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Rebeliões em prisões de Rondônia e Roraima deixam 18 mortos em menos de 24 horas

Em Boa Vista, confronto entre presos de facções rivais começou na hora da visita dominical

Tom C. Avendaño
Imagem de arquivo mostra presos rebelados na penitenciária de Cascavel (PR), em 2014.
Imagem de arquivo mostra presos rebelados na penitenciária de Cascavel (PR), em 2014.AFP
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Um confronto entre facções rivais numa penitenciária de Roraima deixou pelo menos 10 mortos, alguns dos quais após serem decapitados, e outros, queimados vivos. As autoridades suspeitam que o incidente, um dos episódios mais sangrentos na história do sistema penitenciário desse Estado, se deve ao fim de um acordo de paz entre o Comando Vermelho e o Primeiro Comando da Capital. Isso também explicaria o tumulto ocorrido horas depois numa prisão de Porto Velho (Rondônia), onde oito presos morreram.

Segundo o secretário de Justiça de Roraima, Uziel Castro, o incidente começou na tarde deste domingo, durante o horário de visita à Penitenciária Agrícola de Monte Cristo, em Boa Vista. Os réus do pavilhão 14 invadiram a ala 12 e mantiveram 50 familiares de presos como reféns, a maioria mulheres. A esposa de um detento relatou ao site de notícias G1 que os presos invasores estavam armados com facas e pedaços de pau. Outras testemunhas citaram chaves de fenda. Falando ao jornal local Folha de Boa Vista, outra esposa disse que os problemas de convivência entre os dois grupos eram inevitáveis. “Essa penitenciária é uma bagunça. A gente vivia dizendo que tem que separar os presos, mas eles continuam no mesmo lugar. Em pouco tempo a gente só ouvia os gritos e barulho de tiro e de bomba. A gente fica desesperado porque nossos filhos, esposos, pais e irmãos estão aí dentro.”

Os detentos exigiam que um juiz ouvisse suas reivindicações. Mas quem apareceu por lá foram 80 soldados do Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE), que evitaram que o grupo continuasse invadindo outras alas da prisão. Ao anoitecer, o comandante do Batalhão, capitão Falkner, anunciou a libertação de todos os reféns.

Segundo a Folha de Boa Vista, a invasão foi feita por presos ligados ao Primeiro Comando da Capital, uma facção paulistana, contra rivais do carioca Comando Vermelho. As autoridades suspeitam que o acordo que permitia a convivência entre os dois grupos deixou de vigorar.

Motim semelhante em Rondônia

Horas depois, 1.600 quilômetros ao sul de Boa Vista, a penitenciária Ênio dos Santos Pinheiro, em Porto Velho, registrava um confronto semelhante entre dois grupos. Segundo as autoridades, oito presos morreram asfixiados pela fumaça resultante do fogo ateado numa cela. “O motim começou ao amanhecer”, disse o diretor da penitenciária, Jobson Bandeira, ao G1. "As duas facções começaram a brigar e a incendiaram uma das celas. Foi a fumaça de um dos colchões que os matou.”

Os sindicatos de agentes carcerários aproveitaram para apontar que o verdadeiro culpado desses incidentes são as deficiências do sistema penitenciário brasileiro, que abriga, segundo cálculos do Ministério da Justiça em 2014, 622.000 pessoas (em sua maioria homens negros). “Infelizmente, isso só reflete o desinteresse do Governo”, denuncia Joana D’Arc Moura, vice-presidenta do Sindicato dos Agentes Penitenciários de Roraima. "Não há equipamentos de segurança, o pessoal é insuficiente para prestar o serviço, e os agentes trabalham além dos seus próprios limites.”

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