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Os personagens gays do momento nas séries de TV

Seis sites LGBTI elegem protagonistas que normalizam a diversidade sexual na teledramaturgia

Álvaro P. Ruiz de Elvira
Maura e Lito.
Maura e Lito.

O que deveria ser normal ainda não é. Se fosse, talvez não estivéssemos fazendo listas como esta. As séries de televisão nem sempre foram representativas da diversidade, seja a de gênero, cor de pele, sexualidade ou cultura, mas parece que a sociedade está sendo descrita de forma cada vez mais fiel na teledramaturgia. Por ocasião do Dia Internacional do Orgulho Gay, convidamos sites voltados para a atualidade do coletivo LGBTI (lésbicas, gays, bissexuais, transexuais e intersexuais) para que escolhessem seis personagens de séries atuais que ilustram essa normalização na televisão. Poderíamos incluir muitos outros, como Titus Andromedon (Unbreakable Kimmy Schmidt), Yara Greyjoy (Game of Thrones), Cosima (Orphan Black), Aaron (The Walking Dead) e o Dorian Grey de Penny Dreadful...

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Clarke Griffin (Eliza Taylor) – The 100

Por DIEGO FEIJOO | CROMOSOMAX

‘The 100’. / CW

São as armas que acabarão conosco, não o amor. Num futuro pós-apocalíptico, a Terra foi arrasada por uma guerra nuclear, e os humanos fogem para o espaço. Quase 100 anos depois, 100 jovens retornam para comprovar se o planeta voltou a ser habitável. Clarke Griffin desponta como a valente líder desse grupo, tendo que lidar com decisões duríssimas. Mas não precisa enfrentar aqueles que a odeiam ou desprezam por amar quem ama, pois essas pessoas não existem. Clarke é uma heroína bissexual numa série em que jamais se pronuncia a palavra gay, lésbica ou bissexual, termos de um passado tão longínquo do qual já nem há mais lembrança. Ninguém se surpreende quando uma mulher se deita com outra mulher, porque no futuro de The 100 ninguém está preocupado com etiquetas, apenas em sobreviver e ser amado.

'Os 100'.Vídeo: CW

Mitchell e Cameron (Jesse Tyler Ferguson e Erick Stonestreet) – Modern Family

'Modern Family'.

Por ÁNGEL RAMOS | CÁSCARA AMARGA

‘Modern Family’.

Mitch e Cameron formam um dos primeiros casais homossexuais protagonistas a serem representados sem essa grande carga de estereótipos ainda presentes em tantas produções das telinhas e telonas – embora às vezes essa série brinque com esse imaginário rançoso de “bichinhas engraçadas”, mas para satirizá-lo. Mitch e Cam significaram um ponto de inflexão no tratamento da homossexualidade na mídia, mostrando pela primeira vez, capítulo após capítulo, o cotidiano de um casal gay. O fato de estarem sempre acompanhados da sua filha adotiva Lily, uma menina vietnamita esperta e espevitada, também contribuiu para dar visibilidade às famílias homoparentais com filhos. Finalmente, após quatro temporadas, pudemos viver com estes dois personagens um marco na história recente, com a aprovação do casamento entre pessoas do mesmo sexo nos Estados Unidos, ocasião na qual os produtores aproveitaram para desenvolver, durante toda a quinta temporada, os planos para o matrimônio de Mitchell e Cameron.

Lito (Miguel Anjo Silvestre) – Sense8

Por MANUEL SÁNCHEZ e EMILIO CUERVA | TOGAYTHER

Lito em ‘Sense8’. / NETFLIX

Lito em 'Sense 8'.Vídeo: Netflix

Lito, o personagem de Miguel Ángel Silvestre em Sense8, nos toca a fundo. E não só por seu atrativo natural de macho man e pelas cenas picantes com seu namorado na série (que também ajudam). Lito mostra a realidade do coletivo LGTBI, pessoas que, devido a sua condição homossexual, bissexual ou transexual, estão expostas a contínuas perseguições e mortes em países de todo o mundo, como se viu recentemente no massacre da boate gay Pulse, de Orlando, ou simplesmente à rejeição do seu círculo mais íntimo, obrigando-as a se esconderem numa realidade que não é a sua. Lito nos mostra que precisamos nos livrar dos medos e preconceitos e dar um chute na porta do armário. Ele nos estimula a sermos corajosos, por nós e por quem nos cerca, e inclusive a sermos capazes de deixar tudo de lado para podermos ser nós mesmos.

Maura (Jeffrey Tambor) - Transparent

Por AGUSTÍN GÓMEZ CASCALES | SHANGAY

Maura, em 'Transparent' / AMAZON

Maura em 'Transparent'Vídeo: AMAZON

Todos somos Maura Pffeferman. Uma pessoa insegura, mal-humorada, contraditória, ansiosa por ser amada, por vezes, incapaz de controlar seus impulsos e, em outras, muito contida. Respira tanta verdade que é impossível não se identificar com ela. E tanto suas alegrias quanto misérias acabam sendo incrivelmente familiares ao espectador. Esse é o grande milagre de Transparent e do grande trabalho do ator Jeffrey Tambor. Ah, sim, é que Maura é uma mulher transexual, em plena transição. Mas é um detalhe que, no segundo capítulo, já se mostra anedótico. Como deveria acontecer na vida cotidiana. Mas não. Por isso sua visibilidade é tão necessária e importante. Poucas séries conseguem refletir a realidade LGTB com essa mistura de transcendência e leviandade ao mesmo tempo. Six Feet Under também conseguiu isso com um espírito semelhante: ao buscar a normalização através de uma rotina diária que, por vezes, provoca o riso, em outras, o constrangimento e, não poucas vezes, a lágrima. E lembremos que Maura não é jovem nem bonita nem elegante. Mas é a protagonista. Bravo.

Piper e Alex (Taylor Schilling e Laura Prepon) - Orange Is the New Black

Por PEDRO POLLAN | CHUECA.COM

Piper e Alex em 'Orange Is the New Black’. NETFLIX

Piper e Alex em 'Orange is the new black.'Vídeo: Netflix

Desde que entrou na prisão de Litchfield, a personagem Piper Chapman não parou de crescer. Deixou para trás seu namorado, interpretado por um Jason Biggs mais odioso do que almoçar com os sogros, para iniciar um processo de autodescobrimento. Uma jornada pessoal enriquecedora além das fronteiras da heteronormatividade e longe dos clichês do gênero (sexual e prisão). Alex Vause viveu quase o processo oposto. Em suas idas e vindas da prisão, a personagem interpretada por Laura Prepon abriu mão de uma segurança vazia para enfrentar seus medos, abrindo uma porta com inúmeras arestas. A relação amor-desamor que se estabelece entre elas é uma das tramas da série OITNB. A história delas reinventa os padrões dos relacionamentos românticos da televisão. Piper e Alex são como uma versão inclusiva de Ross e Rachel, de Friends, que superou o água-com-açúcar do Central Park pelas questões de carne e osso que empoderam tanto o feminino como o lésbico.

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