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Este iraniano vai convencer você de que programar é o novo ler e escrever

Ali Partovi lidera uma revolução mundial para que todas as escolas ensinem Ciências da Computação

Ali Partovi em uma conferência em Nova York.
Ali Partovi em uma conferência em Nova York.Neilson Barnard (Getty Images)
Ana Torres Menárguez

Quem ouve Ali Partovi (Teerã, 1972) falar se convence de que, independentemente da idade, todos deveríamos aprender a programar computadores. Não para evitar sermos excluídos do mercado de trabalho e substituídos por um robô, e sim para continuarmos conectados ao mundo. Por pura sobrevivência. "Saber programar vai se transformar no novo ler e escrever. Quem não souber código terá mais dificuldade para entender o mundo", defende Partovi, cofundador, com seu irmão gêmeo, da ONG Code.org, nascida em 2012 no Vale do Silício com o objetivo de convencer todas as escolas do mundo a incluírem as Ciências da Computação em seus currículos.

Partovi explica de forma clara o porquê disso. "Imagine mandar um estudante a um colégio no qual não se ensina a fotossíntese ou o sistema digestivo. Ninguém chamaria isso de educação. Hoje os alunos estão rodeados de computadores. Usam com mais frequência seu celular do que seu sistema digestivo, e merecem que lhes expliquem como ambos funcionam", disse ele numa palestra no evento South Summit, em Madri. Ele, que estudou Ciências da Computação na Universidade Harvard e aos 25 anos vendeu sua empresa LinkExchange à Microsoft por 265 milhões de dólares (cerca de 900 milhões de reais, pelo câmbio atual), acredita que para ter acesso ao ensino superior não basta mais simplesmente saber ler e escrever.

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É necessário saber programar. Ele cita como exemplo a Universidade de Stanford: das 65 graduações que oferece, pelo menos metade exige conhecimentos de programação. Recentemente, foram lançados 14 novos cursos que misturam humanidades (história ou literatura, por exemplo) com Ciências da Computação. A universidade diz em seu site que esta especialidade prepara os alunos para trabalharem na administração pública, no âmbito acadêmico, em empresas ou na advocacia. "Hoje, 90% dos seus alunos fazem aulas de programação. É preciso saber como funcionam as máquinas que nos cercam por toda parte", acrescenta Partovi.

Quando ele e seu irmão tinham nove anos, seu pai lhes deu de presente um computador que não continha nenhum jogo. Aprenderam a programá-lo. Aos 15 anos, se mudaram do Irã para os Estados Unidos e, ainda durante o ensino médio, conseguiram vários empregos como programadores. Depois de se formarem, instalaram-se em São Francisco, onde criaram diversas start-ups tecnológicas e deram suporte a alguns gigantes como Facebook, Dropbox e Airbnb. Em 2012 lançaram a Code.org, e desde então sete países incluíram as Ciências da Computação em seu programa escolar: Austrália, Argentina, Itália, Reino Unido, Coreia do Sul, Arábia Saudita e Estados Unidos, onde mais de 120 escolas públicas têm acordos de colaboração com a organização. Em quatro anos, formaram mais de 40.000 docentes.

Os adolescentes usam com mais frequência seu celular do que seu sistema digestivo, e ninguém lhes explica como funciona

"A programação permite assimilar conceitos matemáticos complexos numa idade mais precoce", observa Partovi em entrevista ao EL PAÍS. Menciona como exemplo as funções, que na disciplina de Ciências da Computação são introduzidas aos 9 anos, e na de Matemática apenas aos 12. "Muitos pais acharão que seus filhos já passam muitas horas na frente de uma tela de computador, mas devem saber que se aprende a programar também com papel e lápis", continua. O primeiro computador foi inventado em 1943, mas 100 anos antes Ada Lovelace escreveu o primeiro programa. "Só usou sua imaginação, essa é a chave da programação, que, como a escrita, uma vez que é conhecida permite criar ideias próprias e compartilhá-las".

No seu site, a Code.org oferece cursos gratuitos de introdução à programação tanto para crianças como para adultos, e alguns dos vídeos são conduzidos por Bill Gates ou Mark Zuckerberg.

Outra das opções para aprender a programar é o Arduino, um chip do tamanho de um cartão de crédito que se conecta ao computador e, depois de instalar um software, ensina passo a passo como desenvolver um código. Custa 90 reais. O sucesso do produto, que foi lançado em 2005 e no ano passado acumulou 25 milhões de usuários únicos em seu site e mais de 11 milhões de downloads do seu software, se deve à facilidade de uso. "Qualquer pessoa, de uma criança de sete anos a um idoso de 90, pode aprender a programar com o Arduino sem nenhum conhecimento prévio. Nós o concebemos para tornar o mundo da computação mainstream [para todos os públicos]", conta o criador do chip, Massimo Banzi.

Ele também considera que em poucos anos quem não entender como funciona a tecnologia tampouco compreenderá o mundo. "Além de encontrar um emprego, ter esse conhecimento servirá para não ser um consumidor passivo, para saber fazer as perguntas e não perder liberdade como cidadão", observa Banzi. Na era da Internet das Coisas, a maioria de produtos do mercado estará conectada à rede, diz Banzi, e quem não entender os problemas que poderão decorrer disso ficará alienado.

Das 65 graduações que Stanford oferece, pelo menos metade exige conhecimentos de programação

Há cerca de quatro anos, surgiram nos Estados Unidos as chamadas code academies (escolas de programação). A alta demanda por especialistas em tecnologia fez com que estas escolas brotassem em cidades como São Francisco, Nova York e Boston, com cursos intensivos de 12 ou 14 semanas a preços astronômicos (milhares de dólares), mas que, em alguns casos, chegavam a triplicar o salário dos alunos formados. "Programar é muito mais simples que escrever em linguagem natural; é mais difícil escrever um artigo que um programa simples de computador", diz Sebastián Barajas, fundador da Ubiqum Code Academy, aberta em Barcelona em 2014. Ali se pode acompanhar um curso de 600 horas – 16 semanas – que custa 7.000 euros (25.000 reais) e prepara para trabalhar no setor de tecnologias da informação e comunicação.

Laura Raya, chefe da pós-graduação em Engenharia do Centro Universitário de Tecnologia e Arte Digital, em Madri, acredita que a única forma de as pessoas não ficarem desempregadas é aprendendo a controlar os robôs. "Entender a lógica de como e por que os aparelhos funcionam, só para sobreviver e ser autônomo", diz. Os produtos já não são mais vendidos com manuais; espera-se que qualquer um tenha uma mínima intuição tecnológica. "Tudo o que fazemos responde a um algoritmo. É hora de que todos entendam como e por quê."

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