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Multinacionais dos EUA se voltam contra decreto migratório de Trump

Grandes empresas temem pela segurança de seus funcionários e os possíveis efeitos negativos sobre suas operações

Corretor da bolsa de valores no pregão de Nova York.
Corretor da bolsa de valores no pregão de Nova York.Richard Drew (AP)

O decreto que veta a entrada nos Estados Unidos de cidadãos de sete países de maioria muçulmana não tem apenas consequências morais e éticas. O caos e a confusão gerados pela iniciativa assinada na sexta-feira por Donald Trump também afetam as grandes multinacionais, que reprovam firmemente a ação executiva do presidente porque agora temem pela segurança de seus funcionários e os possíveis efeitos negativos sobre suas operações.

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Numa mensagem categórica a seus funcionários, o CEO da Goldman Sachs, Lloyd Blankfein, admitiu que o decreto cria um transtorno à empresa e que, por esse motivo, vai mobilizar os recursos internos necessários para prestar assistência aos empregados que enfrentarem algum problema legal por causa de sua nacionalidade. Blankfein deixou claro que, para uma companhia global como a que ele dirige, a diversidade não é uma escolha, mas sim parte de sua natureza.

“Devemos atrair, reter e motivar pessoas de origens e perspectivas diferentes”, frisou o executivo. As diretorias da Ford Motor e da Boeing manifestaram-se em termos semelhantes, opondo-se frontalmente a qualquer política que vá contra os valores de suas empresas. Mark Parker, CEO da Nike, citou como exemplo o caso do medalhista olímpico britânico Sir Mo Farah para expor seu repúdio à iniciativa imigratória do presidente republicano.

Mo, conta Parker, é de origem somali, mas competiu a vida toda pelo Reino Unido. “Agora receia que o proíbam de retornar com sua família a Portland”, alerta, ao mesmo tempo que oferece todo o apoio da empresa de roupas esportivas a atletas e funcionários que estiverem em situação semelhante. O decreto de Trump, que ele qualifica de intolerante, ameaça valores como o respeito mútuo fomentado pelo esporte.

“Vivemos um momento sem precedentes”, opinou o presidente da Starbucks, Howard Schultz. Durante as eleições, o executivo liderou uma campanha para mobilizar o voto e, depois, tentou aparar as arestas criadas pelo choque político. Agora, a empresa promete contratar, durante um prazo de cinco anos, 10.000 refugiados em todo o mundo. “Escuto o alarme que os direitos civis e humanos que damos por certos estão sendo atacados”.

O poder da diversidade

A imigração é fundamental para o Vale do Silício, que foi muito ativo durante a campanha em sua oposição à retórica de Donald Trump. Apple, Microsoft, Facebook e Amazon enviaram, durante os últimos dias, mensagens similares a seus funcionários salientando o poder da diversidade para o sucesso de suas empresas e o conjunto do setor tecnológico, bem como para a economia. A medida pegou o Alphabet com uma centena de funcionários em viagem.

O repúdio contrasta com a imagem de mão estendida que os grandes executivos mostraram durante as últimas semanas em relação ao novo governo, ao qual deram o benefício da dúvida. Mas as primeiras manobras do presidente estão criando incerteza. Como adverte o CEO da Netflix, Reed Hastings, o decreto põe em “perigo” seus funcionários no mundo todo.

A confusão é ainda maior entre as grandes companhias aéreas que cobrem as rotas transatlânticas. A IATA, associação que representa 265 empresas do mundo todo, denuncia que a ação executiva assinada na sexta-feira por Donald Trump está criando confusão entre os viajantes e as próprias companhias aéreas. Os requisitos do decreto imigratório, acrescentam, não estão claros e têm um custo adicional.

Por isso a organização exige que sejam especificados os termos da medida, para evitar penalizações. Essa mistura de incerteza e de custos adicionais fez empresas como a American Airlines perderem mais de 6% de seu valor na segunda-feira. O presidente Donald Trump responde que, se a proibição fosse anunciada com uma semana de antecedência, “os maus teriam corrido para entrar no país”.

Mediação

A tensão se refletiu em Wall Street. O Dow Jones iniciou a sessão desta segunda-feira com uma queda de 1% e perdeu assim o nível histórico dos 20.000 pontos. O Goldman Sachs foi o valor que mais contribuiu para levantar o índice Dow Jones depois da vitória eleitoral de Donald Trump. O número dois do banco de investimento dirige o órgão na Casa Branca que assessora o presidente em assuntos econômicos.

É a pior jornada desde 11 de outubro, um mês antes das eleições. Elon Musk, fundador da Tesla, também pensa que a proibição afetará injustamente os imigrantes e acredita que essa medida “não é a melhor maneira” de encarar os desafios que o país enfrenta. Por esse motivo, acha que a ação será temporária. Musk compõe um grupo que assessora o presidente em questões econômicas a partir do setor privado.

Jeff Immelt, CEO do conglomerado industrial General Electric, também prometeu utilizar o canal aberto que tem com o governo para tentar aplacar as medidas imigratórias e seus efeitos. Não se trata apenas das dificuldades que o decreto pode impor a seus funcionários, também temem represálias contra os Estados Unidos em países afetados por esse tipo de ações unilaterais.

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