_
_
_
_
_

Petrobras estreia política de preço da gasolina para enviar mensagem a investidor

Valor do litro pode cair 5 centavos, mas depende da decisão dos postos e distribuidoras

ANTONIO LACERDA (EFE)

Nos próximos dias, os motoristas devem começar a encontrar gasolina e diesel um pouco mais baratos nos postos de todo país. Nesta sexta-feira, a Petrobras anunciou que reduzirá o preço dos combustíveis nas suas refinarias, o que não acontecia desde 2009. A estatal decidiu diminuir o valor do diesel em 2,7% e o da gasolina em 3,2%. Os novos preços entrarão em vigor neste sábado.

Mais informações
Com alta no combustível, argentinos recorrem ao Brasil e Paraguai para abastecer
Senado aprova fim da obrigação da Petrobras para explorar pré-sal
Petrobras reduz investimentos em 25% sob comando de novo presidente

Com a redução, a Petrobras estreia uma nova política de preços, baseada na paridade internacional dos produtos no exterior e revela a intenção de enviar um sinal de força aos investidores:  apesar dos problemas de caixa, a companhia diz estar pronta a abraçar novas práticas de transparência e com menos dependência de seu acionista majoritário, a União.

A decisão da companhia levou em conta também o crescente volume de importações de combustíveis. Com os preços menores no exterior, a estatal está perdendo mercado no Brasil. "O aumento das compras externas vem sendo observado especialmente no caso do diesel, onde, a entrada de produtos já responde por 14% da demanda do país. No caso da gasolina, as importações cresceram 28% ao mês entre março e setembro deste ano", explica a empresa em comunicado. A queda do dólar também contribuiu para a decisão. A partir de agora, serão realizadas reuniões mensais para avaliar os preços, com resultados divulgados à imprensa e por meio dos canais de relacionamento da companhia.

Para especialistas, a decisão revela que a empresa - em xeque após o descobrimento de um dos maiores esquemas de corrupção do país, investigado pela Operação Lava Jato-  já conseguiu melhorar sua saúde financeira, ainda que o quadro atual seja ruim. Hoje a dívida da Petrobras chega a 125 bilhões de dólares (408,7 bilhões de reais), uma das maiores dívidas de petroleiras do mundo, e o objetivo é reduzi-la a metade. O novo plano de negócios da estatal prevê arrecadar 19,5 bilhões de dólares com a venda de ativos (desinvestimentos) e parcerias entre 2017 e 2018, além dos 15,1 bilhões de dólares projetados em vendas de ativos entre 2015 e 2016. Segundo o diretor financeiro e de relacionamento com investidores, Ivan Monteiro, essa nova política de preços não altera a meta da companhia. A medida pode acarretar uma queda de receita, mas, como um todo, não vai impactar o planejamento estratégico, segundo Monteiro.

Atualmente o preço da gasolina nas refinarias da Petrobras é cerca de 15% acima da média do preço internacional e o último aumento de combustíveis aconteceu em setembro do ano passado. Desde então, a estatal conseguiu um elevada margem de lucro, permitindo à estatal recuperar parte das perdas que teve no período com o governo de Dilma Rousseff obrigou a manter os preços defasados artificialmente. Segundo o site G1, pelos cálculos do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), as diferenças de preços proporcionaram para a Petrobras, somente no primeiro semestre deste ano, um ganho potencial de cerca de 15 bilhões de reais – 11,8 bilhões com a gasolina e 3,2 bilhões com o diesel.

Impacto para o consumidor

O impacto desta redução de preços para o consumidor final vai depender, no entanto, da decisão das redes de combustíveis e das distribuidoras. Segundo estimativa da Petrobras, se essa redução aplicada na refinaria for integralmente repassada, o diesel poderia cair 1,8%, o que representa uma queda de cinco centavos por litro, e a gasolina recuaria 1,4%, que também significaria menos cinco centavos por litro no preço final.

