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Secretário de Justiça de Trump encara o Senado sob a sombra do racismo

Senador Jeff Sessions é o primeiro membro do novo gabinete a se submeter ao Senado

Silvia Ayuso

Jeff Sessions não havia nem sequer começado a defender suas qualidades para se tornar o secretário de Justiça dos Estados Unidos sob a Administração Trump quando as antigas acusações de racismo e xenofobia começaram a alfinetá-lo na sessão do Senado em que teve início, nesta terça-feira, o seu processo de confirmação, o primeiro do gabinete do novo presidente republicano.

O senador republicano pelo Alabama e indicado para ser procurador-geral, Jeff Sessions.
O senador republicano pelo Alabama e indicado para ser procurador-geral, Jeff Sessions.JIM LO SCALZO (EFE)
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Sessions, uns dos republicanos que mais imediatamente aderiram à campanha de Trump, teve de responder várias vezes às velhas acusações sobre o seu passado racista. Assim como às suas críticas mais recentes à concorrente do candidato republicano, a democrata Hillary Clinton, contra quem ele defendeu, durante a campanha, que fosse feita uma investigação judicial por causa do uso de um servidor particular para seus e-mails quando ela era secretária de Estado. Sessions admitiu nesta terça-feira que essas declarações poderiam “por em questão a sua objetividade” nesse caso e prometeu que, se uma investigação desse tipo sobre Clinton venha a chegar à sua mesa, ele se isentará do caso, como parte de seu compromisso de não misturar a política com a aplicação da lei.

“Não podemos permitir que uma disputa política se transforme em uma disputa criminal”, defendeu, durante a agitada sabatina.

A pessoa que assume a liderança da Secretaria de Justiça tem que ser alguém que "mostre plena fidelidade às leis e à Constituição" no país e "esteja disposto a dizer 'não' ao presidente se este se exceder" em seu poder, disse Sessions, que assegurou que ele não quer ser, como secretário de Justiça, um "mero rótulo" que se limite a aprovar as decisões da Casa Branca.

Vários ativistas tiveram de ser retirados da sala depois de interromperem a sessão no Comitê de Justiça do Senado com gritos contra o militarismo e vestindo, em alguns casos, túnicas como as que são usadas pelos membros da Ku Klux Klan. “Não a Trump, não a um fascista, não ao KKK”, gritavam os manifestantes, que também protestaram quando Sessions se colocou contra o fechamento da prisão de Guantánamo.

As acusações de racismo, que era as mais insistentes, foram rechaçadas de imediato por um Sessions que, assim que tomou a palavra, as qualificou de “abominavelmente falsas”, afirmando se sente mal “com o Klan, com tudo o que ele representa e sua ideologia odiosa” e que “jamais tive as atitudes racistas de que me acusaram no passado”.

Sessions se referia a uma das maiores decepções de sua longa carreira política, quando, em 1986, sua indicação para um cargo de juiz federal, feita pelo então presidente Ronald Reagan, foi vetada pelo seu passado envolvendo comentários racistas quando era procurador em seu Estado natal, o sulista Alabama. Esse passado, que Sessions procurou rechaçar reiteradamente, voltou a surgir, 31 anos depois, quando o senador pelo Alabama viu como a sua longa carreira era avaliada detalhadamente na sessão do Senado com a qual se abriram as sabatinas dos membros do Gabinete de Trump que precisam ter a aprovação do Senado para assumir seus cargos.

Durante a audiência, Sessions reafirmou sua "reverência pela Constituição" e prometeu que aplicará a lei igualmente para todos. Mas ele reiterou alguns de suas mais controversas polêmicas, como sua posição dura contra a imigração ilegal. Como secretário de Justiça, ele prometeu ter como uma de suas "prioridades" de atuação "aqueles que violam repetidamente as nossas fronteiras." Sessions também reiterou o seu apoio à promessa eleitoral de Trump de reverter a ordem executiva por meio de que Barack Obama permitiu a regularização temporária de jovens imigrantes sem documentos que chegaram ao país ilegalmente quando criança. O popular programa de ação, conhecido pela sigla DACA, beneficiou mais de 740.000 jovens desde a sua criação em 2012.

Ao longo desta semana, alguns dos nomes indicados por Trump terão de comparecer a diversas comissões do Senado, como é o caso, também, do possível futuro secretário de Segurança Nacional, o general reformado John Kelly, ou o futuro chefe da diplomacia norte-americana, Rex Tillerson, que, nesta quarta-feira, deverá ser questionado, entre outros assuntos, sobre os laços estreitos que mantém com a Rússia como executivo da companhia de petróleo Exxon Mobil.

Embora a existência de uma maioria republicana no Senado leve a prever que os escolhidos por Trump serão aprovados, os democratas prometem não tornar fácil a vida dos indicados, cujo passado será levantado com lupa. Foi o que ocorreu nesta terça-feira na sessão com Sessions, em que a senadora democrata pela Califórnia, Diane Feinstein não hesitou, no seu discurso, em lembrar que mais de 400 entidades de direitos humanos lhe haviam escrito para manifestar sua oposição à indicação do republicano como procurador-geral.

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