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As orcas mostram para o que serve a menopausa

As crias das mães mais velhas têm maior taxa de mortalidade, enquanto as avós se dedicam a guiar as netas

Miguel Ángel Criado
David Ellifrit (Center for Whale Research)

A menopausa é um total mistério evolutivo. Existem apenas três mamíferos cujas fêmeas vivem muito além de sua vida reprodutiva: as dos humanos e de duas espécies de golfinhos. Agora, um estudo com uma delas, as orcas, mostra que as crias de mães mais velhas têm uma taxa de mortalidade que é quase o dobro do índice das fêmeas jovens. Também mostra que, quanto mais velha a orca fêmea, maior é o envolvimento no desenvolvimento das crias de suas filhas.

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É a chamada hipótese da avó, postulada para explicar por que as mulheres perdem a fertilidade por volta dos 45 anos e podem viver várias décadas a mais. Do ponto de vista da seleção natural, parece um desperdício. Na maioria das espécies, as fêmeas podem conceber até seus últimos dias, e, entre os grandes símios, as fêmeas com mais idade são as que mais concebem. A hipótese da avó postula que nos primeiros grupos humanos, as fêmeas mais velhas, já inférteis, poderiam dedicar todo seu tempo, recursos e experiência para ajudar suas filhas com seus filhotes.

O caso das orcas é ainda mais impressionante do que o das humanas. Nestas, apenas recentemente a expectativa de vida dobrou desde o último período menstrual. As fêmeas desses cetáceos da família Delphinidae (Orcinus orca) entram na menopausa a partir dos 30 anos e podem viver mais de 100 anos, assim como a venerável Granny.

Mas a hipótese da avó, pelo menos no caso das orcas, é mais gritante do que parece. Durante 40 anos, um grupo de pesquisadores estudou dois grupos de orcas residentes. Embora a maioria desses cetáceos se mova constantemente e a grandes distâncias, algumas famílias da costa do Pacífico, perto do Canadá e EUA, levam uma vida sedentária, alimentando-se de salmão da região.

O estudo, publicado na revista Current Biology, remonta a 1973 e tem seguido as pistas de 525 filhotes, desde o nascimento até a maturidade reprodutiva, e de suas mães. O resultado mais surpreendente é que, quando uma orca e sua filha parem no mesmo ano ou no seguinte, a cria da primeira tem 1,67 vez mais probabilidade de morrer antes dos 15 anos, início da fase adulta. Isso não acontecia quando a orca madura paria em períodos distintos da filha.

Apenas as fêmeas das orcas, das baleias aletas e as mulheres têm menopausa

Há outro dado que sustenta esta versão da hipótese da avó. Entre os mamíferos que formam grupos sociais (alguns grupos humanos levaram isso para o código civil), os filhotes que nascem primeiro são mais propensos a sobreviver. Ou porque recebem mais cuidados ou porque se aproveitam de poder se amamentar de várias mães, ser o primeiro é uma vantagem. Entre as orcas, o processo é diferente. As crias de orcas jovens nascidas depois do filhote de uma orca mais velha continuam tendo mais chance de chegar aos 15 anos.

“A menopausa tem evoluído como resultado tanto dos benefícios que as fêmeas mais velhas podem oferecer às suas crias e aos filhotes destas quanto aos custos da competição para reprodução”, diz Darren Croft, professor de comportamento animal da Universidade de Exter (Reino Unido) e principal autor da pesquisa. “Nossas pesquisas anteriores mostraram como as fêmeas mais velhas ajudavam, mas não por que deixavam de reproduzir. As fêmeas de muitas espécies permanecem sendo líderes até o fim de seus dias, mas continuam se reproduzindo; mas este novo trabalho revela que as fêmeas mais velhas chegam à menopausa porque perdem a competição reprodutiva com suas próprias filhas”, acrescenta.

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