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Donald Trump: “O ‘Brexit’ será uma maravilha”

Novo presidente e a primeira-ministra britânica tentam exibir unidade, apesar das diferenças

Marc Bassets

O presidente Donald Trump, que há uma semana foi empossado com um discurso nacionalista, elogiou na sexta-feira a saída do Reino Unido da União Europeia. “O Brexit será maravilhoso para seu país”, disse à primeira-ministra britânica, Theresa May, em uma conferência de imprensa conjunta na Casa Branca. Trump vê um paralelo entre o Brexit — um referendo no qual, em junho de 2016, os britânicos votaram por sair da UE — e sua vitória nas eleições de novembro. “Terão sua própria identidade, terão as pessoas que quiserem no seu país e poderão fazer acordos comerciais sem ter ninguém para controlá-los”, previu.

O presidente Trump e a primeira-ministra May durante a conferência de imprensa.
O presidente Trump e a primeira-ministra May durante a conferência de imprensa.MANDEL NGAN (AFP)
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Ao justificar seus elogios ao Brexit, Trump recordou as dificuldades que teve uma vez no passado ao tratar com a burocracia da UE, organização à qual se referiu como “o consórcio”. Com a saída do clube europeu, o Reino Unido recupera “o direito à autodeterminação”, disse.

Era a primeira conferência de imprensa após uma semana de atividade frenética, e em muitos momentos caótica, na Casa Branca. May era a primeira líder estrangeira a visitar o novo presidente dos Estados Unidos. Os dois falaram sobre a mitificada “relação especial”. Hoje é uma relação incômoda. E isso, apesar da fascinação de Trump com o Brexit, e apesar de que o Reino Unido pode encontrar nos EUA de Trump uma muleta útil — na forma de um tratado comercial bilateral, por exemplo — quando sair da UE.

May discorda de Trump sobre o futuro da Aliança Atlântica, instituição que o presidente dos EUA chamou de obsoleta. “Estamos unidos no reconhecimento da OTAN como baluarte da nossa defesa coletiva”, disse a primeira-ministra. “Presidente, acho que você disse que está 100% com a OTAN”. O presidente não mencionou a OTAN.

Outro motivo de diferença são as sanções internacionais contra a Rússia pela interferência na Ucrânia. Trump, que quer se aproximar de Moscou depois das tensões com o Governo de Obama disse que é muito cedo para decidir se deve levantá-las. No sábado está programado para falar por telefone com Vladimir Putin. May defendeu a manutenção das sanções. Sobre o uso da tortura, que May condena e Trump defende, o presidente disse: “Acho que funciona, disse durante um longo período, mas vou delegar aos meus líderes”. Estava se referindo a seu secretário de Defesa, o general James Mattis, contrário à tortura.

A ideia de uma internacional trumpiana, alimentada por alguns círculos próximos ao presidente, não é fácil de executar. O caso britânico ilustra isso. Confluem em alguns interesses, e na reclamação de soberania, mas se afastam em outros. As posições de May — sobre a OTAN, a Rússia ou a tortura, por exemplo — a aproximam mais de outros membros do Governo Trump, como o general Mattis, do que do presidente.

Na conferência, de 17 minutos, não houve nenhuma explosão de um Trump mais calmo, ao contrário do que aconteceu na explosiva conferência de imprensa organizada em Nova York poucos dias antes de tomar posse. As poucas questões não incomodaram um presidente muito suscetível ao escrutínio da mídia. Estranhamente, ele se manteve dentro do roteiro.

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