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Trump se empenha em dinamitar o legado de Obama

A política imigratória, o 'Obamacare', as mudanças climáticas, Oriente Médio e México recebem canhonaços do presidente

Jan Martínez Ahrens
Donald Trump sorri em seu comício no sábado em Orlando (Flórida).
Donald Trump sorri em seu comício no sábado em Orlando (Flórida).REUTERS

Donald Trump governa no negativo. Em seu primeiro mês como presidente, a maioria de suas ações visaram desmontar o legado de seu antecessor, Barack Obama: “Herdei um desastre”, diz frequentemente. A política imigratória, o Obamacare, a luta contra as mudanças climáticas, as relações com o México e o Oriente Médio mostram essa guinada.

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Menos imigrantes, mais expulsões. Obama foi um presidente duro em imigração. Durante seu mandato expulsou 2,8 milhões de pessoas, mais que qualquer outro antes. Mas em sua realpolitik também criou programas destinados a favorecer a regularização, incluindo a dos jovens sem documentos que chegaram quando eram crianças aos EUA, os famosos dreamers. Tudo isso se desvaneceu diante de Trump. O novo presidente prometeu expulsões em massa e ordenou a criação de um muro na fronteira com o México. Mas onde se mostrou mais virulento com foi o mundo muçulmano. Uma de suas primeiras ordens executivas se destinava a vetar as entradas procedentes de sete países de maioria muçulmana. Os tribunais bloquearam a tentativa. Mas Trump já anunciou que nesta semana volta à carga. “Não queremos que entre gente com maus pensamentos”, clamou.

'Obamacare', morte em câmara lenta. A grande criatura de Obama vive dias crepusculares. Já antes da posse a maioria republicana no Senado tinha aprovado o primeiro passo para revogar a reforma do setor da saúde feita pelo democrata. Mas o que parecia que seria um processo rápido foi freado. Tanto Trump como seu partido se deram conta de que para eliminar o Obamacare precisam de um sistema alternativo. O contrário afetaria 22 milhões de pessoas que contrataram um seguro-saúde por essa via e, sobretudo, aumentaria o déficit federal em 353 bilhões de dólares (1,11 trilhão de reais) em 10 anos.

México humilhado. Com Obama não existia conflito. A relação entre ambos os países era tão fluida que, às vezes, parecia inócua. Com Trump tudo mudou. O presidente, que chegou ao poder humilhando o vizinho do Sul e ameaçando quem investisse nele, estreou com a ordem de construção do muro e insistindo em que seria pago pelo México. O insulto foi de tal magnitude que obrigou o presidente mexicano, Enrique Peña Nieto, a suspender sua visita oficial a Washington. Desde então, Trump moderou suas referências ao México e para esta semana ordenou uma viagem de seus secretários de Estado e do Interior ao país. “A relação teve que absorver muitas tensões e isso tornará a cooperação mais difícil, mas a pergunta é quanto mudará quando começar a negociação final”, afirma Shannon K. O’Neil, especialista do think tank Conselho de Relações Internacionais.

Oriente Médio: fim dos dois Estados. Tudo com Trump é mais agressivo. E com o conflito entre israelenses e palestinos não poderia ser diferente. Antes de chegar à presidência, o magnata prometeu transferir a Embaixada dos Estados Unidos para Jerusalém e deu apoio irrestrito aos assentamentos ilegais na Cisjordânia. Agora, tendo de enfrentar as consequências de suas palavras, deixou no congelador seus tons irados e optou por um caminho menos radical: romper com a tradicional política dos dois Estados para solucionar o conflito palestino-israelense e abrir a porta a um só Estado, um dos pedidos dos falcões de Benjamin Netanyahu.

Ceticismo com as mudanças climáticas. Trump se somou à corrente mais perigosa. Contra todas as evidências científicas, pôs em dúvida que as mudanças climáticas se devam à ação humana. Nessa linha, tomou medidas para favorecer a mineração de carvão (uma das principais emissoras de poluentes), prometeu acabar com as regulações de Obama e colocou Scott Pruitt, um cético na questão das mudanças climáticas e fiel aliado das petroleiras, na direção da Agência de Proteção do Meio Ambiente.

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