Merkel sob pressão
A imigração tornou-se uma das questões mais sensíveis com as quais a chanceler deve lidar
A questão da imigração está se revelando um dos pontos mais delicados que os governantes europeus — e os aspirantes a governar — enfrentam na hora de defender suas posições nas várias campanhas eleitorais e referendos. As abordagens mais demagógicas e radicais do espectro político, encarnadas pelos diversos movimentos populistas conseguiram impregnar, em maior ou menor grau, o discurso das demais formações e candidatos, temerosos de perder apoio se não entrarem na dinâmica.
A chanceler alemã Angela Merkel, durante o congresso da União Democrata Cristã (CDU) que na terça-feira ratificou-a como líder da formação conservadora — e a lançou, portanto, à reeleição —, fez duas referências a esse problema em seu discurso quando se referiu ao endurecimento das leis de imigração e à proibição do véu islâmico integral. Mesmo numa atmosfera tensa na Alemanha pela constante propaganda xenófoba produzida pelo partido de extrema direita Alternativa para a Alemanha (AfD), não deixa de ser surpreendente que essas duas referências tenham provocado a adesão entusiástica de correligionários que tinham se limitado a aplausos protocolares quando Merkel abordou outras questões fundamentais para o país, como as medidas para manter equilibradas as contas do Estado.
A chanceler está sendo submetida a grande pressão em relação a um assunto — a política de abertura, em 2015, a quase um milhão de pessoas que, praticamente sem nada, se aglomeravam em suas fronteiras — que quase acabou com a histórica aliança com a União Social-Cristã da Baviera. Agora, Angela Merkel teve de dizer que aquilo “não pode se repetir”. A veterana líder tem pela frente a difícil tarefa de dar respostas a um eleitorado agitado sem cair nas armadilhas colocadas pelo populismo.