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Obama acusa republicanos de dar asas a Putin

Presidente dos EUA se defende dos críticos que o acusam de passividade diante da Rússia e na Síria

Marc Bassets
Última conferência de Obama
Última conferência de ObamaCARLOS BARRIA (REUTERS)

Barack Obama criticou nesta sexta-feira o Partido Republicano de Donald Trump por sua atitude complacente em relação à Rússia de Vladimir Putin que, segundo os serviços de inteligência dos Estados Unidos, foi responsável por uma série de ataques cibernéticos destinados a influenciar a última eleição presidencial em favor do magnata. Na última conferência de imprensa do ano e, talvez, de sua presidência, o democrata Obama se defendeu contra as acusações de ter recuado diante dos ataques russos. E acusou os que questionam valores como a liberdade de imprensa e respeito às diferenças nos EUA de dar asas a Putin.

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Ronald Reagan se contorceria em seu túmulo”, disse o presidente, que deixa a Casa Branca em janeiro, depois de criticar os atuais republicanos que aplaudem Putin. Na década de oitenta, durante a última fase da Guerra Fria, o presidente republicano Reagan desafiou a União Soviética com um discurso patriótico e anticomunista.

Foi uma conferência de imprensa de quase uma hora e meia, dialética e discursiva. Obama tentou fazer um balanço positivo de seus oito anos na presidência. Mas acabou admitindo sua frustração sobre questões que vão desde a polarização política do país à guerra civil na Síria, ou as dificuldades do Partido Democrata depois das eleições. Trump será empossado no cargo em 20 de janeiro.

A coincidência, na mesma semana, da publicação de novas evidências sobre a interferência russa na campanha e a tomada da cidade síria de Aleppo após o cerco violento das forças de Bashar al-Assad, apoiadas pela Rússia, expõe uma marca de Obama: sua postura vacilante, seus esforços para ser justo, sua dificuldade em tomar decisões quando nenhuma solução é adequada.

“Sempre me sinto responsável”, disse Obama referindo-se a Aleppo e à guerra na Síria, que, diante da paralisia da primeira potência mundial, levou à morte de 400.000 pessoas em quase seis anos de guerra. O presidente justificou que as soluções alternativas, como uma invasão terrestre, eram indesejáveis. Mas acrescentou: “Não posso argumentar que tenhamos sido bem-sucedidos. É algo com o qual durmo todas as noites, como ocorre com muitas coisas e problemas no mundo”.

A mesma crítica — a inação diante de situações de crise — o persegue no caso do roubo e divulgação, por parte da Rússia, de milhares de e-mails do Partido Democrata e da equipe de sua candidata, Hillary Clinton, durante a campanha para as eleições de 8 de novembro. Obama apontou Putin, sem pronunciar seu nome, como o mais alto responsável pela pirataria. Também na sexta-feira, o The Washington Post publicou que o FBI defende a tese da CIA segundo a qual o alvo da operação russa era ajudar Trump na campanha.

O presidente se defendeu da acusação de passividade explicando que, em setembro, em uma cúpula na China, recomendou a Putin que suspendesse os ataques, e, desde então, não houve mais interferências. O presidente norte-americano disse que, durante a campanha, quis manter um tom neutro para evitar o questionamento do processo e parecer que estaria favorecendo um candidato. Obama destacou, ao contrário do que afirma Trump, que os dados sobre os ataques cibernéticos foram divulgados ao público no início de outubro, um mês antes das eleições, em um comunicado com o respaldo dos serviços de inteligência.

“Acredito que administramos da maneira que deveríamos fazê-lo”, disse. “Todos tiveram a informação.”

Seu argumento vai mais longe. A Rússia, em sua opinião, não deveria ser capaz de mudar ou enfraquecer os EUA. “São um país menor, mais fraco, sua economia não produz nada que alguém queira exceto petróleo, gás e armas. Não inovam”, disse.

Mas a Rússia, continuou, pode atingir os EUA se este perder seus valores, se começar a aceitar ideias como a de que “é correto intimidar a imprensa ou prender dissidentes ou discriminar pessoas por causa de sua fé ou sua aparência”. Todos estes são argumentos que Trump e seus colaboradores brandiam durante a campanha eleitoral. O próprio Trump elogiou Putin e chegou a incentivar a Rússia a piratear os e-mails de Hillary. O presidente citou uma pesquisa segundo a qual um terço dos eleitores republicanos — o partido de Reagan, dos falcões antissoviéticos — veem Putin, ex-agente da KGB, com bons olhos.

“O que mais me preocupa”, disse Obama, “é o grau em que, devido à batalha partidária, começamos a ver pessoas no Partido Republicano que, de repente, aprovam um Governo, ou indivíduos que são contrários a tudo que defendemos, só porque não gostam dos democratas”.

Não citou o nome de Trump: o presidente quis manter o respeito institucional. Mas não foi necessário. Deu para entender perfeitamente.

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