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acidente aéreo chapecoense
Análise
Exposição educativa de ideias, suposições ou hipóteses, baseada em fatos comprovados (que não precisam ser estritamente atualidades) referidos no texto. Se excluem os juízos de valor e o texto se aproxima a um artigo de opinião, sem julgar ou fazer previsões, simplesmente formulando hipóteses, dando explicações justificadas e reunindo vários dados

“Mi casa es tu casa”

Homenagem do Atlético Nacional de Medellín à Chapecoense inspira nos brasileiros o sentimento pan-americano e uma nova imagem da Colômbia

Tributo à Chapecoense em Medellín na quarta-feira, 30 de novembro.
Tributo à Chapecoense em Medellín na quarta-feira, 30 de novembro.RAUL ARBOLEDA (AFP)

A imagem do estádio Atanasio Girardot, lotado com 45.000 torcedores do Atlético Nacional na noite da última quarta-feira para celebrar a Chapecoense, ficará para sempre cravada na mente dos brasileiros. Diante do acidente aéreo que vitimou o clube catarinense, o evento, que se espalhou pelas ruas de Medellín, onde outros 100.000 se juntaram à homenagem (segundo dados da prefeitura da cidade), deixou de ser a final do campeonato Sul-Americano de futebol para se transformar num momento de elo profundo entre Brasil e Colômbia.

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Colômbia – esse país próximo e distante, que a maioria de nós costuma associar a drogas, Pablo Escobar e, na melhor das hipóteses, café – é neste momento fonte abundante de irmandade. E inspira com a potência de uma tragédia, mas também da solidariedade, o sentimento de pertencimento à América Latina que o Brasil perdeu pelo caminho. É o que comprovam as várias mensagens em redes sociais, rodas de conversa e ligações telefônicas dos últimos dois dias, em que nós, brasileiros, nos desmanchamos em elogios para eles e encontramos uma espécie de consolo combatendo a tristeza dos últimos dias.

Essa relação tão pouco pan-americana é mais evidente entre os lados hispânico e lusófono, mas não se restringe ao Brasil. Entre latino-americanos, estamos mais acostumados a pensar com quem rivalizamos e menos com quem nos damos bem. O Brasil compete com a Argentina (e não só no futebol), a Argentina tem questões com o Chile, o Chile se enfrenta há séculos por disputas de terra com a Bolívia e assim por diante – basta seguir as fronteiras. Sem mencionar que a própria Colômbia, com os estigmas que carrega, está acostumada a enxergar que em geral é mal vista na região – exceto no Paraguai, ao lado de quem os colombianos se posicionaram durante a Guerra da Tríplice Aliança, e onde os colombianos são queridos. Agora, também eles apreciam essa nova amizade.

Durante o tributo da quarta-feira, a Filarmônica de Medellín tocou os hinos do Brasil e da Colômbia, enquanto no centro do campo havia uma coroa de flores entre escudos da Chapecoense e do Nacional desenhados em preto, em memória da tragédia. O ministro das relações exteriores do Brasil, José Serra, fez um discurso em espanhol agradecendo a homenagem – e chorou, puxando as lágrimas de muitos na arquibancada (e as manchetes do dia nos jornais colombianos). Na rua, vendedores ambulantes vendiam camisetas produzidas de última hora com os escudos dos times enlaçados. Na página do Atlético Nacional no Facebook, brasileiros agradeciam o apoio recebido e declaravam-se torcedores do time. No post com o vídeo da homenagem, houve quem pusesse a própria casa à disposição de desconhecidos.

Foi assim que Medellín, a cidade que ganhou fama com o cartel de Escobar, virou a cidade do Nacional. E também como colombianos e brasileiros se viram e descobriram que têm muito o que compartilhar. Vida eterna a esse belo e autêntico “mi casa es tu casa”.

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