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Com situação carcerária precária, Rio Grande do Norte vive onda de violência

Alvo de ataques nas ruas, Estado receberá auxilio das Forças Armadas no combate ao crime organizado

Ônibus queimado nesta segunda-feira, em Natal
Ônibus queimado nesta segunda-feira, em NatalLeo Carioca (Reuters)

Em meio à preocupação com a segurança dos jogos Olímpicos que tem sua cerimônia de abertura marcada para esta sexta-feira, o Estado do Rio Grande do Norte vive uma onda de violência desde o dia 29. Em apenas três dias, 65 ataques foram registrados por todo o Estado. Ônibus foram incendiados, prédios privados e públicos foram alvejados e até mesmo a vegetação de uma das praias mais famosas da capital Natal foi alvo de um ataque incendiário. Para tentar controlar a situação, o Governo Federal enviará 1.200 homens das Forças Armadas para auxiliar a Secretaria de Segurança Pública estadual. A previsão é que as tropas cheguem ao Estado ainda esta semana.

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“Houve um entendimento da nossa situação, a despeito do grande esforço de garantir a segurança das Olimpíadas com o efetivo das Forças Armadas e da Força Nacional”, disse o secretário de Segurança Pública do Rio Grande do Norte, Ronaldo Lundgren, em entrevista à Rádio Nacional de Brasília. A simples instalação de bloqueadores do sinal de celulares na Penitenciária de Parnamirim, município vizinho de Natal, é apontada pelo Governo estadual como uma das principais motivações para os atentados. Áudios supostamente gravados por criminosos e que estão circulando nas redes sociais dizem que “qualquer boqueio” iria fazer “o estado todo tremer”.

Segundo a secretaria de Segurança, 60 pessoas já foram presas. Entre elas está um dos chefes da facção criminosa Sindicato do Crime, apontada como uma das prováveis mandantes dos ataques. O Ministério Público do Rio Grande do Norte acredita que a organização criminosa tenha nascido de uma dissidência do Primeiro Comando da Capital (PCC), facção que controla o crime em São Paulo e outros estados brasileiros. Neste ano, a Sindicato do Crime, responsável entre outras ações pelo tráfico de drogas da região, já foi alvo de uma operação batizada de Alcateia que buscava desmantelar a rede que permite o domínio criminal dentro e fora dos presídios do Estado.

Com a atual onda de violência que nos últimos dias começou logo no início da noite, o sistema de transporte urbano de Natal foi completamente paralisado ao longo do domingo e nesta segunda-feira voltou a funcionar com frota reduzida e escolta policial nos terminais. Por medo, escolas e alguns comerciantes também optaram por fechar as portas nesta segunda-feira. Fugas massivas de presos também foram registradas. Só na madrugada deste domingo para segunda-feira, 14 detentos escaparam do Centro de Detenção Provisória da Ribeira, na capital. O secretário de Segurança, contudo, pede calma à população e que rotinas não sejam alteradas. Nenhuma morte foi registrada.

Um levantamento mostrou que mais de 10% dos homicídios ocorridos no Rio Grande do Norte tem ligação com o sistema prisional

A situação carcerária do Rio Grande do Norte, assim como de outros estados do nordeste brasileiro, é preocupante. Não à toa, desde março de 2015 foi decretado estado de calamidade pública nas prisões do Estado. Desde o começo do ano, quase 300 presos já fugiram e há relatos de que detentos circulam livremente pelos corredores dos presídios. Um levantamento divulgado pela Câmara Técnica de Mapeamento de Crimes Violentos Letais Intencionais, instituição do Governo do Estado, também mostrou que mais de 10% dos homicídios ocorridos no Rio Grande do Norte tem ligação com o sistema prisional.

Em declaração desta segunda-feira o Governador Robinson Faria (PSD) disse que o Estado vivia uma situação de vulnerabilidade e que até então não se sabia a real extensão dela. Contudo, a situação precária dos presídios não é de hoje. Em março deste ano, por exemplo, o ex-secretário de Justiça e Cidadania do Estado, Cristiano Feitosa, disse ao G1 que atualmente o sistema prisional tem 3.500 vagas para uma população carcerária de 7.500 detentos. Coincidentemente, na época, ele apontava os bloqueadores de celulares – que agora foram o estopim dos ataques – como um primeiro passo para começar a enfrentar os problemas prisionais.

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