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Nadadores mentiram sobre assalto e se envolveram em briga, segundo a polícia

Gunnar Bentze e Jack Conger vão ser interrogados sobre episódio a pedido da Justiça do Brasil

María Martín
O norte-americano Ryan Lochte nos Jogos Olímpicos de Rio.
O norte-americano Ryan Lochte nos Jogos Olímpicos de Rio.Michael Sohn (AP)

Os quatro nadadores da equipe americana que relataram um suposto assalto no Rio de Janeiro na madrugada de domingo mentiram sobre o episódio, de acordo com a Polícia Civil. Segundo as investigações, os atletas teriam, na verdade, se envolvido em uma briga com seguranças de um posto de gasolina na Barra da Tijuca. “A única verdade que eles contaram é que eles estavam bêbados”, disse Fernando Veloso, chefe de Polícia Civil, ao portal G1.

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Segundo a primeira versão da história, os nadadores foram assaltados quando estavam em um táxi voltando para a Vila Olímpica. A polícia, no entanto, encontrou contradições nos depoimentos, o que fez com que a Justiça impedisse que eles deixassem o país até que o caso fosse esclarecido. 

Ao longo da investigação, no entanto, veio à tona a informação de que o táxi onde estavam os atletas parou em um posto de gasolina para que eles fossem ao banheiro. O grupo que estava bastante exaltado, segundo os investigadores, acabou causando danos no local e não quis pagar o prejuízo. Os seguranças, então, chamaram a polícia. Nesse ínterim, os atletas teriam se impacientado tentando ir embora, e por isso os seguranças teriam apontado a arma para impedir que os atletas deixassem o local. A polícia não apareceu, mas o incidente foi resolvido após os nadadores pagarem o que deviam pelos estragos causados. A falsa comunicação de crime pode render de um a seis meses de detenção, ou multa.

O assunto ganhou proporções, uma vez que os nadadores não revelaram a versão real dos fatos, e apresentaram relatos contraditórios, o que levou a Justiça a pedir a apreensão de seus passaportes até que o caso fosse esclarecido. Com a ordem judicial, a Polícia Federal brasileira impediu na noite da quarta-feira, no aeroporto internacional do Rio de Janeiro, que os nadadores americanos Gunnar Bentze e Jack Conger embarcassem em um avião com destino aos Estados Unidos após participarem da Rio 2016.

Os agentes retiraram os atletas da aeronave para interrogatório sobre o suposto assalto a mão armada que, junto aos também nadadores Ryan Lochte e James Feigen, disseram ter sofrido na madrugada de domingo. A Policial Civil já os havia convocado a depor mais cedo, mas eles não compareceram. Ambos tiveram seus passaportes confiscados por ordem judicial e não poderão, por enquanto, sair do país. Os agentes já haviam estado pela manhã na Vila Olímpica, onde se hospedavam os atletas, em busca de Lochte e Feigen para apreender seus passaportes e analisar seus celulares com a esperança de conseguir mais pistas sobre o caso. Lochte já estava nos Estados Unidos e Feigen já não estava no alojamento olímpico.

O episódio caiu como álcool na ferida de uma cidade questionada pela sua segurança. O importante para as autoridades, segundo uma fonte diplomática conhecedora do caso, era esclarecer o que aconteceu. Se era verdade para resolver o crime e demonstrar eficiência, e se era mentira para desvendar a farsa que prejudicava a imagem do país mundo afora. O próprio chefe da Polícia Civil, Fernando Veloso, declarou que os nadadores deveriam pedir desculpas aos cariocas. Durante as horas de espera na delegacia, até a versão oficial sobre o caso ser divulgada aos jornalistas, várias pessoas que passavam pela frente de bicicleta, de ônibus ou de táxi vaiavam os americanos com gritos como “liars”, mentirosos em inglês.

Em uma entrevista ao canal de TV americano NBC, Lochte mudou alguns detalhes da sua versão sobre o ocorrido, gerando ainda mais dúvidas sobre o caso. O nadador, 12 vezes medalhista olímpico, afirmou que o assalto não aconteceu dentro do táxi quando ele e seus colegas regressavam à Vila Olímpica, como contado inicialmente, e sim em um posto de gasolina. A outra inconsistência em relação à primeira versão dos fatos relatada pelos atletas foi a de que Lochte não foi ameaçado com uma pistola na cabeça. Os ladrões teriam, na verdade, só apontado a arma.

A ação policial, tanto na Vila como no aeroporto, pretendia esclarecer as circunstâncias do assalto que os quatro nadadores teriam sofrido quando voltavam de táxi de uma festa na madrugada de domingo. Lochte contou inicialmente que, no caminho de volta à Vila Olímpica, um grupo armado com distintivos policiais os parou. Os ladrões, disse, apontaram para eles com uma arma e os obrigaram a sair do veículo e a se deitar no chão, enquanto isso roubaram suas carteiras. Até agora só Lochte e Feigen – que não haviam denunciado os fatos–  haviam prestado depoimento na polícia.

Seus relatos sobre o incidente já apresentaram algumas contradições que puseram em dúvida sua versão. Entre elas está o horário em que os nadadores afirmaram que ocorreu o roubo. Enquanto os atletas declararam ter saído da festa às quatro da manhã, umas imagens do circuito de segurança da Vila Olímpica filmou os quatro chegando três horas depois, com boa parte de seus pertences visíveis, entre elas relógios e celulares, e parecendo fazer brincadeiras entre si. Os nadadores, que afirmaram ter consumido álcool, também não entraram em acordo sobre o número de pessoas que os assaltaram e quantas delas estavam armadas.

O caso de Lochte e seus compatriotas veio à tona no domingo pela manhã, quando a mãe do atleta falou com a imprensa estadunidense e contou que haviam posto uma arma na cabeça de seu filho durante um incidente noturno no Rio. O Comitê Olímpico Internacional assegurou, em princípio, que a informação era falsa e o comitê organizador, por sua vez, disse que os detalhes eram "vagos". Já o Comitê Olímpico norte-americano comunicou – enfatizando a todo momento que se tratava da versão dos atletas – que os nadadores haviam sido vítimas de um assalto enquanto voltavam à Vila após uma festa. "Pararam nosso carro e esses sujeitos, que levavam distintivos da polícia, sem sirene nem nada além desse distintivo, nos fizeram sair", contou Lochte horas depois. "Sacaram as armas e disseram outros nadadores que se jogassem ao chão. Eles obedeceram. Eu me neguei porque não estava fazendo nada errado", explicou o medalhista.

Lochte demorou em denunciar o caso ante seu comitê, segundo disse, para evitar criar problemas. O episódio tem potencial para criar um incidente diplomático entre as autoridades judiciais brasileiras, o Governo brasileiro e os EUA e questionamento sobre o rigor da medida de impedir os atletas de viajar. À imprensa americana, que está dando grande destaque ao caso, Lochte reclamou que está sendo tratado como suspeito quando se considera uma vítima.

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