_
_
_
_
_

Fábrica de cimento mexicana se oferece para construir o muro de Trump

Cementos Chihuahua vê oportunidade de negócios no plano do presidente eleito dos EUA

David Marcial Pérez

A empresa de México Cementos Chihuahua fez valer o adágio mercantil segundo o qual nada deve atrapalhar um bom negócio. Nem o menosprezo, a humilhação e os insultos racistas de Donald Trump impediram o diretor-geral da fábrica de propor ao presidente eleito dos Estados Unidos que sua empresa colabore na construção de um muro separando os dois países. “Não podemos ser seletivos. Temos que respeitar nossos clientes dos dois lados.” Business as usual.

Muro metálico na fronteira
Muro metálico na fronteiraRUSSELL CONTRERAS (AP)

A empresa, com sede no Estado fronteiriço que lhe dá nome, vê uma oportunidade de negócio na promessa de campanha do magnata. “Build that wall” (construa esse muro) se tornou um slogan que os inflamados seguidores de Trump berravam como hooligans antes e depois da campanha. Um terço dos 3.000 quilômetros de fronteira já está delimitado por uma barreira de placas metálicas, erguida em 1993, durante o Governo Clinton.

Mais informações
Vitória de Trump prenuncia catástrofe econômica e social para o México
Trump tenta se distanciar da direita racista que o apoia: “Eu os repudio e condeno”
Muro de Trump já pode ser tocado, e está frio

O plano original de Trump era completar definitivamente o muro, bancando a obra com as remessas feitas por migrantes mexicanos nos EUA. “Vamos erguer esse muro, e o México ainda não sabe, mas vai pagar”, disse o empresário metido a político num comício horas depois de fazer uma surpreendente visita ao vizinho do sul, a convite do presidente Enrique Peña Nieto. Já como ganhador das eleições, na semana passada ele baixou o tom ao ressalvar numa entrevista televisiva que em alguns trechos a barreira “poderá ser uma cerca”.

Pensando nos interesses da Cementos Chihuahua, seria mais conveniente que a promessa inicial fosse cumprida, com a construção de um muro alto, es pesso e de concreto armado. A empresa, que conta com 70% dos seus negócios nos EUA e 30% no México, é especialista em concreto, argamassa e cimento de alta resistência. O deserto fronteiriço de Chihuahua é justamente uma das zonas onde não há muro. O calor nessa planície desértica, que chega a 50 graus, serve como barreira natural. Nos últimos 20 anos, 8.000 migrantes morreram tentando realizar a travessia.

“Para o negócio em que estamos, Trump é um candidato que favorece bastante o setor”, acrescentou o diretor-geral da companhia, Enrique Escalante, referindo-se a outros projetos anunciados pelo magnata em infraestrutura (rodovias, aeroportos) e energia (usinas de petróleo e elétricas).

Um terço dos 3.000 quilômetros de fronteira já está demarcado por uma barreira de placas metálicas

A Cementos Chihuahua, que negocia ações em Bolsa nem aparece na lista das 10 maiores fábricas de cimento do México, tem 23% do seu capital nas mãos da Cemex, dominante absoluta do mercado. A Cemex anunciou recentemente um plano de desinvestimento, que já deu seu primeiro passo neste mês com a venda de ativos na ordem de 306 milhões de dólares (um bilhão de reais) nos Estados mexicanos que fazem fronteira com os EUA.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_