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‘Mr. Trust’, Eduardo Cunha como símbolo do combate à corrupção

Chamado de senhor do trust, deputado cassado é alvo de campanha da Transparência Internacional

Imagem do vídeo da Transparência Internacional
Imagem do vídeo da Transparência InternacionalReprodução

Em março deste ano, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), segundo reportagem da Folha de S. Paulo, deu risada quando perguntado sobre o apelido de “caranguejo”, com que era designado em uma lista de supostos recebedores de propinas da Odebrechet. Agora, um dia depois de ter seu mandato de deputado federal cassado, a ONG Transparência Internacional colocou uma nova alcunha em Cunha em vídeo divulgado nesta terça-feira: “Mr. Trust” ou “Senhor do Trust”. O gracejo faz parte de uma campanha mundial contra a corrupção que busca chamar atenção para o problema representado pelo sigilo dos beneficiários de empresas offshores e trusts.

No vídeo, a entidade, com sede em Berlim, afirma que analisou 213 casos de corrupção em 80 países diferentes e que 70% deles usam “veículos secretos” para esconder dinheiro ilícito. Um desses “veículos” é o trust, onde o investidor não tem controle direto da gestão mas é beneficiário dos ativos. O ex-presidente da Câmara dos Deputados, que tem contas do tipo na Suíça, é, para a entidade, um símbolo desta prática. O roteiro lembra a história que levou Cunha a ser cassado, mostrando que em março de 2015 ele disse não ter contas na Suíça, mas que meses mais tarde procuradores suíços localizaram quatro contas ligadas a ele e a sua mulher, Claudia Cruz.

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A campanha, que alerta que há muitos senhores do trust no mundo, busca conscientizar as pessoas para que os reais beneficiários de trusts sejam revelados e tornados públicos. “Precisamos saber quem são as pessoas e os reais beneficiários de entidades secretas. Isso vai ajudar a acabar com grande parte da corrupção”, defende o vídeo. Hoje, o trust permite que alguém transfira bens para uma empresa ou pessoa que passa a ser proprietária dos recursos, podendo administrá-lo de forma a beneficiar o dono do dinheiro – neste caso, Eduardo Cunha.

“No total, as autoridades brasileiras estão pedindo que Mr. Trust e sua mulher devolvam 30 milhões de dólares ao Governo brasileiro”, afirma o vídeo. “Não sabemos para onde o dinheiro foi. Mas sabemos que o Mr. Trust gastou 42.000 mil dólares em uma semana de compras em Miami”, diz lembrando a vida de sultão do ex-deputado, que já foi assunto de reportagem do EL PAÍS. Cunha tem dito desconhecer as contas, mas admite ser beneficiário de um trust.

A ONG, que pretende abrir um escritório no Brasil, também comemorou a cassação do ex-deputado, mas pediu “uma extensa investigação sobre a origem dos recursos encontrados” nas contas, já que o deputado foi cassado por ter mentido a uma CPI e não pela origem, possivelmente ilícita, do dinheiro encontrado nas contas. Em 2015, o Brasil aparecia na 76ª posição de um ranking de 168 posições de nível de corrupção em países do mundo.

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