. O goleiro de Israel só conseguiu desviar o chute para a trave. O autor lamentou. Não como quem se ressente por ter falhado quando teve a chance de marcar, mas como quem lamenta não ter podido assinar uma obra de arte: “Depois da partida eu disse a mim mesmo: ‘Que pena!’”.

Provavelmente Thiago Alcântara seja o meia com mais qualidades técnicas do mundo. Só as sucessivas lesões de joelho, e um gosto desmesurado pela busca da beleza a qualquer preço durante os jogos, frearam sua carreira. O percurso tem sido duro. Um verdadeiro túnel de dor, sacrifício e desafio pessoal que, longe de inibi-lo, melhoraram-no. Mais resistente e lúcido do que nunca, suas aparições no Bayern conquistaram o público, seus companheiros e o treinador, Carlo Ancelotti, que lhe deu a responsabilidade de conduzir a equipe. Na sexta-feira, no El Molinón, o meia se pôs a serviço da seleção. Pegou as rédeas da Espanha e não as soltou até que Israel caísse sob o peso da evidência. Foi sua melhor partida com a seleção. Participou da jogada do 1x0, deu assistência a Vitolo com um toque no 2x0 e pôs a bola na cabeça de Diego Costa no escanteio do 3x0.

“Tínhamos três grandes cabeceadores: Sergio [Busquets], Gerard [Piqué] e Diego [Costa] dentro da área”, lembrou no sábado, quando lhe perguntaram pelo lançamento do escanteio, uma execução milimétrica. “Podíamos escolher qualquer um. Mas nesse momento devia um passe a Diego. Estava toda a partida dizendo para lhe passar, para lhe passar... Por fim pôde marcar o gol. Mas a satisfação não são os passes. A satisfação é a vitória final. É ver Carva [Carvajal], que fez uma partida grandiosa, Sergio e Gerard, que defenderam muito bem, Busi e Andrés que jogaram, e aos do ataque que estiveram perfeitos. Essa é a satisfação final.”

Assistências e oportunidades

Aos 25 anos, depois de uma adolescência marcada por perspectivas maravilhosas e uma perigosa tendência para o hedonismo no campo de futebol, as estatísticas de Thiago começam a emparelhar com os registros dos jogadores que estava destinado a suceder quando saiu de La Masia, onde surgem os craques do Barcelona. Com Xavi e com Iniesta, que agora é seu colega no meio-campo da Espanha.

Os dados comparados desta temporada em seus clubes e na seleção são eloquentes. Iniesta recupera a média de uma bola a cada 15 minutos e Thiago rouba uma a cada 13; Iniesta dá uma assistência a cada 430 minutos e cria uma oportunidade de gol a cada 57, e Thiago responde com uma assistência a cada 351 minutos e uma ocasião a cada 52. Iniesta, mais oferecido à organização, fez um gol. Thiago soma seis. Sua vantagem é que não deixou de jogar. Ampara-se no bom estado físico e no respaldo de Ancelotti.

Julen Lopetegui não duvidou em escolhê-lo em detrimento de Koke. “Nós nos inclinamos por Thiago porque entendíamos que era mais adequado para esta partida”, disse o treinador. “Sabíamos que precisávamos tirar a bola de Israel. Eles são jogadores que, se têm a bola, crescem. É uma boa equipe com bola e queríamos que a bola fosse nossa”, acrescentou.

A mensagem foi clara. Para jogar no contra-ataque, vale Koke. Mas quando se trata de monopolizar a bola, Andrés Iniesta já conta com um herdeiro pleno: juntos se potencializam.

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