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‘Phonk’, o som futurista do hip hop, faz sucesso na Internet

Artistas como Denzel Curry, Lil Uzi Vert e Lil Ugly Mane promovem um estilo que nasce do ‘underground’ e se une ao ‘trap’ como o gênero mais popular em 2016

Lil Uzi Vert, em um concerto em Filadelfia.Vídeo: GETTY

A plataforma de distribuição de áudio online Soundcloud publicou um resumo de suas atividades em 2016 e chegou a algumas conclusões interessantes. Considerando os downloads, músicas ouvidas em streaming, buscas, curtidas e canções compartilhadas, o álbum mais popular e mais ouvido pelos usuários foi The Coloring Book, de Chance The Rapper; a música favorita, Panda, de Desiigner; o artista mais seguido, Lil Uzi Vert; e entre as hashtags que causaram mais burburinho estão #afrotrap, #cloudrap e #phonk, que definem perfeitamente a linguagem complexa, especializada e quase clandestina utilizada pelo público familiarizado com a plataforma.

Longe do consumo de massa e homogêneo que guia o Spotify ou a Apple Music, no Soundcloud destaca-se a preferência da maioria por subgêneros derivados do hip hop, da nova música eletrônica e do pop experimental. Correntes sonoras que, de alguma forma, mantêm muitas conexões estéticas e conceituais entre si e que definem o gosto mais ou menos coerente e semelhante do público que frequenta este canal.

Não se trata apenas de propostas musicais fora das margens da ortodoxia, mas também reflete muitos outros fatores importantes: a economia de meios, o imediatismo do formato, as influências e a pouca vergonha na hora de mesclá-las — trap, chillwave, ambient, rap do sul, nostalgia dos anos noventa, eletrônica dos anos oitenta, trilhas sonoras de videogames... — e um gosto evidente pela obscuridade e por atmosferas perturbadoras.

Mas, se estes dados revelam alguma coisa, é a superioridade evidenciada de duas tendências. A primeira é o fortalecimento do trap como um estilo que contamina tudo e que espalhou sua influência pelos clubes da moda, discos de artistas mainstream e núcleos de ação muito distantes, como o brasileiro e o espanhol.

Está em todos os lugares; também no Soundcloud, onde ramificações como o afro trap — que teve um ano magnífico na França graças ao rapper MHD — ou o trap soul — melódica aproximação entre o trap, o R&B e o pop negro liderada por artistas como Fetty Wap, Post Malone e Bryson Tiller — ocupam as primeiras posições no ranking das hashtags mais usadas e repetidas ao longo de 2016.

E a segunda tendência, a efervescência de uma subcena, a do phonk, à qual muitos não saberiam como colocar voz nem cara, mas que já vem incomodando há alguns anos o underground norte-americano. De fato, se analisarmos novamente os dados, vemos que Lil Uzi Vert, o artista mais seguido em 2016 pelos suspeitos usuários do Soundcloud, é uma de suas figuras mais promissoras, ou que Panda, o hit que consolidou o rapper nova-iorquino Desiigner, é um dos hinos do novo gênero. Suas origens remontam às produções caseiras e de baixo orçamento que o SpaceGhostPurrp e seu grupo Klan Raider espalhavam pela rede em 2010, mas seu momento de eclosão, que também tem sido apoiado por blogs como Da Phonk ou canais do YouTube, a exemplo do TrillPhonk, chegou agora. Os números não mentem.

Por que o phonk despontou entre as preferências dos usuários do Soundcloud? O que o torna tão inovador e atraente aos ouvidos do público mais jovem e inquieto? Em primeiro lugar, um som futurista, diferente e pouco comercial que se afasta das produções mais óbvias e orgânicas do gênero. Em segundo lugar, sua deslocalização: embora incorpore elementos do hip hop do sul, do Miami bass sound e do G-funk da costa oeste dos Estados Unidos, é difícil identificá-lo com uma cena em particular, porque escapa de qualquer classificação e rótulo. Soa autêntico e independente, fora de controle. E em terceiro lugar, por sua maneira de transformar a nostalgia dos anos noventa, principal fonte de inspiração de seus arquitetos sonoros, em um veículo de grande frescor e entusiasmo criativo, capaz de capturar igualmente fãs do hip hop experimental e curiosos de outras áreas de confluência, como da música eletrônica ou indie.

Com SpaceGhostPurrp como guru e ícone, e em grande parte responsável pelo nome do gênero graças a canções como Bringing tha phonk ou Pheel tha phonk 1990, o phonk se prepara para grandes emoções em 2017. Os álbuns de Denzel Curry, Lil Uzi Vert e Lil Ugly Mane tentarão provocar agito e manter seu status de som da moda nas catacumbas das plataformas de streaming e download.

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