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Um desconhecido pode nos achar no Facebook usando uma foto nossa?

Experimento identifica usuários de rede russa por meio de imagens dos rostos Facebook diz não ser possível reproduzir o mesmo em sua rede social

Mark Zuckerberg, criador de Facebook.Foto: reuters_live | Vídeo: GETTY / ELPAÍS VÍDEO

Egor Tsvetkov é um jovem artista russo que fotografou durante meses desconhecidos no metrô. Utilizando um buscador especializado em rastrear rostos de usuários da rede social VK, uma das mais importantes na Rússia, conseguiu encontrar os perfis de algumas das pessoas que apareciam nas fotos tiradas. O título do experimento resume perfeitamente a conclusão a que o autor chegou: Your face is the big data (o seu rosto é a big data).

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A difusão da notícia sobre este projeto na mídia de todo o mundo teve um efeito inesperado: membros de um fórum russo se inspiraram na técnica adotada pelo artista para usá-la com uma finalidade muito mais perversa: cruzaram fotos de atrizes de cinema pornô com perfis nas redes sociais VK para descobrir a identidade real dessas mulheres e, o que é pior, divulgaram a informação.

Esse acontecimento nos põe diante da pista de como o reconhecimento de rostos unido ao acesso às grandes bases de dados das redes sociais abre novos caminhos para a prática do doxing, que não é outra coisa senão investigar alguém através da Internet para difundir informação sobre essa pessoa. É possível através de uma foto localizar a conta de alguém no Facebook? Fontes da empresa na explicaram a EL PAÍS que os desenvolvedores de aplicativos não têm acesso à imensa base de dados de imagens que seus servidores abrigam. Portanto, o experimento realizado na rede social russa não poderia se repetir no Facebook. De fato, a empresa norte-americana também retirou de circulação aplicativos que tentavam cotejar os rostos captados com a câmera do celular com os de sua base de dados. É o caso do Klik, um aplicativo que poderia identificar nossos contatos em qualquer foto se lhe fosse dado acesso a eles. O Facebook comprou a empresa e o app hoje não possui essa função.

O último salto tecnológico neste campo é o reconhecimento de caras em vídeos usando inteligência artificial

O mais parecido que existe na hora de localizar estranhos com que cruzamos é o aplicativo de encontros Happn. Ao instalá-lo, pede permissão para ter acesso à nossa conta do Facebook e mostrar parte de nosso perfil. Se também lhe damos permissão para saber onde nos encontramos, possibilita a conexão com outras pessoas que usam o aplicativo e o contato com elas quando passam perto de nós.

A gigantesca base de dados do Facebook, com imagens de 1,65 bilhão de usuários, se complementa com um potente sistema de reconhecimento de rostos. A tecnologia que o Facebook utiliza para saber automaticamente quem aparece em uma foto e classificá-lo é realmente muito avançada, pois, segundo a empresa, sua taxa de acerto é de 97,35%.

Embora o reconhecimento automático de rostos para classificação nas fotos possa ser desativado, essa função suscitou certa controvérsia e o Facebook teve que fornecer na época informações sobre sua tecnologia às autoridades europeias. O último salto tecnológico da rede social nesse campo é o reconhecimento de caras em vídeos usando inteligência artificial.

A empresa espanhola Emotion Research Labs dispõe de um sistema que permite conhecer as emoções de alguém a partir da análise de seu rosto. Alicia Mora, diretora-executiva dessa empresa, explicou a EL PAÍS em uma conversa telefônica que “a tecnologia do reconhecimento facial está muito avançada. Exceto na hora de conhecer a idade de alguém, embora seja possível saber o sexo da pessoa e suas emoções”.

Alicia Mora também conta que se essa tecnologia for aplicada a uma base de dados de rostos é possível realizar um matching, um emparelhamento de imagens que proporcione informação sobre as pessoas que aparecem nelas. Isso tudo apesar de o acesso às bases de dados de imagens não ser simples. A Emotion Research utiliza para melhorar sua tecnologia bases de dados criadas com fins científicos por universidades. Nelas aparecem rostos de pessoas que deram seu consentimento.

No entanto, existem tecnologias que utilizam outra classe de bases de dados, como é o caso do serviço de busca CreepShield, capaz de rastrear os rostos de 475.000 pessoas que aparecem em um registro de criminosos sexuais. Uma ferramenta que a empresa diz que pode ser útil para os serviços de encontros.

Esta tecnologia já permite saber o sexo de uma pessoa, assim como suas emoções em uma imagem determinada

Mas não só os rostos das pessoas são interessantes para as empresas que processam dados visuais do Big Data. Instagram e Twitter também se transformaram em dois bons lugares para saber as reações que certos produtos provocam. A empresa Ditto Labs, por exemplo, rastreia imagens em redes sociais para conhecer essa informação.

Definitivamente, hoje não é fácil qualquer pessoa saber nossa identidade simplesmente tirando uma foto nossa. O que não quer dizer que algumas empresas não sejam capazes de utilizar a informação proporcionada pelo nosso rosto em redes sociais, seja para saber o que sentimos quando estamos de férias em um determinado lugar ou quando estreamos sapatos novos.

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