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Secundaristas no Paraná ocupam 300 escolas e põem governador sob pressão

Mobilização se inspira em movimento de São Paulo e quer barrar reforma do ensino de Temer Após repressão em 2015, governador tucano fala em diálogo e deve enfrentar outra greve docente

Gil Alessi

Estudantes secundaristas ocupam desde o início de outubro mais 300 escolas estaduais no Paraná para protestar contra a reforma do ensino médio apresentada em setembro pelo Governo de Michel Temer. A medida provisória editada pelo peemedebista prevê alterações no currículo e mudanças na carga horária das escolas, e foi criticada por especialistas e movimentos estudantis. Os alunos exigem voz ativa no debate sobre a reforma. “Queremos uma reforma que dialogue com os estudantes, não algo vindo de cima, não temos estrutura para períodos de aula integral e nem queremos abrir mão de disciplinas como sociologia”, afirma Tuany Nascimento Lima Strassacaca, 19, da União Paranaense dos Estudantes Secundaristas (Upes).

Estudantes protestam contra reforma do ensino.
Estudantes protestam contra reforma do ensino.Upes

Em nota, a Secretaria de Estado da Educação afirmou que são 244 unidades ocupadas, “com cerca de 300.000 alunos prejudicados”. No total, cerca de 345.000 alunos frequentam as aulas do ensino médio no Paraná em 1.525 escolas. Cinco universidades do Estado também foram ocupadas em solidariedade ao movimento dos secundaristas.

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As ocupações vêm no rastro de uma série de ações semelhantes ocorridas em São Paulo e Goiás contra a reorganização escolar proposta pelos governadores tucanos Geraldo Alckimin e Marconi Perillo no final de 2015, e no Rio de Janeiro, em abril deste ano. No Paraná, a primeira escola ocupada foi o Colégio Estadual Arnaldo Jansen, em São José dos Pinhais, região metropolitana de Curitiba. Em comum, os estudantes dos três Estados afirma o desejo de participar nas decisões que influenciam diretamente sua formação.

Matheus dos Santos, 18, estudante do Colégio Dinâmico, em Curitiba, e presidente da Upes, critica a falta de diálogo dos governantes. “É inadmissível que um Governo, seja estadual ou federal, proponha uma reforma dessa magnitude sem dialogar com quem sofrerá o impacto, professores, estudantes e funcionárias”, afirma. Santos aponta que a definição da reforma sem consulta foi “o start” das ocupações no Estado.

“Nos inspiramos no modelo das ocupações de São Paulo, que saíram vitoriosas”, afirma Ana Teles, 17, em conversa por telefone com o EL PAÍS. A jovem é uma das dezenas de estudantes que desde terça-feira ocuparam a escola Pedro Macedo, na região central de Curitiba. Para ela, a reforma proposta pelo Governo Temer torna ainda mais difícil a vida de quem depende do ensino público. “Já enfrentamos muitas dificuldades para chegar ao ensino superior e arrumar um bom emprego. A reforma nos prejudica ainda mais”, afirma.

A Secretaria de Educação paranaense disse que encaminhou documentação para a “Procuradoria Geral do Estado do Paraná para que sejam solicitadas à Justiça as reintegrações de posse das escolas estaduais ocupadas pelos estudantes”.

Passado e presente

Assuntos relacionados à educação têm sido uma pedra no sapato do governador do Paraná, Beto Richa (PSDB). Em abril de 2015, sua gestão enfrentou forte crise após a Polícia Militar reprimir violentamente um protesto de professores grevistas, deixando mais de 200 pessoas feridas. Até o momento os estudantes não relataram nenhum episódio grave de violência envolvendo a policia.

Desta vez, Richa fez um aceno aos estudantes, e convocou as lideranças da UPES para dialogar em nome das ocupações com o Governo. O tucano afirmou que “a medida [reforma] precisa ser debatida antes de ser implantada”, e que “nenhuma medida será adotada no Paraná sem consenso entre o movimento estudantil e a comunidade acadêmica”. De acordo com o governador, nenhuma disciplina será extinta.

Em resposta a Richa, a Upes divulgou nota afirmando que “não responde pelas ocupações sozinha, e que todos os estudantes organizados devem ser consultados”. Assembleias municipais dos alunos estão previstas para acontecer durante o final de semana, e no início da semana que vem um encontro estadual irá eleger uma comissão para conversar com o governador. “Não desocuparemos as escolas até que a decisão seja tomada em assembleia”, afirmou Tuany Lima.

Além de ter que lidar com as escolas ocupadas, Richa terá à partir da próxima segunda-feira, dia 17, mais um problema: está prevista uma nova greve dos professores da rede estadual. Os sindicatos alegam que o Governo voltou atrás após ter assumido um compromisso de assumir como data-base para o pagamento de direitos o mês de janeiro de 2017. De acordo com a Associação dos Professores do Paraná, mais de 2000 educadores decidiram pela paralisação em assembleia.

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