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Coluna
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O enigma das urnas

O resultado das eleições nos dirá o que estava por trás dos protestos contra e a favor de Dilma e do PT

Juan Arias
Elza Fiúza (ABR/ Fotos Públicas)

O Brasil volta no domingo às urnas após o terremoto que o impeachment de Dilma significou. Trata-se de um teste democrático e de um enigma que deverá ser atentamente analisado.

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É verdade que as eleições são municipais, o que acarreta um forte componente local. Entretanto, dado o momento de convulsão social e política que o país atravessa, representarão também uma mensagem para conhecer por onde caminha a sociedade neste momento e qual é o peso da luta contra a corrupção na política.

As eleições municipais desta vez serão também, de certa forma, uma prévia da presidencial de 2018, revelando-nos qual Brasil sai do áspero debate político levado a cabo desde a última eleição e depois da volta da esquerda à oposição. Será que algo mudou, ou o Brasil continuará sendo o mesmo?

O resultado das urnas nos indicará, por exemplo, o que estava por trás das grandes manifestações, a favor ou contra Dilma e o PT, que ocorreram desde a última vez que os brasileiros foram às urnas.

Será esta a hora de conhecer melhor, já com o voto, quem continuará defendendo a experiência dos últimos Governos de esquerda e quem optará por uma alternativa mais liberal.

Alternativa, além do mais, imprescindível para que um partido não se eternize no poder, o que acaba corrompendo até os melhores.

Como vão votar, por exemplo, quase 40 milhões de pessoas que perderam o emprego, ou os 40 milhões da classe C que estão sentindo na carne os efeitos da inflação ainda descontrolada, da maior taxa de juros do mundo e da perda do seu poder aquisitivo?

Será um teste para saber se a esquerda, sobretudo o PT, sofrerá ou não uma sangria de votos devido às acusações de corrupção contra seus maiores líderes, assim como devido ao fato de que a crise deriva de um modelo equivocado de economia criado pelo Governo Dilma.

Mas também é possível que esses milhões de eleitores menos escolarizados, mais preocupados com os problemas de cada dia e com medo do desemprego, julguem que todos os políticos são iguais e que vender o voto não tem importância.

Afinal, não foi Lula quem disse que melhor um político, “por mais corrupto que seja”, porque precisa conquistar votos na rua a cada eleição, do que um funcionário concursado, que tem o seu salário assegurado pelo resto da vida?

As urnas nos revelarão se continuam sendo maioria os intelectuais defensores de soluções ideológicas, ou se boa parte da sociedade já superou o drama da saída de Dilma e busca caminhos novos para tentar superar a crise.

O que os brasileiros comuns parecem querer, quando se fala com eles, é uma vida menos angustiante economicamente e serviços de saúde e educação menos precários e elitizados. Eles não entram em certas polêmicas jurídicas. O que perguntam, por exemplo, não é se o Governo Temer é ou não legítimo. Querem saber se, com ele, “as coisas vão melhorar”.

As urnas nos vão revelar se tinham ou não razão ou certas elites pensantes, acomodadas no privilégio de sua tranquilidade econômica.

São os eleitores quem vão dizer se tinham ou não razão certos acólitos do PT ideológico, que, sem escutar a rua, continuam cantando no coro sem perceber que a missa já acabou.

Para as vítimas da crise, a missa provavelmente nunca começou.

O resultado das urnas desta vez poderá ser, portanto, particularmente revelador e significativo para entender se, depois de tantas polêmicas, a sociedade mudou, e em que direção.

Feliz domingo de eleições, que sempre me causam inveja democrática, já que eu só consegui votar quando já tinha 40 anos, devido à longa e dura ditadura franquista.

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