_
_
_
_
_

Justiça argentina pede para que Cristina Kirchner seja investigada

Sentença ordena o esclarecimento das ligações da ex-presidenta com empresário processado por lavagem de dinheiro

A ex-presidenta argentina, Cristina Kirchner.
A ex-presidenta argentina, Cristina Kirchner.AFP

O cerco judicial sobre Cristina Kirchner, ex-presidenta da Argentina, se estreitou ainda mais com novas derrotas nos tribunais. A Câmara Federal pediu nesta quinta-feira a um juiz para que sejam investigadas “as suspeitas que envolvem as mais altas autoridades do Poder Executivo anterior, o Ministério do Planejamento e a Secretaria de Obras Públicas” por suas ligações com o empresário processado por lavagem de dinheiro Lázaro Báez, em prisão preventiva desde abril. Ao mesmo tempo, outro juiz ordenou uma dezena de mandatos de busca e apreensão na província de Santa Cruz, no sul da Argentina, o bastião dos Kirchner, dentro da causa que investiga a ex-presidenta pelo suposto crime de enriquecimento ilícito e adulteração de documentos públicos.

Mais informações
Argentina mira Lava Jato e prepara sua lei de delação premiada
Por que a Argentina é o país mais caro da América Latina?
A corrupção devora o kirchnerismo na Argentina
'Nove milhões, três freiras e o fim de uma época', por Martín Caparrós
Alto funcionário kirchnerista é preso ao tentar esconder milhões de dólares em um monastério

Em sua rigorosa sentença, os magistrados consideraram inviável que o juiz Sebastián Casanello investigue o “extraordinário aumento patrimonial ilícito” de Lázaro Báez sem analisar a relação com as autoridades do mais alto escalão da gestão kirchnerista. A Câmara quer saber se ocorreu um acordo “para apropriação espúria de fundos públicos, de maneira planejada e contínua, — através de influência, decisão direta e conveniência de integrantes do poder político”. “É da lógica mais elementar suspeitar sobre a íntima relação existente entre as numerosas obras públicas sob responsabilidade de Báez (e seu grupo econômico) e as referidas relações do mesmo com os ex-presidentes Néstor Kirchner e Cristina Kirchner” diz o documento.

Lázaro Báez, amigo pessoal de Néstor Kirchner, passou em poucos anos de ser um bancário a controlar grande parte das obras públicas de Santa Cruz. Em dez anos conseguiu contratos no valor de 800 milhões de dólares (2,6 bilhões de reais) e amealhou uma grande fortuna pessoal que agora é examinada detalhadamente em busca de dinheiro ilegal. A causa por suposta lavagem de dinheiro contra ele e sua família avança a grande velocidade. Seu filho Martín Báez também está sendo processado, após aparecer contando milhões de euros e dólares em um vídeo gravado em uma financeira. Seus outros três filhos – Leandro, Melina e Luciana – foram intimados a depor nas próximas semanas pela descoberta de pelo menos 25 milhões de dólares (80,4 milhões de reais) em contas na Suíça.

Em outra causa colocada em andamento na quinta-feira, o juiz Claudio Bonadío – um dos mais renhidos inimigos dos kirchneristas –, ordenou a busca e apreensão em imóveis da sociedade Los Sauces, propriedade dos Kirchner, em três localidades de Santa Cruz. A ex-presidenta confirmou os registros através do Twitter, onde declarou ser vítima de “um abuso de poder e perseguição política” que tem como principal objetivo vê-la atrás das grades.

“Nunca irão conseguir esconder, são as consequências de um plano econômico que só distribui pobreza aos trabalhadores, às classes medias e aos pequenos e médios empresários. E subordinação nacional para todos e todas! Acreditarão que desta forma conseguirão disciplinar os dirigentes políticos, sindicais e sociais de oposição?”, escreveu em diversas publicações na rede social nas quais afirmou que se trata de uma operação para desviar a atenção das políticas do presidente Mauricio Macri.

“Talvez consigam com alguns, ou talvez com todos. Comigo não. Não contem com isso”, disse desafiante. Os fatos vão em direção contrária às suas palavras. As causas judiciais contra Cristina Kirchner e cargos de alto escalão de seu Governo se multiplicaram desde que perderam o poder, enquanto seu poder parlamentar diminui dia após dia pelas lutas internas de poder e as deserções.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_