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E-mails revelam ligação do diretor da agência do meio ambiente dos EUA com petroleiras

As companhias escreviam a Scott Pruitt as cartas oficiais e desenhavam com ele a estratégia contra as leis verdes de Obama

Jan Martínez Ahrens
O diretor da Agência de Proteção Ambiental, Scott Pruitt, ao tomar posse no cargo, após ser escolhido por Donald Trump.
O diretor da Agência de Proteção Ambiental, Scott Pruitt, ao tomar posse no cargo, após ser escolhido por Donald Trump. JOSHUA ROBERTS (REUTERS)

Scott Pruitt é o mais parecido a um cavalo de Tróia que existe. Nunca acreditou que o homem seja a causa das alterações climáticas, sempre defendeu as indústrias mais poluidoras e, como procurador-geral em Oklahoma, processou 14 vezes a Agência de Proteção Ambiental (EPA). Tudo isso fez dele, aos olhos de Donald Trump, o candidato perfeito para dirigir a própria EPA, órgão responsável pela gestão do meio ambiente nos EUA. Uma posição que ocupa há apenas uma semana e já explodiu um escândalo: milhares de e-mails que revelam sua conivência e até mesmo subordinação à indústria petroleira e elétrica.

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É uma explosão de alta carga. São 6.000 páginas de e-mails. Uma enciclopédia do favoritismo e da incorreção política. Os e-mails, publicados por ordem de um juiz depois de uma demanda de transparência, mostram a aliança entre Pruitt, na sua fase de procurador-geral de Oklahoma, e as empresas mais beligerantes contra as normas ambientais

Não é algo novo. Odiado pelos ecologistas norte-americanos, seu alinhamento com a indústria era conhecido desde 2014 e até algumas cartas já tinham sido publicadas. Mas desta vez, a exibição é tão crua que ele dificilmente vai escapar ileso.

“Alguma sugestão? Você é tão incrivelmente útil!!! Muito obrigado!!!”. Estas são algumas das expressões que aparecem nas comunicações mantidas pela Procuradoria com executivos das grandes empresas de eletricidade e petróleo. A essa intimidade deve ser adicionada a gravidade das questões discutidas.

Com o objetivo de enfrentar as normas de Obama, o procurador-geral Pruitt e sua equipe se reuniam com os diretores das empresas afetadas e permitiam que elas escrevessem e reescrevessem as cartas oficiais que depois enviavam ao Governo federal. Juntos, construíram uma estratégia comum que transformava o Estado de Oklahoma em um bastião desses interesses e um freio aos “excessos de regulamentação” de Washington.

Pruitt foi um agente central desta operação. Ao controlar a Procuradoria, tinha acesso a uma enorme base de informações e um alto nível de interlocução.

Esses potenciais foram bem aproveitados pelas empresas. Algumas, como Devon Energy chegaram a escrever os rascunhos que deviam ser enviados à cúpula da Agência de Proteção Ambiental. “Anexo envio um rascunho de carta que um grupo de procuradores-gerais poderia enviar ao diretor da EPA e a outros no Governo em resposta às tentativas de ampliar a regulamentação de emissões”, indica o vice-presidente da Devon, Bill Whitsitt, que não teve pudor de rechaçar a estratégia de comunicação que o promotor deveria seguir: “Se for enviado, sugiro que seja tornada pública, pelo menos no Capitólio e em publicações políticas”, acrescenta. A resposta foi clara: “Obrigado, Bill, começamos a trabalhar com o rascunho”.

A publicação dos e-mails, conseguida pela ONG Centro de Mídia e Democracia, foi recebida com frieza na Casa Branca. Pruitt é um velho inimigo dos ecologistas e dos democratas. Duro, direto e acostumado às críticas, não considera suas relações com a indústria uma diminuição de sua independência, mas um aval a seu patriotismo. “Como agência e como nação podemos ser pró-energia e emprego, e também pró-ambientais. Não há necessidade de escolher entre os dois”, disse Pruitt quando se reuniu pela primeira vez com funcionários da EPA.

Embora Trump não tenha se pronunciado claramente contra as alterações climáticas, em sua aposta pela recuperação econômica deixou claro seu apoio às indústrias consideradas mais prejudiciais. A mensagem enviada com a escolha de Pruitt, cujos antecedentes eram bem conhecidos, reafirmou essa posição e foi aplaudida pelos republicanos. Embora muitas vezes sua ideologia estridente faz com que se esqueça, Trump é um presidente que aposta na economia. É aí que as pesquisas o mostram como um grande vencedor. E é aí que ele sabe que se falhar, irá entrar em parafuso.

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