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Polônia lidera a rejeição à Europa com várias velocidades

Beata Szydło diz que essa solução abriria a porta para construir “clubes de elites”

Lucía Abellán
A primeira-ministra polonesa, Beata Szydlo, durante uma coletiva de imprensa nesta sexta-feira em Bruxelas
A primeira-ministra polonesa, Beata Szydlo, durante uma coletiva de imprensa nesta sexta-feira em BruxelasSTEPHANE DE SAKUTIN (AFP)

A Europa que avança por partes, com uma locomotiva mais rápida e a parte de trás do trem mais atrasada, corre o risco de se tornar a nova marca de identidade da UE pós-brexit. Temerosos de que esse conceito sirva para penalizar Estados que desafiam a maioria, os membros do Leste se opõem com força às velocidades múltiplas. “Nunca aceitaremos isso. A diferença de velocidades abriria a porta para construir clubes de elites e dividir a União Europeia”, alertou categoricamente a primeira-ministra polonesa, Beata Szydło, depois da reunião da UE de 27 Estados (sem o Reino Unido), realizada nesta sexta-feira em Bruxelas. A governante polonesa interpreta o debate como uma tentativa dos países fundadores da UE de “impor soluções” para os países que aderiram mais recentemente ao projeto.

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Com mais ou menos nuances, essa visão é compartilhada por todo o bloco do Leste, diante da opção mais pragmática da Europa Ocidental para seguir em frente. “O espírito dessa UE em várias velocidades é aberto e inclusivo; cada membro da família pode participar dos projetos, mas nem todos precisam fazê-lo”, rebateu a chanceler alemã, Angela Merkel, em uma entrevista concedida depois da reunião dos chefes de Estado e de Governo.

Os líderes das instituições em Bruxelas tentam evitar esse eixo Leste/Oeste. Especialmente depois da tensa tarde vivida em Bruxelas na quinta-feira por causa da reeleição do Presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, que a Polônia rejeitou sozinha. “Vejo com surpresa que isso parece ser uma nova linha divisória, uma nova cortina de ferro entre o Leste e o Oeste. O ponto de partida deve ser avançar juntos, como uma união. Depois, se alguns querem fazer mais, podem fazer”, disse o Presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, tentando minimizar o dilema. Ele e Donald Tusk insistem que a união em várias velocidades já existe (em projetos como o euro ou Schengen) e, portanto, o futuro não tem por que ser diferente. “Se você quiser ir rápido, vá sozinho; se você quiser ir mais longe, vamos juntos”, ilustrou Tusk, mais sensível, como polonês, às angústias dos novos membros da UE.

Trata-se, no fundo, de um debate distorcido. As diferentes velocidades — com diferentes círculos de integração europeia — já existem. Mas consagrar essa ideia como bandeira da nova UE de 27 membros surge como uma espécie de ameaça contra aqueles que rejeitam certos princípios do clube comunitário (por exemplo, a acolhida de refugiados se acontecer uma crise como a de 2015). Todo esse debate deve ser cristalizado na chamada Declaração de Roma que será aprovada pelos líderes comunitários (sem o Reino Unido) no dia 25 de março, na capital italiana. Será o momento de comemorar o 60º aniversário do Tratado de Roma, a pedra angular da UE, mas também de definir o futuro do projeto comunitário depois da saída do parceiro britânico.

Curar feridas

Nesse contexto, os líderes estão cientes de que o distanciamento dos membros do Leste em alguns assuntos é perigoso. Para tentar curar as feridas, três dos países fundadores da UE (os integrados no Benelux: Holanda, Bélgica e Luxemburgo) convocaram uma espécie de minicúpula com o bloco do Leste. Acontecerá em Haia antes do verão, de acordo com fontes diplomáticas.

Os clubes de Estados dentro de uma UE cada vez mais diversa ganharam peso nos últimos anos. E, embora o eixo franco-alemão continue a definir o tom em questões-chave, o projeto comunitário fragmentou-se em diferentes grupos. O de Visegrado, que aglutina Polônia, Hungria, República Checa e Eslováquia, adquiriu grande protagonismo, em boa medida como uma voz crítica às políticas de distribuição de refugiados entre os parceiros comunitários.

“Como Benelux, queremos trabalhar duro para desempenhar um papel positivo no debate sobre o futuro da UE”, argumentou o primeiro-ministro holandês, Mark Rutte, que falou com a imprensa ao lado dos colegas belga, Charles Michel, e luxemburguês, Xavier Bettel, para explicar a iniciativa da minicúpula. Esse mesmo núcleo duro de países pequenos, mas fundadores, convidou os países bálticos (Estônia, Letônia e Lituânia) para o final do ano.

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