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Editoriais
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Davos adverte

Protecionismo e desigualdade: principais riscos para a economia

O presidente chinês, Xi Jinping, no Fórum Econômico Mundial.
O presidente chinês, Xi Jinping, no Fórum Econômico Mundial.MICHEL EULER (AP)

Independentemente das opiniões a respeito do encontro anual convocado pelo Fórum Econômico Mundial em Davos, nesse evento são apresentados alguns relatórios que merecem atenção. O relativo aos riscos globais (Global Risks Report) não é o mais antigo, mas é o mais vinculante, especialmente para as empresas com projeção internacional. Há 12 anos, ele identifica os fatores de risco mais relevantes e suas interconexões. Nesta edição, o documento destacou três tendências como as principais ameaças à estabilidade global: a desigualdade econômica, a polarização social e os perigos ambientais. Ainda que de forma menos documentada, nesta edição também figuram outros riscos importantes, como os derivados do enfraquecimento da coesão europeia e os associados à realização dos enunciados com os quais Donald Trump chegou à Presidência de seu país. Em particular, a intensificação do protecionismo e, inclusive, o desencadeamento de uma guerra comercial com China.

O grande paradoxo que o encontro nos deixa é a defesa da dinâmica da globalização, feita pelo dirigente chinês, Xi Jinping, contra os ventos protecionistas e nacionalistas que se estendem dos EUA à Europa. O fato de um secretário-geral do Partido Comunista se transformar no paladino do livre-comércio mostra a incapacidade da classe política das economias avançadas de renovar a ordem econômica surgida da Segunda Guerra Mundial. A defesa do multilateralismo, das organizações supranacionais que devem arbitrar na governança econômica global, foi feita por um “recém-chegado”. Essa tomada de posição das autoridades chinesas fortalece suas credenciais como líderes na cena global, acentuando o deslocamento do centro de gravidade da economia mundial para a Ásia, ao mesmo tempo em que se questiona a vigência das organizações multilaterais dominadas historicamente pelos EUA e a União Europeia (UE). O impulso ao Banco Asiático de Desenvolvimento é só um dos expoentes dessa redefinição de influências.

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A outra grande advertência vinda de Davos diz respeito à extensão da desigualdade. Foi a diretora-gerente do FMI que recordou sua advertência a esse respeito na edição do ano passado. Os vínculos entre a distribuição desigual de renda e riqueza, por um lado, e a instabilidade social e política, por outro, acentuam as exigências de orientar as políticas econômicas para uma maior proteção dos mais fracos. Isso significa, em primeiro lugar, adequar as políticas a um ambiente econômico ainda influenciado pela seriedade da crise. O anêmico crescimento econômico, sobretudo na UE, continua aconselhando políticas econômicas que compensem a ausência de investimentos privados e que sejam criadoras de emprego suficiente e de qualidade, fortalecedoras da coesão social, que neutralizem a fraqueza das trocas internacionais e, acima de tudo, contribuam para frear a falta de deslegitimação do sistema econômico. Essa é a advertência que sintetiza os temores que emergiram nessa reunião da elite do capitalismo global.

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