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Polícia do Rio identifica traficantes que participaram do assassinato do turista italiano

Entre os suspeitos há um menor de idade. A morte de Bardella é o terceiro assassinato de um italiano em menos de um mês no Brasil

Roberto Bardella, 52 anos, (e) e Rino Polatto (d) de 59
Roberto Bardella, 52 anos, (e) e Rino Polatto (d) de 59Facebook

A Polícia Civil do Rio, cujo índice de resolução de homicídios é de apenas 16%, está empenhada em resolver o mais rapidamente possível o caso de Roberto Bardella, o turista italiano assassinado na quinta-feira, quando entrou por engano em uma favela carioca. Um dia após o incidente, os investigadores apresentaram os nomes de nove homens, que afirmam ter participado direta ou indiretamente do crime, incluindo um menor de idade. A Justiça já decretou a prisão preventiva deles, cujo paradeiro ainda é desconhecido. Na tarde deste sábado, entretanto, a Polícia Civil voltou atrás sobre a identidade de um dos suspeitos apontados anteriormente, já que a família dele informou aos agentes que o rapaz já estava na prisão havia quatro meses. O delegado responsável pelo caso pedirá que, no caso dele, a prisão decretada seja revogada na segunda, o que leva o número de suspeitos para oito. 

Todos eles, com idades entre 16 e 46 anos, são, segundo a Polícia, traficantes do Morro dos Prazeres, favela no bairro turístico de Santa Teresa, onde Roberto Bardella, 52 anos, e seu primo, Rino Polato, de 59, entraram com suas motocicletas seguindo as instruções de um aplicativo de GPS. Sua intenção era, depois de ter visitado o Cristo Redentor, ir até a praia de Copacabana, onde estavam hospedados, mas confundiram uma das ruas e foram parar no território do narco.

Os dois italianos, que estavam realizando uma viagem de motocicleta pela América Latina, estavam vestidos com macacões pretos de motociclistas com superfícies reflexivas, uma roupa muito semelhante à utilizada pela polícia, inimigo número um dos traficantes. Bardella, que ia na frente, também usava uma câmera estilo Go-Pro presa no capacete.

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Apenas 300 metros depois de ter entrado na comunidade, um grupo de cerca de dez traficantes armados com fuzis bloqueou o caminho. Os criminosos perguntaram sobre a câmera para Bardella que não falava português e, em seguida, Romulo Pontes, de 22 anos, atirou, segundo depoimento de Polato. Pensaram que estavam sendo gravados pela polícia. A ordem do chefe da favela, segundo os investigadores, é para atirar em qualquer suspeito que cruzar essa fronteira invisível onde as regras que valem são as do crime.

Depois de atirar em Bardella na cabeça e no braço, o grupo colocou seu cadáver no porta-malas de um carro branco e forçou Polato a ir com eles. Circularam por duas horas pela favela, enquanto ameaçavam o italiano e aguardavam ordens do chefe da região sobre o que fazer com os turistas. No final, decidiram liberá-los. O corpo de Bardella foi encontrado em uma das ruas do bairro e Polato perto dali em estado de choque. Os traficantes chegaram a lavar as motocicletas que os turistas tinham trazido da Itália, de acordo com os investigadores.

A favela onde Bardella e Polato se perderam é parte do projeto de pacificação de 30 comunidades carentes no Rio, iniciado em 2008 pela Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas deste ano. A ideia original era levar agentes com espírito de polícia comunitária a esses bairros dominados pelo tráfico, aproximar-se da população e, assim, neutralizar o poder dos criminosos, acostumados a vender drogas e caminhar pela favela fortemente armados em plena luz do dia. Durante os primeiros anos o projeto deu frutos e houve uma queda significativa no número de homicídios nessas favelas, mas a crise, a brutalidade e os excessos de alguns policiais, além da falta de investimento social nessas regiões colocaram em xeque a iniciativa. Hoje, as principais favelas pacificadas registram tiroteios frequentes, consequência tanto dos confrontos dos traficantes com a polícia, como das próprias guerras territoriais travadas entre as diferentes facções criminosas do Rio.

Polato e Bardella, que tinha uma agência imobiliária com sua esposa, viviam em Jesolo, uma pequena cidade a 43 quilômetros de Veneza, e tinham começado sua viagem pela América Latina no último dia 29. Visitaram Buenos Aires, na Argentina, e Assunção, no Paraguai, de onde partiram, com suas motos, para o Brasil.

Esta não é a primeira vez que alguém morre no Rio de Janeiro seguindo um GPS que não identifica áreas de risco na cidade. É o terceiro caso conhecido em pouco mais de um ano. Em agosto, durante as Olimpíadas, um agente da Força Nacional, que colaborava na segurança do evento, foi morto com um tiro na cabeça ao entrar por engano no complexo de favelas da Maré. Em outubro de 2015, um casal de aposentados, que ia jantar, confundiu o endereço do restaurante e terminou em uma emboscada em uma favela de Niterói, na região metropolitana do Rio. Os traficantes atiraram mais de 20 vezes contra o veículo e a mulher, Regina Murmura, de 70 anos, morreu a caminho do hospital.

A morte de Bardella é o terceiro assassinato de um italiano em menos de um mês no Brasil. A siciliana Pamela Canzonieri, de 39 anos, foi encontrada estrangulada no dia 18 de novembro em sua casa em Morro de São Paulo, um paraíso turístico no Estado da Bahia. No início desta semana, a polícia de Fortaleza encontrou morto Alberto Baroli, um milanês de 51 anos, vítima de um assalto em sua própria casa.

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