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Chefe do Eurogrupo: “Não posso gastar o dinheiro com álcool e mulheres, e depois pedir ajuda”

Jeroen Dijsselbloem se nega a pedir desculpas ao Parlamento Europeu por declarações a jornal alemão

Claudi Pérez

"O pacto dentro da zona do Euro se baseia na confiança. Na crise do euro, os países do euro do Norte mostraram sua solidariedade com os países em crise. Como social-democrata considero a solidariedade extremamente importante. Mas quem exige isso também tem obrigações. Não posso gastar todo meu dinheiro com álcool e mulheres, e depois pedir ajuda. Este princípio se aplica em nível pessoal, local, nacional e até em nível europeu". Essas declarações do presidente do Eurogrupo, o holandês Jeroen Dijsselbloem, ao Frankfurter Allgemeine Zeitung levantaram muita poeira no Parlamento Europeu.

Dijsselbloem, durante o Eurogrupo nesta segunda-feira.
Dijsselbloem, durante o Eurogrupo nesta segunda-feira.STEPHANIE LECOCQ (EFE)

O eurodeputado do PP, Esteban González Pons, solicitou a renúncia de Dijsselbloem. Na comissão de Economia da Eurocâmara, Ernest Urtasun (ICV) e Gabriel Mato (PPE) exigiram desculpas e o atacaram com dureza. Dijselbloem não respondeu. Inclusive o líder dos social-democratas europeus — partido em que milita —, Gianni Pittella, se perguntou publicamente se com essas opiniões Dijsselbloem tem o perfil adequado para a presidência da instituição que reúne os ministros de Finanças da zona do euro. "Não é a primeira vez que Dijsselbloem expressa opiniões econômicas e políticas que estão em aberta contradição com as defendidas pela família socialista", disse.

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O chefe do Eurogrupo, em uma posição muito difícil depois da derrota do trabalhismo holandês nas eleições da semana passada, explicou que o comentário no jornal alemão estava destinado a explicar seu ponto de vista sobre a solidariedade, sem se referir a nenhum país em particular. "Sou social-democrata e valorizo muito o princípio de solidariedade em uma sociedade, na Europa. Mas a solidariedade deve estar sempre acompanhada de compromissos e esforços", espetou no Parlamento Europeu. Longe de se desculpar, Dijsselbloem afirmou que a Europa deve levar "muito a sério" a obediências às regras. Mas mesmo na bancada social-democrata ele recebeu críticas severas: as declarações "representam o triunfo da mentalidade do populista Geert Wilders", sublinhou em uma rede social o eurodeputado socialista Javier López.

No meio da incipiente corrida pela presidência do Eurogrupo, o ministro espanhol Luis de Guindos qualificou de "desafortunadas" as declarações de Dijsselbloem. "Tenho certeza de que o próprio Dijsselbloem está arrependido de suas palavras", disse na segunda-feira para a imprensa. Se está, não pareceu na Eurocâmara.

Mas não foram somente censuras. Nenhum eurodeputado de outros países pediu explicações ao chefe do Eurogrupo, e Ramon Tremosa, do Partido Democrata Europeu Catalão, pedia mais: "Se você quer criticar a Espanha não é preciso que fale de bebida e mulheres, aí estão os trens de alta velocidade sem viajantes que não vão a nenhum lugar, os aeroportos e as rodovias sem trânsito". Não houve resposta por parte de Dijsselbloem. Apenas sorrisos. Dos dois lados.

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