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Janot rebate críticas por pedir prisão de nomes do PMDB: “Nunca terei transgressores preferidos”

Nem anônimos nem autoridades poderosas estão acima da lei, diz procurador

Rodrigo Janot, em imagem de fevereiro.
Rodrigo Janot, em imagem de fevereiro.Elza Fiúza (Ag. Brasil)

Desde que a cúpula do PMDB foi levada de vez para o redemoinho das denúncias da Operação Lava Jato, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, voltou a ficar sob a mira de quem ele acusa por crimes como corrupção e lavagem de dinheiro. Nos últimos dias, foi criticado pelo vazamento de investigações sigilosas e alguns dos alvos levantaram suspeitas de que ele estaria usando da função para se candidatar a algum cargo eletivo nas eleições de 2018. Nesta sexta-feira, o procurador fez um discurso em tom de indignação negando qualquer vazamento, que seja seletivo em suas apurações e afirmando que, dentro de um ano e quatro meses, vai se aposentar, sem disputar eleição para qualquer cargo no Executivo ou no Legislativo.

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“Nunca terei transgressores preferidos, como bem demonstra o leque sortido de autoridades investigadas e processadas por minha iniciativa perante a Suprema Corte. Da esquerda à direita; do anônimo às mais poderosas autoridades, ninguém, ninguém mesmo, estará acima da lei, no que depender do Ministério Público”, disse Janot no encerramento do encontro de procuradores eleitorais para debater o pleito municipal deste ano.

Uma das críticas recebidas por Janot foi de que o vazamento das informações sobre o pedido de prisão do deputado federal afastado Eduardo Cunha, do presidente do Senado, Renan Calheiros, do senador Romero Jucá e do ex-presidente da República José Sarney – todos do PMDB – tinha o objetivo de pressionar o Supremo Tribunal Federal (STF) a se decidir logo sobre esse assunto e outros envolvendo a operação Lava Jato.

“Figuras de expressão nacional, que deveriam guardar imparcialidade e manter decoro, tentam disseminar a ideia estapafúrdia de que o Procurador-Geral da República teria vazado informações sigilosas para, vejam o absurdo, pressionar o Supremo Tribunal Federal e obrigá-lo a decidir em tal ou qual sentido, como se isso fosse verdadeiramente possível. Ainda há juízes em Berlim, é preciso avisar a essas pessoas”, disse o procurador.

A metáfora dita por ele se refere ao caso (real ou não) de um moleiro da Prússia no século XVIII que se negou a entregar sua terra para um rei da época que era seu vizinho, o déspota esclarecido Frederico 2º. Indignado com a negativa, o monarca tentou usar de seu poder para forçar o moleiro a deixar a área. Foi pessoalmente pressionar o humilde vizinho e como resposta, ouviu de que ainda havia juízes em Berlim. Na concepção desse profissional, as leis valeriam para todos, independentemente do poder deles.

Mas, a metáfora de Janot parecia ter também um destino específico. Nesta terça, o ministro do Supremo Gilmar Mendes, em conversa com jornalistas, fez críticas ao vazamento de informações no âmbito da Lava Jato, logo após o pedido de prisão dos integrantes da cúpula peemedebistas ser noticiada pela imprensa.“Vamos dizer claramente, e aconteceu inclusive em processo de minha relatoria, processos ocultos, que vêm como ocultos e que vocês [imprensa] já sabem, divulgam no Jornal Nacional, antes de chegar no meu gabinete. Isso tem ocorrido e precisa ter cuidado. Porque isso é abuso de autoridade claro”, disse Mendes.

Em seu discurso, Janot também insistiu de que leviandades e calúnias são usadas para tentar dificultar o trabalho dos procuradores, mas elas não causariam “mais do que perturbação temporária no caminho a seguir”. “Busca-se com tais diversionismos mudar o foco da opinião pública, confundir a sociedade e garantir a tranquilidade daqueles que, sem cerimônia, avançam vorazes sobre o patrimônio que deveria servir ao progresso do país e ao bem-estar do povo”.

Desde o início da operação Lava Jato, o Procurador-geral da República já abriu investigações que atingem mais de 60 políticos com e sem foro privilegiado. Depois de balançar o Governo Dilma Rousseff (PT), a presidente afastada, agora causa seríssimas preocupações à gestão interina de Michel Temer (PMDB). Se as prisões dos quatro figurões peemedebistas se concretizarem nas próximas semanas, o governo Temer passará por um tsunami político, conforme auxiliares dele relataram à reportagem.

Esse caso envolvendo Cunha, Jucá, Calheiros e Sarney se baseia na delação premiada do ex-senador e ex-presidente da Transpetro, Sergio Machado, que gravou diálogos com alguns dos peemedebistas. A conversa com Jucá, na qual é sugerido um acordo para barrar a operação Lava Jato, resultou na demissão do senador do ministério do Planejamento.

Cunha pode ser réu de novo

Enquanto uma nova bomba contra os peemedebistas não estoura, nesta segunda-feira, o ministro Teori Zavascki, do STF, liberou para julgamento a segunda ação contra o deputado federal afastado Eduardo Cunha que é suspeito de abastecer contas bancárias na Suíça com recursos provenientes de corrupção na Petrobras.

O julgamento deve ocorrer no dia 23 de junho. Se a denúncia for aceita, Cunha se tornará réu em um segundo processo por corrupção. Nesta ação, o peemedebista é acusado de receber 5,2 milhões de reais de propina por intermediar para a Petrobras a compra de um campo de petróleo em Benin, no continente africano. Na quinta-feira, a mulher de Cunha, a jornalista Cláudia Cruz, tornou-se ré em um inquérito semelhante que está sob o cuidado da primeira instância da Justiça Federal no Paraná.

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