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Xabi Alonso, o último passador sai de cena

Meio-campista espanhol anunciou sua aposentadoria para o final desta temporada

GORKA PÉREZ
Xabi Alonso comemora um gol pelo Bayern.
Xabi Alonso comemora um gol pelo Bayern.EFE
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Jogar futebol para Xabi Alonso (Tolosa, País Basco, 1981) sempre foi um desígnio genético, nunca uma escolha aleatória. Cresceu vendo seu aita [pai], Periko, um valente jogador que fez carreira nos setenta e oitenta na Real Sociedad, Barcelona e Sabadell, e a quem ele e seu irmão Mikel, um ano mais velho, sempre buscaram emular. Jon, o terceiro, também gostava de futebol, mas, diferentemente dos irmãos, que seguiram o caminho paterno, preferiu observar tudo por outro ângulo e virou árbitro. Hoje, após 18 temporadas na ativa, Xabi Alonso anunciou pelas redes sociais que pendurará as chuteiras quando a atual temporada terminar.

Consciente do que o ofício significava, Xabi e seu irmão Mikel foram cumprindo as etapas. Depois de viverem seus primeiros seis anos em Barcelona – apesar de ter nascido em Tolosa, município basco famoso por seus feijões –, Xabi foi revelado como jogador na praia de La Concha, em San Sebastián. Junto com Mikel Arteta, ex-jogador e hoje assistente do técnico Pep Guardiola no Manchester City, começou a experimentar a sensação de bater na bola com o pé descalço e coberto de areia. Interiorizou a técnica necessária para entregar a bola a um companheiro na posição exata, e concluiu que para isso era melhor ocupar uma posição ligeiramente recuada no campo. Decidiu virar um especialista em passes.

Campeão do mundo, duas Eurocopas, duas Champions...

Trajetória

Real Sociedad: 1999-2004

Liverpool: 2004-2009

Real Madrid: 2009-2014

Bayern Munique: 2014-2017

- Uma Liga dos Campeões, uma Supercopa da Europa, uma FA Cup e uma Community Shield com o Liverpoool.

- Uma Liga dos Campeões, uma Supercopa da Europa, um Campeonato Espanhol, duas Copas do Rei e uma Supercopa da Espanha com o Real Madrid.

- Duas Bundesligas, uma Copa da Alemanha e uma Supercopa da Alemanha com o Bayern Munique

Total de jogos com os clubes: 682 (44 gols)

SELEÇÃO ESPANHOLA

Eurocopa 2008, Copa do Mundo 2010 e Eurocopa 2012.

114 partidas (16 gols)

Xabi e os dois Mikels entraram no Antiguoko, um dos clubes de formação que mais fornecem atletas à Real Sociedad. Seus movimentos, sua destreza e sua forma de chutar a bola não passaram desapercebidos; Arteta logo foi captado pelo Barcelona, e o mais velho dos irmãos Alonso arrumou vaga nos juvenis do Athletic. Xabi, porém, ficou. Mas a experiência do mais velho não deu certo, e ele voltou para casa, junto ao irmão. O passo definitivo viria em 1999, com a contratação de ambos pela Real Sociedad.

A partir daí, a trajetória de Xabi, depois de um breve empréstimo ao Eibar em 2000, foi meteórica. Transformado em objeto de desejo de meia Europa após chegar com a equipe basca ao vice-campeonato na temporada 2002-2003, depois de quatro temporadas na primeira divisão do país, foi levado em 2004 pelo Liverpool de Rafa Benítez por 16 milhões de euros (53,7 milhões de reais, pelo câmbio atual). “Para Xabi, a mística do futebol importa muito mais que outros fatores”, diz uma pessoa próxima a ele. E jogar no Anfield, para alguém que se identificava – tanto na época como agora – com o estilo de jogo inglês, falou mais alto que qualquer outra oferta econômica.

Depois de ganhar a Champions League em seu primeiro ano na Inglaterra, na agônica decisão por pênaltis contra o Milan, seu entrosamento com Gerrard fez com que eles passassem a formar um dos melhores meios de campo da Premier League. “É uma autêntica lenda, meu herói, meu companheiro”, dizia Alonso na época sobre o colega. Mas, após cinco temporadas e 19 gols em 209 jogos, o Real Madrid o contratou por mais de 35 milhões de euros. “Fiquei desolado quando ele foi embora. É um dos melhores passadores do mundo. Alguém que pode criar meio que do nada”, afirmou Gerrard após a despedida. Junto com Alonso chegaram Cristiano Ronaldo, Benzema e Kaká, na maior aposta econômica já feita pelo Real. Com a camisa branca ganhou uma Liga (2011-2012), duas Copas do Rei (2011 e 2014), a décima Champions madridista (2013-2014) e uma Supercopa (2012-2013), depois de conviver com três treinadores diferentes: Pellegrini, Mourinho e Ancelotti.

Como atleta da seleção, participou da etapa mais ganhadora da história da Roja. Nos primeiros anos, esteve fixo no meio de campo ao lado de Xavi – nome que, apesar da semelhança fonética, não se assemelha ao de Alonso na sua pronúncia em basco. Ganhou duas vezes a Eurocopa (2008 e 2012) e uma vez a Copa do Mundo (2010), sempre como um dos protagonistas.

Em agosto de 2014, num movimento que causou certa surpresa em Madri, decidiu mudar de ares e se transferiu para o Bayern de Guardiola, onde conquistou duas Bundesligas, uma Copa da Alemanha e uma Supercopa, e, após três temporadas, encerrará sua carreira esportiva. “Há poucas coisas que alguém possa ensiná-lo”, elogiou o técnico catalão em sua chegada. Hoje, depois de confirmar que deixará os gramados, talvez seja a vez do próprio Alonso começar a transmitir o que aprendeu. Poderia inclusive levar sua escola para a praia, o ambiente no qual descobriu até onde o futebol poderia conduzi-lo.

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