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Afastamento de Eduardo Cunha traz alívio para o futuro Governo de Temer

Avaliação de especialistas é que vice se livra da pressão da opinião pública

Carla Jiménez
EFE

A saída de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) da Câmara dos Deputados, decidida nesta quinta por unanimidade no Supremo Tribunal Federal, pode ser um presente que cai no colo do vice-presidente Michel Temer (PMDB-SP). Se o Senado confirmar o impeachment da presidenta Dilma na próxima quarta-feira, dia 11, o vice assumirá sem o fardo de estar colado à figura indigesta de Cunha, aos olhos de boa parte dos brasileiros.

Pedro Floriano Ribeiro, doutor em ciência política, acredita que Cunha só sobreviveu até aqui pelo apoio que recebeu de Temer, como parte da manobra pelo impeachment. “Agora que Temer já conseguiu o que queria, se vê livre do constrangimento de ter que desfilar com Cunha – mais ou menos como aquela pessoa que deseja encontrar com a outra entre quatro paredes, mas que não quer passear no shopping ou na praça da cidade de mãos dadas no dia seguinte”, compara.

A análise da consultoria política Eurasia vai na mesma direção. “Se por um lado Cunha poderia trabalhar a favor de uma agenda legislativa de Temer, do ponto de vista da opinião pública ele poderia ser um risco para o vice-presidente.” Três em cada quatro brasileiros, segundo pesquisa do instituto Datafolha, queriam ver o presidente da Câmara fora do cargo em função das recorrentes denúncias de propina obtida pelo esquema da Petrobras. Notícias de seus gastos nababescos em viagens com sua família com dinheiro aparentemente ilícito revoltaram a população. Cunha conseguia ser o mais odiado entre os que apoiavam o impeachment e os que estavam contra a saída de Dilma. Na prática, avalia a Eurasia, o Supremo resolveu um sinuoso dilema para Temer pouco antes de sua jornada na presidência começar.

Com Cunha fora, Temer tem a chance, ainda, de rebater as acusações de que atua em conjunto com o presidente da Câmara, agora afastado. “Parte da retórica contra o impeachment mirava a aliança entre os dois, tendo Cunha como principal articulador do processo na Câmara”, afirma Floriano Ribeiro. O vice, desta forma, teria de encarar Cunha como uma espécie de primeiro-ministro no Legislativo. “Os opositores, começando pelo PT, reforçariam o argumento sobre a ilegitimidade da destituição da presidenta, e no fato de ter um ‘delinquente’ (nas palavras de Rodrigo Janot) como primeiro na linha sucessória”, completa o cientista político. “O timing do afastamento de Cunha foi o melhor possível para Temer e o pior possível para o Planalto”, conclui.

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Em inúmeras oportunidades, a presidenta Dilma vinculou o seu vice e Cunha a uma atuação sincronizada para derrubá-la. “É o chefe e o subchefe do golpe”, disse ela por diversas vezes.

Por outro lado, há uma certa preocupação de que a saída de Cunha estenda a atual instabilidade política, uma vez que Temer terá de trabalhar alianças para garantir um novo presidente na Casa alinhado com os projetos de Governo que terá de implementar. Havia uma certa expectativa de que com Cunha na liderança, uma lua de mel inicial com a Câmara estava garantida, depois do 'alívio' que foi a saída da presidenta – saída esta apoiada pela maioria da Casa.

Mas, em se tratando do hoje presidente afastado algumas dúvidas ficam no ar sobre esse futuro harmonioso. Sua obstinação por fazer valer suas ideias poderia se transformar numa fonte de desgaste para Temer. Numa entrevista ao jornal O Estado de São Paulo nesta segunda, Cunha afirmou que o atual vice poderia mandar medidas impopulares para a Câmara. “Mas se não houver acordo, terá enfrentamento todo dia. Foi o que este Governo fez”, disse ele. A colocação deixa em aberto algumas entrelinhas sobre quais medidas seriam essas, num momento em que Temer precisará aprovar projetos na linha de ajustar as contas públicas em pleno ano de eleições municipais.

Num momento em que o vice-presidente estudava nomes para seus ministérios, há ainda a pressão de Cunha para acomodar seus indicados. Um deles era Alexandre Moraes, atual secretário de Segurança do Estado de São Paulo, que estava sendo indicado para a pasta da Justiça. Considerado 'advogado informal' de Cunha, a eventual indicação pode ser uma fonte de constrangimento para Temer, uma vez que a Polícia Federal – que investiga o presidente afastado – está submetida ao ministério da Justiça. Agora, tem a oportunidade de driblar essas demandas.

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