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O passado racista de Nory o assombra no dia da sua primeira medalha

Bronze no solo, ginasta Arthur Nory foi investigado por racismo contra o atleta Ângelo Assunção

Ginasta Arthur Mariano Nory leva a medalha de bronze neste domingo nos Jogos Olímpicos pelo solo
Ginasta Arthur Mariano Nory leva a medalha de bronze neste domingo nos Jogos Olímpicos pelo soloTHOMAS COEX (AFP)
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A ginástica artística brasileira viveu um dia histórico neste domingo com a dobradinha de Diego Hypólito e Arthur Nory levando as medalhas de prata e bronze, respectivamente, na final do solo masculino. Mas como na era da internet o passado de ninguém passa incólume ao escrutínio público, foi com indignação que muitos viram a vitória de Nory.

Ao mesmo tempo que o ginasta brasileiro, de 22 anos e nascido em Campinas, avançava no ranking do solo, pipocavam no Twitter menções ao nome do atleta acompanhadas da palavra "racista". A situação: enquanto assistiam na TV à prova, usuários corriam ao Google em busca de mais informações sobre Nory, estreante em Jogos Olímpicos. Para decepção, depararam-se com um episódio de racismo protagonizado pelo atleta contra o colega Ângelo Assunção, o único negro da seleção brasileira de ginástica.

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"O saco do supermercado é branco, o de lixo é preto por quê?", perguntava Arthur Nory – até então conhecido como Arthur Mariano (seu segundo sobrenome) – em vídeo publicado em sua conta no Snapchat em maio do ano passado. Ele estava acompanhado dos também ginastas Felipe Arawaka e Henrique Flores e direcionava, aos risos, os comentários a Assunção. Diante do evidente desconforto do companheiro, em seguida o trio tentou distensionar a situação, dizendo que estavam brincando, mas não foram bem recebidos pelo colega, visivelmente magoado.

Com a repercussão negativa, Nory teve sua conta no Snapchat suspensa pela rede social. A Confederação Brasileira de Ginástica (CBG) afastou os atletas, que admitiram o erro e gravaram um vídeo com um pedido de perdão a lado de Ângelo Assunção. "Gostaríamos de pedir sinceras desculpas ao nosso amigo", diz Nory. Assunção também aparece minimizando o episódio: "A gente é amigo e sempre tá brincando um com outro".

Em entrevista neste domingo, com o bronze reluzindo no pescoço, o agora medalhista agradeceu à torcida e declarou: "Sempre aprendemos com os erros, sempre. E isso vale também para a ginástica. Eu cresci bastante, amadureci bastante. Não é querer ser o melhor só ali dentro, no treino, é querer ser melhor como pessoa também".

Ângelo Assunção foi ouvido pelo portal UOL: "Não tenho mágoas, de verdade. Inclusive somos muito próximos. Torci muito por ele. Tenho muito orgulho do Nory. Agora eu espero que ele seja um medalhista também fora do tablado".

Já Cristiano Albino, técnico de Arthur Nory, declarou ao Globo Esporte tentando minimizar o caso, o que deve dar mais combustível à polêmica: "Já é um assunto esquecido. Não temos que voltar em coisa ruim. Vamos falar de medalha. Foi comprovado judicialmente que foi uma brincadeira entre amigos. Se fosse assim, eu deveria entrar na Justiça porque me chamavam de narigudo na escola".

O caso foi a julgamento somente neste ano pelo Supremo Tribunal de Justiça Desportiva, mas acabou arquivado. No tribunal da internet, no entanto, não há arquivamento.

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