O presidente do sindicato dos donos de postos de São Paulo (Sincopetro), José Alberto Gouveia, calcula que os postos começarão a repassar o reajuste da gasolina e diesel a partir de segunda-feira, já que o estoque do fim de semana já foi comprado.Gouveia alerta, porém, que a redução do valor da gasolina deve ser menor que a estimada pela Petrobras já que o preço do Etanol, que representa quase um terço (27%) da composição da gasolina C, vendida nos postos, subiu. "Com o Etanol mais caro e também com o aumento do ICMS [Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços], vai acabar ficando elas por elas. Na verdade, o preço da gasolina não vai subir, mas também não vai cair tanto", explica. Já o preço do diesel deve cair cerca de 4 centavos, segundo a previsão de Gouveia.

O economista André Braz, coordenador do IPC do FGV/ IBRE, ressalta que efeito mais importa da mudança para a economia é que, com as reuniões mensais, será mais fácil prever a tendência dos preços. Sobre a redução anunciada nesta sexta, Braz avalia que apesar de não puxar tanto a inflação para baixo, já significa algum tipo de redução de gastos das famílias brasileiras. "Hoje a gasolina compromete 4% do orçamento, então qualquer queda de preço é bem-vinda. A do diesel também é relevante já que reflete no custos de transportes de cargas e até no transporte público. Além disso, é muito importante que o combustível reflita o preço internacional, do mercado e paremos de ficar defasados", afirma.

Ainda segundo Braz, a nova política que pode contribuir para a queda da inflação soma-se às notícias que preveem uma expectativa de melhora da economia - como a aprovação da PEC do teto de gastos- e pode contribuir para que o Banco Central tenha mais segurança ainda de reduzir a taxa básica de juros, a Selic, que desde julho do ano passado está em 14,25% ao ano.

Decisão empresarial

O presidente da Petrobras, Pedro Parente, deixou claro em coletiva de imprensa, que o Governo Federal, acionista majoritário, e o Conselho de Administração da empresa não foram previamente informados sobre os percentuais do reajuste. E que a petroleira não levou em conta os impactos na inflação nem na economia brasileira. "Isso foi uma decisão que levou em conta o interesse e os aspectos inerentes à própria companhia. Tem a ver com a economia para a empresa e não tem nada a ver com a economia em geral", disse.

O economista Alexandre Chaia, professor do Insper, concorda que o movimento é empresarial e não uma ação para ajudar o Governo, como aconteceu no passado. "A mensagem que a estatal passa é que já equilibrou suas contas, que não precisa de excesso de caixa e quer agora se tornar mais competitiva", explica.

Para Chaia o passo dado pela empresa foi bastante acertado ainda que alguns especialistas defendem que a Petrobras deveria ter esperado a reunião da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), marcada para novembro, que poder resultar em uma alta do preço e obrigar a estatal a anunciar um novo reajuste. "A empresa poderia ter sido mais cautelosa, mas o que quis mostrar é que já passou o pior momento e que o preço agora será flutuante".  O movimento agradou o mercado. As ações da companhia registraram forte valorização nesta sexta. Os papéis ordinários fecharam esta com alta de 2,29% e as ações preferenciais subiram 3,17%. O desempenho da estatal refletiu no índice Ibovespa, da Bolsa de Valores de São Paulo, que encerrou o dia com alta de 1,06%, aos 61.767 pontos.

De acordo com a consultoria Eurasia, a decisão da nova política de preços indica o desejo da Petrobras de aumentar a sua credibilidade com potenciais investidores e também um sinal de maior confiança na situação financeira da empresa. Além disso, segundo o relatório da consultoria, a política mais transparente de preços também ajudará a Petrobras a conseguir vender uma parte de seu braço de distribuição, a BR Distribuidora.

A nova política a ser praticada pela companhia terá como princípios: o preço de paridade internacional (PPI), que já inclui custos como frete de navios, custos internos de transporte e taxas portuárias; uma margem para remuneração dos riscos inerentes à operação, tais como volatilidade da taxa de câmbio e dos preços, sobre-estadias em portos e lucro; além de tributos. A política também visa preservar o nível de participação no mercado e garantir que os preços nunca fiquem abaixo do valor internacional. A última vez que a Petrobras reduziu os preços da gasolina e do diesel foi em junho de 2009, quando o valor do primeiro caiu 4,5% e o do segundo foi reduzido em 15%.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_