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Editoriais
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Em defesa do México

A comunidade ibero-americana deve apoiar um parceiro acossado por Trump

O presidente do México, Enrique Peña Nieto.
O presidente do México, Enrique Peña Nieto.José Méndez (EFE)
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O cancelamento por parte do presidente mexicano, Enrique Peña Nieto, de sua visita aos EUA, inicialmente prevista para a próxima terça-feira, é a única resposta lógica à agressão que o presidente Trump vem fazendo contra o seu país e seu cidadãos, que sistematicamente acusa de ladrões e criminosos.

Muitos argumentaram que a retórica eleitoral de Trump passaria para um segundo plano uma vez conquistada a Casa Branca, inaugurando então, como costuma acontecer em política, um processo de ajuste entre as promessas de campanha e as limitações impostas pela realidade e a ação de governo.

Alguns deles, como o próprio Peña Nieto, ignoraram os abundantes sinais de que Trump não era um candidato normal e preferiram escolher uma visão benigna e pacificadora. Coisa que fez, em seu demérito, apesar de ter se reunido em sua residência oficial em Los Pinos, em agosto, com o então candidato Trump numa incompreensível e infeliz visita que não alcançou seu aparente objetivo de que este desistisse ou matizasse seus propósitos.

Não foi necessário nem uma semana desde a posse do novo presidente dos Estados Unidos para que fosse confirmado o desejo de Trump de colocar em prática imediatamente e em sua mais surpreendente literalidade o núcleo duro de suas promessas relacionadas ao que eufemisticamente se denomina controle da imigração e das fronteiras, mas que na verdade ampara uma agenda racista e xenófoba da qual o México está sendo a primeira vítima.

A construção de um muro separando totalmente o México dos EUA — que também tem a intenção de fazer com que os mexicanos o paguem —, a ameaça de criar tarifas punitivas às suas exportações; as pressões às empresas norte-americanas para que deixem de investir no México, ou as ameaças de deportação de cidadãos mexicanos radicados nos EUA são medidas que, juntas, constituem uma agressão total ao México.

Trump começou uma presidência que diz querer dedicar a restaurar a grandeza de seu país humilhando repetidas vezes seu vizinho, mais fraco e mais pobre, e ameaçando-o com uma série de ações que certamente causarão grandes dificuldades aos mexicanos.

Felizmente, os mexicanos não estão sozinhos. Os prefeitos das principais cidades dos EUA, apoiados por milhões de norte-americanos de bem, manifestaram a intenção de não colaborar com a política de deportações de Trump, mesmo que isso signifique que sejam privados de recursos federais.

Mesmo que queira, o México não poderá se defender sozinho da agressividade de um Trump cuja trajetória é marcada pela pior intimidação política e empresarial. Por isso está faltando uma voz alta e clara em defesa do México por parte tanto da Europa e, sobretudo, da comunidade ibero-americana de nações. Porque se todos esses fóruns regionais e o sistema de cúpulas que nos unem ao México não servem para tornar clara a solidariedade com aquele país, cabe perguntar então para que servem.

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