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Empreiteiro diz, agora, que cheque de um milhão a Temer não é propina

Ex-presidente da Andrade Gutierrez mudou sua versão sobre o cheque, e diz que não houve pagamentos ilícitos à chapa Dilma-Temer

Gil Alessi

Otávio Marques de Azevedo, ex-presidente da construtora Andrade Gutierrez, mudou sua versão sobre o cheque de 1 milhão de reais pagos pela empresa para a campanha de Dilma e Temer em 2014. Na quinta-feira, em depoimento para o ministro Herman Benjamin, do Tribunal Superior Eleitoral, ele afirmou que não houve propina para a chapa da petista e seu vice. Em setembro ele havia afirmado na Corte que o montante era referente a pagamentos ilegais em troca de contratos obtidos pela empreiteira, e que o valor foi pago ao diretório nacional do PT. Porém, no início de novembro o aparecimento do cheque em nome de Michel Temer fez com que a defesa da petista alegasse que Azevedo, que colabora com a Justiça no âmbito da Operação Lava Jato, prestou falso testemunho. A retratação tem potencial de beneficiar tanto Dilma quanto Temer, mas é o atual ocupante do Planalto que tem mais a comemorar: a ação no TSE em que Azevedo depôs pede a cassação da chapa, e é a principal ameaça jurídica ao mandato do peemedebista.

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De acordo com advogados do empreiteiro, ele retificou o depoimento e afirmou ter se confundido quanto à natureza da doação, que não teria origem ilícita. "Ele apresentou a nova versão, dizendo que se equivocou e que, ao contrário do que disse, não houve da Andrade Gutierrez nenhum valor de propina para a campanha presidencial de 2014. Nem para a Dilma, nem para o PMDB, nem para a chapa", afirmou o advogado da campanha peemedebista Gustavo Guedes à Folha de S. Paulo.

Azevedo afirmou ainda que se confundiu, uma vez que o cheque foi emitido em nome de Michel Temer, mas recebeu recibos eleitorais assinados pelo tesoureiro petista Edinho Silva (eleito este ano prefeito de Araraquara, interior de São Paulo). Ele é alvo de processo na Justiça por seu suposto envolvimento com o esquema de corrupção da Petrobras.

A defesa de Dilma comemorou a retratação: "Hoje cai por terra toda e qualquer acusação de irregularidade na arrecadação de campanha de Dilma e Michel Temer", afirmou Flávio Caetano, advogado da petista ao jornal O Estado de S.Paulo. De acordo com ele, das 25 testemunhas que depuseram até agora no processo, só Azevedo havia confirmado pagamento de propina nas doações eleitorais. Ainda não há prazo para que a Corte analise a ação do PSDB. Caso a cassação da chapa ocorra após janeiro de 2017, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), assumiria e convocaria eleições indiretas. Caso o processo ocorra antes, serão realizadas novas eleições diretas. Caso a chapa fosse cassada, a ex-presidenta teria seus direitos políticos suspensos.

Agora a saga que opõe as defesas de Dilma e Temer no TSE pode estar chegando ao fim. PT e PMDB travam embate devido a uma ação do PSDB de 2014 que pede a cassação da chapa eleita por, entre outros motivos, supostamente ter recebido propinas disfarçadas de doações de campanha. Os peemedebistas alegam que as contas de Temer deveriam ser julgadas em separado, tese que ainda deverá ser analisada pelo tribunal. Os defensores de Dilma, reforçados pelo cheque em nome do atual presidente, querem derrubar a interpretação, argumentando que foi Temer e o PMDB que centralizaram parte da arrecadação para o fundo comum da campanha.

O advogado que representa o PSDB na ação, José Eduardo Alckmin, avaliou que o “conjunto da obra” poderá apontar o pagamento de propinas para a campanha de Dilma e Temer. “O fato é que houve, durante muito tempo, dinheiro de caixa dois, inclusive abastecendo o partido de Dilma e aí, realmente, causa a necessidade de um exame bem apurado para ver se esse dinheiro, que nem foi contabilizado, uma parte dele, se isso não terá incidido na campanha eleitoral".

A retratação de Azevedo não deve ser a última feita por delatores da Lava Jato. O repórter Afonso Benites informou, na semana passada, que delatores que omitiram informações, propositalmente ou não, serão convocados a prestar novos depoimentos nas próximas semanas. Entre eles estão representantes das empreiteiras Camargo Correa e Queiroz Galvão que deixaram de detalhar supostos esquemas de propina pagos para tocarem obras de responsabilidade dos Governos de São Paulo e de Minas Gerais quando eram administrados pelo PSDB. Obras realizadas nos Governos paulistas de José Serra e Geraldo Alckmin e no mineiro de Aécio Neves estariam na mira dos investigadores.

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