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Israel começa doutrina de punições e prêmios coletivos na Cisjordânia

Plano prevê penas a localidades de onde venham agressores e incentivos para outras áreas

Juan Carlos Sanz

Dez meses depois do estouro da maior onda de violência em uma década, e a apenas 50 dias das eleições municipais palestinas — em que o Hamas deve concorrer —, Israel deu início a uma doutrina de punições e prêmios coletivos para a população da Cisjordânia. A ideia é que as localidades de onde venham os criminosos que cometem ataques contra israelenses sejam submetidas a punições, a maioria pelo Exército. Já os lugares considerados mais pacíficos receberão um prêmio, em forma de ajudas econômicas e incentivos. "Quem estiver disposto a ter uma boa convivência será beneficiado e quem seguir o caminho do terrorismo sairá perdendo", advertiu o ministro da Defesa, o utradireitista Avigdor Lieberman, ao apresentar a estratégia, segundo informa nesta quinta-feira o jornal Yediot Ahronth.

Primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, sai de um helicóptero ajudado por comandante da força aérea de Israel.
Primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, sai de um helicóptero ajudado por comandante da força aérea de Israel.ABIR SULTAN (EFE)

Como responsável do ministério, que supervisiona a ocupação dos territórios palestinos desde 1967, Lieberman apresentou na tarde de quarta-feira o novo mapa que divide a Cisjordânia em áreas de diferentes cores, de acordo como seu foco de violência. Em verde, estão as cidades de onde não saiu nenhum terrorista, e em amarelo e vermelho as que têm pessoas acusadas de atos de violência. Entre as do primeiro grupo, estão Beit Shaur (próxima a Belém), onde será construído um hospital, Nablus (no norte), que será agraciada com um polígono industrial em sua parte oriental, e Bidiya, ao sul de Nablus, que também será recompensada com um pomposo estádio de futebol. Também está prevista a construção de um corredor comercial entre Jericó e a fronteira da Jordânia, embora neste caso a obra seja financiada por um acordo com japoneses.

Os clãs e famílias que vivem nos pontos vermelhos do mapa, a maioria em torno de Hebrón (ao sul), receberão punições como o aumento da presença do Exército e das prisões de suspeitos, demolições ou fechamento de casas (das famílias dos responsáveis pelos ataques), registro dos endereços de pessoas que tenham alguma relação com atos terroristas — assim como o confisco de seus bens e propriedades —, perda da permissão de trabalho em Israel, retirada do salvo-conduto preferencial aos funcionários da Autoridade Palestina acusados de incitar a violência, e controle sistemáticos de seus veículos, além de outras medidas punitivas. O Exército já deu mostras, no domingo passado, do enfoque punitivo da Doutrina Lieberman, no campo de refugiados de Fawar, perto de Hebrón, quando três batalhões apareceram durante a noite para fazer registros de pessoas e prisões.

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O ministro da Defesa anunciou, também, a criação de um site informativo no idioma árabe, dirigido e financiado pela Coordenação de Atividades do Governo nos Territórios (Cogat), a divisão das Forças Armadas responsável pelos assuntos civis palestinos. Lieberman pretende, também, estabelecer vias de diálogo com a sociedade civil palestina sem necessidade de ter a aprovação ou a mediação da Autoridade Palestina. Yossi Melman, especialista em assuntos de segurança, disse ao jornal Maariv que a intenção é, sobretudo, passar por cima de Abu Mazen [nome de guerra de Mahmud Abbas, presidente palestino].

Alex Fishman, colunista do Yeodith Ahnonoth, destaca, contudo, que em meio à nova estratégia de pulso firme do ministro da Defesa estão projetos que autorizam construções palestinas da zona C – a área sob controle majoritário de Israel na Cisjordânia, demarcada há duas décadas nos Acordos de Oslo. Esta ação pode causar a divisão no centro da coalizão do Governo, em que têm muito peso os partidos que apoiam os cerca de 600 mil colonos que vivem em territórios palestinos ocupados por Israel. Justamente Lieberman, nascido na Moldávia, mora na colônia de Nokdim, a sudeste de Jerusalém, um dos assentamentos judeus mais distantes de Israel dentro do território palestino.

Parte do Gabinete desde junho passado, o partido Nosso Lugar é Israel, que concentra vários votos dos imigrantes judeus chegados ao país desde a antiga União Soviética, garante que conta com o pleno apoio do chefe do executivo para levar seus planos adiante. Benjamin Netanyahu, no entanto, não quis se colocar como figura de destaque na apresentação da doutrina. Há apenas uma semana, ele desautorizou seu ministro, depois que Lieberman atacou o presidente Barack Obama — no aniversário da confirmação do acordo de neutralidade com o Irã — causando surpresa da Casa Branca.

Ainda que tenha assegurado que não pretende interferir nos assuntos internos palestinos, o líder ultradireitista de Israel anuncia essa medida de dar punições e incentivos aos palestinos da Cisjordânia em plena pré-campanha para as eleições municipais do próximo dia 8 de outubro, a primeira vez em que os muçulmanos mediram forças nos últimos 9 anos, quando proclamaram sua vitória em Gaza nas eleições legislativas. O Hamas, que vinha boicotando as urnas, apresentou listas de candidatos e espera conquistar as prefeituras de Hebrón e Nablus. Fontes palestinas reconhecem que, em Hebrón, os muçulmanos têm vantagem, enquanto em Nablus há empate técnico com o Fatah, partido do presidente Abbas, que tem dominado a Cisjordânia até agora.

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