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Obama promete represálias à Rússia por ingerência nas eleições dos EUA

"Quando qualquer Governo estrangeiro tenta impactar a integridade das nossas eleições, devemos agir"

Marc Bassets
O presidente Barack Obama durante um ato na Casa Branca, em 14 de dezembro.
O presidente Barack Obama durante um ato na Casa Branca, em 14 de dezembro.ZACH GIBSON (AFP)

A interferência da Rússia durante a campanha eleitoral dos Estados Unidos contrapõe a Casa Branca do democrata Barack Obama à futura administração do republicano Donald Trump. O atual Governo vê o dedo do presidente russo, Vladimir Putin, por trás do roubo e divulgação de e-mails da equipe do Hillary Clinton, rival de Trump nas eleições de 8 de novembro. Trump, por sua vez, acusa os democratas de procurarem desculpas pela derrota de Clinton. Obama promete represálias contra a Rússia.

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Em entrevista à rádio NPR, Obama disse: “Acredito que não haja dúvidas de que, quando qualquer Governo estrangeiro tenta impactar a integridade das nossas eleições, devemos agir. E agiremos, no momento e lugar que escolhermos. Em parte pode ser explícito e divulgado, em parte não”.

O problema para o ainda presidente é que seu prazo para isso é de apenas um mês e cinco dias, até 20 de janeiro, quando Trump toma posse. E o presidente-eleito já deixou claro que não acredita na conclusão dos serviços de espionagem dos EUA, segundo os quais a Rússia foi responsável pelos ataques cibernéticos.

Alguns democratas acusaram Obama de passividade perante a suposta operação de Moscou para sabotar as eleições em prol de Trump. Num artigo publicado no The Washington Post, o chefe de campanha de Clinton, John Podesta, pediu ao Governo Obama que suspenda o sigilo sobre o maior número possível de informações sobre o caso. Ele propôs também que a Casa Branca apresente um relatório antes de segunda-feira, quando o Colégio Eleitoral se reúne para formalizar a eleição de Trump.

Obama deve conceder a partir de 11h15 desta sexta-feira (hora de Brasília) uma entrevista coletiva antes de embarcar para o Havaí, onde passa as festas de final de ano. Será a última do ano, e talvez a última do seu mandato.

A suposta tentativa de sabotagem eleitoral em favor de Trump certamente ocupará boa parte dessa coletiva. Os serviços norte-americanos de espionagem acreditam que a Rússia orquestrou o ataque cibernético. A CIA sustenta ainda, segundo fontes anônimas citadas pela imprensa local, que o objetivo foi ajudar o republicano. A Casa Branca, segundo seu porta-voz, Josh Earnest, corrobora tal versão. E vai além: na quinta-feira, em sua conversa diária com os jornalistas, Earnest acusou Putin, sem mencionar seu nome.

Ele se referia à conclusão, por parte dos serviços de espionagem dos EUA, de que o ataque digital só poderia ter ocorrido se fosse autorizado pelos “mais altos funcionários”. Esta frase levou o porta-voz a concluir que é “bastante óbvio que se referiam ao mais alto funcionário na Rússia”. Ou seja, a Putin.

Também insistiu em recordar que, durante a campanha, Trump incentivou a Rússia a piratear os emails de Clinton. Trump afirmou depois que havia dito isso de brincadeira. “Não acredito que ninguém na Casa Branca acredite que seja divertido que um adversário dos Estados Unidos se envolva em uma atividade cibernética maliciosa para desestabilizar nossa democracia. Não é uma brincadeira”, afirmou Earnest. “Ninguém na Casa Branca achou que fosse brincadeira. Ninguém na comunidade de espiões acreditou que fosse uma brincadeira.”

Trump não gostou das palavras de Earnest. “Esse idiota do Josh Earnest, não sei ele se fala com Obama”, disse o presidente-eleito num comício na Pensilvânia, parte de uma viagem de agradecimento por Estados que lhe deram a vitória. “Ter a um bom assessor de imprensa é importante, porque ele [Earnest] é ruim demais transmitindo a mensagem.”

Horas antes, em postagem no Twitter, Trump escreveu: “Se a Rússia, ou outra entidade estava pirateando, por que a Casa Branca esperou tanto para agir? Por que só se queixaram depois que Hillary perdeu?”. A insinuação é falsa.

Em 7 de outubro, um mês antes das eleições, os chefes do Gabinete de Inteligência Nacional, que agrupa as 17 agências de espionagem dos EUA, e do Departamento de Segurança Doméstica, divulgaram um comunicado conjunto apontando a Rússia como responsável pelo hackeamento. Vários congressistas prometeram uma investigação.

As palavras de Earnest sobre Trump e a resposta do presidente-eleito são o primeiro atrito público entre a equipe de Obama e seu sucessor. O democrata se esforçou até agora em preservar a unidade institucional, e Trump declarou várias vezes depois das eleições a sua admiração pelo democrata. Agora a trégua terminou.

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