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Trump retira sua marca de hotel no Rio de Janeiro

A Trump Organization reclama da demora na conclusão do empreendimento de luxo Empresa dona de hotel é investigada em operação que apura fraude em fundos de pensão

María Martín
O Trump Hotel, no Rio de Janeiro, com vistas ao Ocêano Atlántico.
O Trump Hotel, no Rio de Janeiro, com vistas ao Ocêano Atlántico.Silvia Izquierdo (AP)
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A Trump Organization, propriedade do presidente eleito dos Estados Unidos, vai retirar sua marca do único hotel da América do Sul que leva seu nome, o Trump Hotel do Rio de Janeiro. A porta-voz da Trump Hotels informou que a ruptura foi motivada pela demora na construção do edifício de 171 quartos, com chão de mármore importado da Turquia e papel de parede holandês. O hotel, que custou cerca de 333 milhões de reais, foi projetado para as Olimpíadas de agosto e ainda está inacabado. A companhia disse também que sua equipe se esforça em “superar as mais altas expectativas” e oferecer aos clientes “experiência de serviço sem paralelo” e que a visão dos responsáveis do hotel “não se alinha mais com a marca” da companhia norte-americana.

O Trump Hotel, construído na Barra da Tijuca, bairro de classe média alta que foi cenário dos Jogos Olímpicos, é propriedade da LSH Barra Empreendimentos Imobiliários S.A, e é alvo de uma investigação do Ministério Público Federal. Em outubro, no âmbito da Operação Greenfield que investiga possíveis fraudes que causaram déficits bilionários a fundos de pensão brasileiros, o procurador Anselmo Cordeiro Lopes fez públicas suas suspeitas. Segundo Lopes, poderia haver irregularidades no aporte de recursos de dois fundos de pensão de servidores públicos no fundo de investimento responsável pela construção do Trump Hotel, no Rio. Os aportes “possivelmente criminosos”, segundo o procurador, envolvem 77,3 milhões de reais da carteira de investimentos do Instituto Serpro de Seguridade Social – o segundo maior investimento em participações atualmente realizado pelo Serpro – e 54,3 milhões de reais, do Instituto de Gestão Previdenciária do Estado do Tocantins.

A Trump Organization, que apenas dá a marca e não é proprietária do hotel, não fez nenhuma menção à investigação, assim como a LSH Barra, que não respondeu aos questionamentos da reportagem. Uma fonte conhecedora do projeto afirma que era mútua a vontade de romper a parceria.

Duas semanas atrás, o presidente eleito do Estados Unidos, Donald Trump, usou o Twitter para informar que delegaria todos seus negócios a seus filhos e que a Trump Organization não fecharia “novos acordos” durante o tempo que dure sua presidência. O objetivo de Trump é evitar as acusações de que haverá conflito de interesse entre a posição de presidente dos Estados Unidos e a de magnata com negócios imobiliários em mais de uma dezena de países. Trump, que continuará sendo proprietário da companhia que leva seu nome, disse que pretende se focar “totalmente em dirigir o país”.

O pai do projeto do Hotel Trump no Rio é Paulo Figueiredo Filho, jovem empresário carioca que hoje mora em Miami e é neto do último presidente da ditadura militar brasileira. Figueiredo está fora do comando da LSH Barra e oficialmente desvinculado do hotel desde janeiro, embora mantenha uma pequena participação como investidor minoritário. Ele, no entanto, após saber da notícia pela imprensa –The Washington Post foi o primeiro a divulgar o divórcio – lamentou a decisão dos Trump.

“Fui executivo dessa companhia até 2015 e minha relação com todos na Trump Organization sempre foi excelente. Infelizmente, por causa da minha ausência da direção da empresa e atual participação minoritária, não tenho ingerência em decisões com as quais nem sempre concordo”, disse Figueiredo em uma “nota pessoal” no seu perfil de Facebook. “Minha reverência à família e minha admiração pelo empresário e presidente Donald Trump - com quem partilho tantas ideias e de quem fui grande entusiasta da campanha - não mudam nem um milímetro. Como ele mesmo diz, isso faz parte do mundo dos negócios e, quem sabe, faremos outros juntos”, completou.

O Rio de Janeiro era a maior porta de entrada de Trump para a América Latina, onde o empresário só opera um hotel de luxo no Panamá e deu seu nome a uma torre residencial, ainda em construção, na badalada Punta del Este, no Uruguai. No Rio, estava em marcha também a construção das Trump Towers, um bilionário complexo de cinco torres comerciais de 150 metros de altura no remodelado porto da cidade e que ainda não saiu do papel. 

As torres de Trump também aparecem na investigação do Ministério Público Federal. O procurador menciona a Trump Organization como "beneficiada por meio de investimento" que o  FI-FGTS, um fundo bilionário administrado pela Caixa Econômica Federal, fez no Fundo de Investimento Imobiliário Porto Maravilha, "veículo de aporte de recursos na Trump Towers Rio". Segundo o prefeito Eduardo Paes (PMDB),  o empreendimento poderia ser o maior investimento imobiliário da cidade. As possíveis irregularidades cometidas pelo FI-FGTS já são alvo de uma ação penal que tem como acusado ao ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, hoje em prisão.

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